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Geddel Vieira Lima fala ao telefone | MARCELO CAMARGO
AGÊNCIA BRASIL
Geddel Vieira Lima fala ao telefone| Foto: MARCELO CAMARGO AGÊNCIA BRASIL

Nos últimos anos, políticos de todo o espectro ideológico e partido atuante no Brasil passaram a se preocupar com grampos e outras formas de monitoramento de comunicações. Geddel Vieira Lima (PMDB), ex-ministro da secretaria de governo de Michel Temer, é um deles. Segundo nota de Gabriel Mascarenhas, da Veja, ele só se comunicaria com Raquel Pitta, esposa de Lucio Funaro, por ligações no WhatsApp a fim de evitar grampos. Essa estratégia funciona?

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Funciona em parte, segundo Thiago Marques, pesquisador da Kaspersky, empresa especializada em segurança digital. Marques diz que a criptografia de ponta a ponta, presente no WhatsApp desde abril de 2016, garante que a conversa não seja interceptada de maneira compreensível enquanto duas pessoas conversam. Não há registro de que a criptografia do WhatsApp tenha sido quebrada até agora.

Ouça o podcast sobre o assunto, com a participação de Marques:

Este, porém, não é o único vetor capaz de vazar conversas. Marques explica que se um dos celulares usados na ligação estiver comprometido, o conteúdo dela pode ser capturado por um terceiro. Mas é preciso infectar o aparelho com antecedência. Esse tipo de brecha permite monitorar não só ligações, mas todo o conteúdo que passa pelo celular como fotos, mensagens de texto e até a navegação web.

Infecções desse tipo podem se dar tanto com acesso físico ao celular-alvo, quanto por códigos desenvolvidos para atuação remota. Uma mensagem SMS, MMS ou até mesmo um site preparado pode ser usado. Os interessados nesse tipo de invasão podem recorrer a falhas do tipo “zero day”, ou seja, aquelas desconhecidas da desenvolvedora do software (no caso, do sistema operacional ou do WhatsApp) e que são vendidas no mercado alternativo por quantias enormes.

E, claro, é preciso que haja confiança de que o interlocutor não tenha segundas intenções ao marcar uma conversa. Ações simples e rudimentares, como ativar o viva voz na chamada e usar um gravador externo para capturar o conteúdo da conversa, são eficazes.

Marques ressalta que, embora o conteúdo das conversas (por texto e voz) do WhatsApp seja criptografado de ponta a ponta, os meta dados, ou seja, informações como contatos com quem o usuário se comunicou, horários e locais onde ele esteve, não são. Uma alteração nos termos de uso do WhatsApp, no segundo semestre de 2016, permitiu que o Facebook usasse tais meta dados para sugerir amigos e direcionar anúncios. Se exigido pelas autoridades, a empresa também poderia fornecê-los em uma investigação judicial – e essas correlações podem revelar bastante dos hábitos de alguém.

Políticos e as tecnologias de comunicação

Signal, app que criptografa de ponta a ponta conversas e meta dados
Signal Divulgação

Não existe solução 100% segura, mas algumas são mais que outras. O WhatsApp está acima da média por ser criptografado de ponta a ponta por padrão. Outros apps do gênero populares, como Telegram, Facebook Messenger e Google Allo, não o são. Entre os que tomam esse cuidado, sobram além do WhatsApp apenas o iMessage (da Apple) e o Signal, dos desenvolvedores responsáveis pelo protocolo de criptografia usado no WhatsApp.

Já faz algum tempo que os políticos estão apreensivos com a possibilidade de terem suas conversas grampeadas. Recentemente, o presidente Michel Temer instalou um “misturador de voz” em seu gabinete, equipamento que torna incompreensíveis as conversas gravadas no local.

No começo de 2016, a moda em Brasília era o app Telegram, que, embora não criptografado de ponta a ponta por padrão, oferece uma opção chamada “Chat Secreto” que protege melhor as mensagens com opções como desativar o encaminhamento, timer de “destruição” de mensagens e, no Android, impossibilidade de tirar prints.

O Snapchat, que surgiu como um app para a troca de mensagens efêmeras, que se apagam após serem vistas, inspirou o Confide, startup de Nova York que levantou US$ 1,9 milhão em capital de risco para levar essa ideia ao ambiente corporativo. Os norte-americanos só não contavam com a sagacidade de algumas figuras brasileiras.

Segundo o site O Antagonista, quando tentou marcar um segundo encontro com Temer, Joesley Batista teria usado o Confide para conversar com o deputado Rodrigo Rocha Loures, braço direito do presidente. Ante a impossibilidade de registrar o contato pelos meios convencionais, Batista pegou outra câmera e filmou a troca de mensagens pelo app que, teoricamente, não deixaria rastros da conversa.

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