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| Foto: ALI ASAEI/NYT

Um grupo de profissionais de tecnologia do Vale do Silício que foram os primeiros funcionários do Facebook e do Google está se unindo para desafiar as empresas que ajudaram a construir, preocupados com os efeitos negativos das redes sociais e smartphones.

O grupo está juntando especialistas que partilham a mesma preocupação em uma organização chamada Center for Humane Technology. Em parceria com o Common Sense Media, uma organização sem fins lucrativos que fiscaliza a mídia, também planeja fazer lobby antitecnologia e lançar uma campanha publicitária em 55 mil escolas públicas nos Estados Unidos.

A campanha, intitulada The Truth About Tech (“A Verdade Sobre a Tecnologia”, em tradução livre), terá um custo de US$ 7 milhões, financiados pelo Common Sense e pelo Center for Humane Technology. O Common Sense obteve ainda US$ 50 milhões em compra de espaço e tempo de TV de parceiros, incluindo a Comcast e a DirecTV. O objetivo é educar alunos, pais e professores sobre os perigos da tecnologia, incluindo a depressão que pode resultar do uso intensivo das redes sociais.

“Estávamos do lado de dentro. Sabemos o que as empresas medem. Sabemos como eles falam, e sabemos como funciona a engenharia”, disse Tristan Harris, ex-funcionário do Google encarregado de questões éticas e que lidera o novo grupo.

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O efeito da tecnologia, especialmente em mentes jovens, tem sido muito debatido nos últimos meses. Em janeiro, dois grandes investidores de Wall Street pediram à Apple que estudasse os efeitos de seus produtos sobre a saúde e criasse formas de facilitar a limitação do uso de iPhones e iPads pelas crianças. Pediatras e especialistas em saúde mental pediram no início de fevereiro que o Facebook abandonasse um serviço de mensagens que a empresa havia criado para crianças de até seis anos, o Messenger Kids. Grupos de pais também se preocupam com o YouTube Kids, um produto destinado a crianças que às vezes apresenta conteúdo perturbador.

“Os maiores supercomputadores do mundo estão dentro de duas empresas — Google e Facebook — e para onde estão apontados? Estão apontados para o cérebro das pessoas, para crianças”, disse Harris.

Por anos, os executivos do Vale do Silício mostravam que suas empresas eram como famílias muito unidas e raramente reclamavam uns dos outros em público. Isso mudou. Chamath Palihapitiya, capitalista de risco que foi funcionário do Facebook no começo da empresa disse em novembro que a rede social estava “rasgando o tecido social do funcionamento da sociedade”.

O novo Center for Humane Technology inclui uma aliança sem precedentes de ex-funcionários de algumas das maiores empresas de tecnologia da atualidade. Além de Harris, o centro inclui Sandy Parakilas, ex-gerente de operações do Facebook; Lynn Fox, ex-executiva de comunicações da Apple e do Google; Dave Morin, ex-executivo do Facebook; Justin Rosenstein, que criou o botão “Curtir” do Facebook e é cofundador da Asana; Roger McNamee, um dos primeiros investidores no Facebook; e Renée DiResta, tecnológa que estuda bots.

O grupo espera que seus números cresçam. Seu primeiro projeto para transformar a indústria será o lançamento de um registro de danos — um site que irá orientar engenheiros que estão preocupados com o que está sendo pedido que construam. O site incluirá dados sobre os efeitos de diferentes tecnologias sobre a saúde e formas de tornar os produtos mais saudáveis.

Jim Steyer, executivo-chefe e fundador da Common Sense, disse que a campanha The Truth About Tech foi inspirada em anúncios antitabagismo e foca em crianças devido à sua vulnerabilidade. Isso pode influenciar os executivos-chefes da indústria da tecnologia a mudar, disse ele. O da Apple, Tim Cook, disse ao jornal The Guardian em janeiro que não deixa seu sobrinho usar as redes sociais; e Sean Parker, investidor do Facebook, também disse recentemente que “só Deus sabe o que [a rede social] está fazendo aos cérebros dos nossos filhos”.

Steyer disse que “dá pra ver um grau de hipocrisia nesses caras do Vale do Silício”.

O novo grupo planeja ainda fazer lobby por leis que restrinjam o poder das grandes empresas de tecnologia. Inicialmente, irá se concentrar em dois projetos de lei: um que será apresentado pelo senador democrata Edward J. Markey, de Massachusetts, para encomendar pesquisas sobre o impacto da tecnologia na saúde das crianças e outro na Califórnia, do senador democrata Bob Hertzberg, que proibir o uso de bots digitais sem identificação.

McNamee conta que se juntou ao Center for Humane Technology porque ficou horrorizado com o que ajudou a criar como investidor do Facebook. “O Facebook apela para o seu cérebro primordial — principalmente para o medo e raiva. E com smartphones, eles te dominam o tempo todo.”

Ele disse que as pessoas que fazem esses produtos poderiam pará-los antes que causassem mais danos. “Esta é uma oportunidade para eu corrigir um erro”, disse McNamee.


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