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Em alguns casos, porcentuais de contratos rescindidos ultrapassa os 50% | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Em alguns casos, porcentuais de contratos rescindidos ultrapassa os 50%| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Inflação contribuiu para devoluções

O ano difícil para a economia nacional, com inflação alta e baixo crescimento, é apontado pelos especialistas como um dos fatores que motivaram os compradores a devolverem imóveis já negociados com as construtoras. O economista Samy Dana explica que o período de alta inflacionária pode ter levado as pessoas a saírem do orçamento, fazendo com que não conseguissem cumprir os compromissos financeiros. "As pessoas estão pagando mais pelo arroz e feijão, com isso sobra menos dinheiro para pagar a prestação. Há cinco anos [período a partir do qual boa parte dos imóveis que estão sendo entregues começaram a ser vendidos] poucas pessoas poderiam prever que a situação estaria assim", avalia.

O maior rigor dos bancos para a liberação dos financiamentos é outro ponto que favorece as rescisões. Bruno Oliva, economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), diz que a mesma incerteza em relação à dinâmica econômica que recai sobre o comprador na hora de decidir pelo parcelamento atinge as instituições financeiras, que ficaram mais seletivas na oferta do crédito. "Este é o caso das pessoas que estavam pagando o parcelamento para a construtora, mas tiveram o financiamento negado no momento de repassar a dívida para o banco e precisaram rescindir os contratos", acrescenta Dana.

Valorização lenta

O ritmo mais lento da valorização dos imóveis, comparado aos anos anteriores, também tem influência sobre os distratos. Oliva explica que o reflexo dos contratos feitos há alguns anos, com os preços subindo a níveis elevados, pode ter feito com que a expectativa de quem fechou negócio sobre a valorização dos imóveis fosse maior do que a que ocorreu. "Esse anseio pode não ter se verificado no momento da quitação, o que estimula a rescisão do contrato", acrescenta.

A acomodação pela qual passa o mercado imobiliário e o cenário difícil da economia nacional trouxeram mais uma preocupação para a rotina das construtoras. Depois de um período em que ficou difícil vender, que em nada lembra o ritmo desenfreado dos anos anteriores, as empresas precisam lidar com um mercado que está devolvendo imóveis negociados.

INFOGRÁFICO: Veja o percentual de distratos no acumulado do ano

Os balanços das construtoras até o terceiro trimestre deste ano mostram que o volume de distratos no país vem crescendo em grande parte delas, com porcentuais que ultrapassam os 50%, em alguns casos. Isso tem reflexos sobre os valores represados em estoque e nas estratégias para readequar ou adiar os novos lançamentos e agilizar a revenda das unidades devolvidas. Para o consumidor, este é um momento de maior poder de negociação e de aproveitar as promoções que as empresas vêm realizando.

"Os distratos têm uma participação, mas não são o único fator para as promoções. Se a construtora rescinde um contrato, precisa colocar a unidade novamente no mercado e, às vezes, o preço diferenciado acaba acontecendo", diz o presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR), Gustavo Selig.

Entre as empresas analisadas, a construtora Rossi é a que apresenta as maiores taxas de rescisão de contratos em 2014. No comparativo com o terceiro trimestre de 2013, o crescimento no período foi de 76% no volume de contratos desfeitos, que passaram de R$ 176 milhões para R$ 311 milhões. No acumulado dos primeiros nove meses do ano, o índice aumentou 60%, com a soma dos valores distratados chegando aos R$ 752 milhões.

No caso da MRV Engenharia, outra empresa de capital aberto, a alta nos distratos foi de 32,9% no acumulado dos primeiros nove meses de 2014, passando de R$ 791 milhões para R$ 1 bilhão no comparativo com o ano passado. "Estamos com um projeto novo, o Venda Simultânea, para reduzir os porcentuais de distratos. Antes da assinatura do contrato de compra e venda, fazemos a análise do cliente junto ao banco para garantir que ele terá condições de fazer o financiamento", conta Marcelo Alves, gestor executivo de vendas da regional Sul da MRV.

Trimestre

Marcado por um cenário econômico que sofreu o impacto da Copa do Mundo e as eleições, o terceiro trimestre foi de aumento no porcentual de distratos mesmo para algumas empresas que conseguiram reduzir a margem no acumulado do ano.

A Gafisa, por exemplo, teve decréscimo de 12% no volume de contratos desfeitos nos primeiros nove meses de 2014, mas viu dobrar o número de rescisões terceiro trimestre do ano.

Por outro lado, na contramão da maioria das construtoras, a PDG conseguiu reduzir seus distratos em mais de 50% no acumulado do ano, passando de R$ 1,1 bilhão em 2013 para R$ 522 milhões em 2014. No comparativo do terceiro trimestre com o mesmo período do ano anterior a redução foi ainda mais significativa e atingiu os 81%.

Futuro

Analistas e setor se dividem sobre cenário para 2015

Os rumos que a economia do país irá tomar no próximo ano devem ter reflexos diretos sobre o mercado imobiliário como um todo. Bruno Oliva, economista da Fipe, diz que se a economia voltar a aquecer, a situação não será calamitosa. Mas, mesmo assim, o mercado não deve reviver os números dos últimos anos. "Os sinais vindos do governo federal ainda são dúbios. Não sabemos o que a equipe econômica vai fazer, nem se terá liberdade para isso", diz.

Na avaliação do economista Samy Dana, o mercado imobiliário de 2015 deve ser uma réplica do vivido neste ano, com muitos descontos, vendas em baixa e ajustes suaves no preço dos imóveis. "Se bater o desemprego, o que pode acontecer, os distratos irão aumentar bastante, pois as pessoas não terão mais condições de pagar os financiamentos", acrescenta.

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