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O iPhone 6s trouxe o recurso 3D Touch como grande novidade. | Apple/Divulgação
O iPhone 6s trouxe o recurso 3D Touch como grande novidade.| Foto: Apple/Divulgação

Não é difícil encontrar usuários de iPhone convictos de que a Apple pratica obsolescência programada, ou seja, que a empresa deliberadamente piora o desempenho de modelos antigos para forçá-los a adquirirem um novo. Nesta semana, a Apple confirmou que, sim, reduz o desempenho de alguns modelos de iPhone, mas não como parte de um plano para vender inflar as vendas. O motivo seria impedir que a degradação natural que as baterias sofrem com o uso cause desligamentos inesperados.

As suspeitas surgiram no Reddit, uma rede social norte-americana. Um dos participantes notou que, após trocar a bateria de um iPhone 6 Plus, modelo lançado no final de 2014, o desempenho dele melhorou notavelmente.

Em seguida, John Poole, fundador da Primate Labs, empresa que desenvolve um aplicativo que testa o desempenho de smartphones e tablets, o Geekbench, compilou alguns dados interessantes a respeito relacionados ao iPhone 6s (2015) e ao iPhone 7 (2016) rodando diferentes versões do iOS.

Poole descobriu que, a partir da versão 10.2.1, a nota atribuída pelo Geekbench para o desempenho de cada núcleo do processador do modelos iPhone 6s passou a variar. Antes, o pico ficava todo concentrado perto dos 2500 pontos; depois dessa atualização, ele foi diluído em outros pontos. Veja no gráfico abaixo:

Gráficos do iPhone 6s no Geekbench.
Geekbench/Reprodução

No caso do iPhone 7, o comportamento começou na versão 11.2.0, lançada recentemente:

Gráficos do iPhone 7 no Geekbench.
Geekbench/Reprodução

No Reddit, alguns usuários comentaram que esse comportamento pudesse ter relação com casos de iPhone 6s que desligavam repentinamente, situação que motivou um recall de baterias em novembro de 2016. Na prática, reduzir o desempenho do processador evitaria que o aparelho desligasse mesmo quando o indicador de bateria estivesse longe de zerar.

Questionada pelo blog TechCrunch, a Apple confirmou que, em 2016, lançou um novo recurso para os modelos 6, 6s e SE a fim de reduzir desligamentos inesperados e equilibrar a relação desempenho e autonomia da bateria. O comunicado, na íntegra:

"Nosso objetivo é entregar a melhor experiência aos consumidores, o que inclui desempenho geral e o prolongamento da vida útil dos seus dispositivos. As baterias de íons de lítio perdem capacidade de atender as demandas por picos de corrente em baixas temperaturas, quando a bateria está com pouca carga ou na medida em que elas envelhecem, o que pode resultar em desligamentos inesperados do dispositivo para proteger seus componentes eletrônicos.

Ano passado, lançamos um recurso para o iPhone 6, iPhone 6s e iPhone SE a fim de suavizar os picos instantâneos apenas para evitar que o dispositivo desligasse inesperadamente nessas condições. Agora, estendemos esse recurso para o iPhone 7 com o iOS 11.2, e planejamos incluir outros produtos no futuro."

Há duas questões importantes nessa revelação.

Primeiro, não é algo determinístico, ou seja, não é uma certeza de que todo iPhone com algum tempo de uso tem seu desempenho reduzido. A reportagem conduziu alguns testes com um iPhone 6s com dois anos de uso, com iOS 11.2.1 e bateria com 670 ciclos de recarga e, nesse modelo, não houve variação em relação à média do Geekbench.

Resultados de um iPhone 6s com dois anos de uso no Geekbench.

A outra questão é que a abordagem da Apple para atacar o problema foi ruim. Não importa que a intenção tenha sido das melhores, nem que, tecnicamente, a explicação faça sentido. Trata-se de um problema de comunicação e confiança. Faltou transparência à Apple em uma questão sensível, que sempre gerou teorias conspiratórias e desconfianças por parte dos próprios consumidores da marca.

Pelo Twitter, o desenvolvedor Marco Arment argumentou que "por anos, garantimos às pessoas que a Apple não fazia isso, não deixava o iPhone mais lento na surdina para forçá-las a comprar outro. (…) O dano à reputação de reduzir o desempenho de iPhones antigos secretamente, independentemente do motivo, será sentido por uma década".

Entre analistas e entusiastas da marca, a maioria concorda que a Apple deveria informar os consumidores quando habilitasse esse comportamento em seus dispositivos. Conhecer o problema daria a eles a alternativa de simplesmente trocar a bateria por uma nova — processo que não é trivial nem barato, mas mais em conta que comprar um iPhone novo e que não dá margem à narrativa de obsolescência programada.

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