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Não se assuste, mas a probabilidade de você ter usado um outro buscador na internet que não o Google – Bing (da Microsoft) ou Yahoo, por exemplo –é quase a mesma de ter algum grau de sonambulismo. Menos de 4% das buscas na internet brasileira não são feitas pela ferramenta da Alphabet, segundo a empresa da análises StatCounter. Não é lá muito diferente do Facebook, que domina o segmento das redes sociais com seus mais de 1 bilhão de usuários ativos mensalmente –número bem superior aos cerca de 300 milhões do Twitter. Embora sonambulismo e tecnologia pouco tenham a ver, números assim têm tirado o sono de gente como o escritor norte-americano Jonathan Taplin, que crava: as gigantes da tecnologia são um monopólio. E isso precisa ser freado.

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Taplin, autor do livro “Move Fast and Break Things: How Google, Facebook and Amazon Comered Culture and Undermined Democracy” (Aja rápido e quebre as coisas: como Google, Facebook e Amazon encurralaram a cultura e minaram a democracia, em tradução livre), é uma das vozes mais ativas na discussão sobre o domínio de grandes empresas de tecnologia. Faz sentido em um cenário onde “Google tem 88% de participação no mercado de publicidade vinculada a buscas, o Facebook (e suas subsidiárias Instagram, WhatsApp e Messenger) tem 77% do tráfego nas redes sociais e a Amazon, 74% do mercado de e-books”, como escreveu em artigo para o The New York Times. São números do mercado norte-americano, mas um termômetro para o resto do mundo ocidental. “Teremos que decidir em breve se são monopólios naturais que precisam ser regulamentados ou se permitiremos que as coisas fiquem como estão, fingindo que não causam dano a nossa privacidade e democracia”, aponta.

“Não é um debate novo e há pelo menos cinco anos se fala sobre o poder dominante destas plataformas. Mas o crescimento avassalador destas empresas trouxe um sentido de urgência”, avalia o economista Otávio Hidashi, da Hisashi Asociados. Um relatório publicado na última semana pela empresa de pesquisas norte-americana Zenith aponta que somente Alphabet (empresa detentora do Google) e Facebook faturam 20% de tudo aquilo gasto em publicidade, seja lá qual for o meio. A curca é ascendente. “É impossível negar que Facebook, Google e Amazon bloquearam a inovação em larga escala. Enquanto os lucros delas dispararam, o faturamento de negócios de mídia, como jornais e música, caíram em 70% de 2000 para cá. Mais da metade dos trabalhadores do setor de jornais foi demitida, entre 2001 e 2016”, eis o danos citados por Taplin. “É hora de regular ou ‘quebrar’ estas empresas?”, ele questiona (mais concluindo, para bem da verdade).

As respostas são à la atletiba. Um entusiasta da ideia, Ryan Cooper, jornalista especialista em tecnologia da revista The Week, defende que o Google, por exemplo, é uma ferramenta não “muito melhor do que o Yahoo ou o Bing”. “O resultado aqui é que tanto a dominação esmagadora de busca do Google quanto sua lucrativa exploração são quase totalmente sem merecimento”, critica. É fruto da “sorte”.

Hidashi discorda. “A questão é se estas empresas realmente estão explorando este suposto monopólio, exercendo um domínio de mercado. Teve aumento de preços por serem as únicas formas de anúncio? Não vejo assim”, diz. Uma posição semelhante a da revista “Forbes”, que criticou duramente o texto de Taplin. “Se algo vira um monopólio natural via eficiência, não nos importa. O que interessa é a eficiência econômica. Estamos muito bem com alguém dominando o mercado através dessa eficiência. Porque, claro, isso enriquece todo mundo. ‘Quebrar’ alguém porque ele é muito eficiente é uma loucura”, publicou a revista.

O fato é que nem precisa jogar no Google para perceber que a tecnologia é bem mais veloz do que a legislação. Uma solução plausível pode ainda nem existir na boa conduta ‘antitrust’. “A vantagem das gigantes é a quantidade enorme de dados que elas têm sobre seus usuários. É esse o ponto que precisa ser mudado” defendeu recentemente o especialista em economia da informação e professor da Universidade de Boston Marshall Van Alstyne à revista Exame. “Leis podem permitir que as grandes empresas lucrem por um certo tempo com os dados que coletaram. Mas esses dados receberiam a mesma proteção das patentes, que têm data para acabar”, sugere.

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