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Lula e Mantega em evento do PAC: dobradinha entre lulismo e nova matriz macroeconômica quer mais uma chance. | es/pa/RICARDO STUCKERT
Lula e Mantega em evento do PAC: dobradinha entre lulismo e nova matriz macroeconômica quer mais uma chance.| Foto: es/pa/RICARDO STUCKERT

No momento em que o Brasil começa a sair da maior recessão da história, as teses econômicas aplicadas no país nos anos antes da crise ameaçam ser revividas. É na chamada “nova matriz macroeconômica” que o ex-presidente Lula foi buscar inspiração para um plano econômico a ser apresentado em sua possível candidatura – ameaçada, claro, pelo andamento das ações que pesam sobre ele na Justiça.

As conversas entre Lula e um grupo de economistas, a maioria com origem na Unicamp, foram descritas em uma reportagem do Valor que traz alguns detalhes do que pode aparecer em um plano de governo do PT para 2018. Estão lá coisas como a volta do subsídio ao crédito dos bancos públicos (BNDES, inclusive) e manutenção do déficit primário por mais tempo, sempre com o objetivo da volta do crescimento e do emprego.

A nova matriz foi defendida por egressos da Unicamp como Aloízio Mercadante, Luciano Coutinho e Marcio Pochmann, que fizeram parte do governo Lula, e foi liderada até o fim do primeiro governo Dilma pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega (egresso da FGV). O centro dessa linha de pensamento é a atuação do Estado como condutor do desenvolvimento combinada com uma estratégia de câmbio desvalorizado, estímulos setoriais, juros baixos (o que inviabiliza uma independência do Banco Central) e controles de preços.

Na prática, a nova matriz foi a teoria econômica que deu base para algumas das trapalhadas que levaram o país à atual recessão. A narrativa das conversas entre Lula e os desenvolvimentistas é o retorno a um passado que parecia superado, mas talvez seja a única alternativa para o lulismo argumentar em uma eleição que provavelmente vai acontecer com a economia crescendo entre 2% e 3%. É preciso oferecer mais e a nova matriz é pródiga em promessas.

O problema é que não funciona. Como descobrimos nos últimos anos, o crédito subsidiado cria uma conta para a União pagar e pesa no orçamento – há subsídios do BNDES que serão pagos pelo governo até a metade deste século. A interferência em preços desestabiliza mercados e corrói empresas. A Petrobras, além de perder com a corrupção, foi usada pelo governo Dilma para manter a inflação na meta e, com isso, permitir uma taxa de juros mais baixa do que a necessária. Estão aí os componentes da nova matriz: juros baixos, crédito subsidiado, meta de inflação na marca do escanteio e intervenção nos preços.

A escola desenvolvimentista tem, no entanto, seus atrativos eleitorais. Fala em gerar empregos com os gastos públicos maiores (seja com apoio para o crédito, seja com gasto direto e os déficits que vêm em consequência). Tem uma visão protecionista, fala em retomar a indústria nacional e usar o gasto público para fazer o país gerar sua própria tecnologia.

Casada com a descoberta do pré-sal, essa visão econômica levou ao fechamento do mercado, obrigou a Petrobras a ser operadora de todos os blocos e criou custos extras com as exigências de conteúdo nacional, para ficar em um exemplo prático. O apoio à indústria automotiva criou um custo bilionário que foi recompensado com a ampliação de um parque industrial inchado, pouco competitivo e que ficará com ociosidade alta por anos.

O debate sobre o que o Brasil precisa fazer para crescer de forma contínua e acelerada ainda está aberto. Só que a resposta não está no que deu errado. Precisamos ganhar produtividade, aumentar a inovação e a competitividade. Temos o desafio de educar trabalhadores, estimular empreendedores e tornar a economia mais aberta. Em nenhuma dessas frentes vai ajudar retomar a velha nova matriz.

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