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| Foto: P. Horálek/Eso

Existe um jeito de descobrir se alguém é rico sem precisar dar uma espiadinha no pulso em busca de um Rolex: pergunte se ele tem o nomezinho gravado em um dos 150 mil satélites orbitando a Terra. Ok, o número parece banalizar, mas para cada um deles chegar e se manter lá, foi uma bela fortuna. É mimo de gente com “bala na agulha”, como companhias gigantes (vide o Google) e governos. Ou era. Em fevereiro a Índia lançou 104 em uma única tacada. Quebrou um recorde. Mais: mostrou que um futuro de satélites mais baratos e ao alcance de muito mais gente está bem perto. É como sair por aí distribuindo Rolex.

Cinco pontos para entender os satélites

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A ousadia da Organização Indiana de Pesquisa Espacial (ISRO, na siga em inglês), exemplifica um futuro imaginado pelo alemão Carsten Stöcker, ph.D. em Física e consultor de inovação do Fórum Econômico Mundial. Em artigo publicado no Medium neste mês, ele dispara que uma nova fronteira da economia compartilhada está prestes a se romper graças a uma série de fatores: novas startups na corrida espacial, lançamentos mais baratos de satélites e tecnologia em transações financeiras. “Nos últimos 30 anos, a explosão dos dispositivos mais baratos de computação e a criação da internet levaram a fundação da economia digital de hoje. Uma infraestrutura similar para a economia compartilhada no espaço está sendo criada diante de nossos olhos”, defendeu.

Nas palavras do físico, isso terminará em pequenas e médias empresas e organizações se beneficiando desta nova constelação de satélites. Uma transportadora de cargas poderá ter dados mais apurados de tráfego ou condições climáticas, permitindo que reloque sua frota em tempo real se algo for atrasar o traslado; um agricultor poderá medir os níveis de água, estado do solo e condições de plantio para racionalizar o uso de fertilizantes; uma ONG ou agentes de fiscalização poderão rastrear com mais eficiência pesca ou desmatamento ilegais; ou você poderá fazer imagens espaciais do seu jardim, se assim quiser.

“É um nível de informação muito maior e mais detalhado em relação ao que o Google te oferece hoje”, aposta o engenheiro aeroespacial aposentado Henrique Perilles. “Aplique aí muita inteligência artificial e poder de processamento para analisar todo esse conjunto de dados e se tem um aliado do dia a dia”, diz.

O caminho que está se pavimentando. O mercado global de nano e microssatélites – aparelhos com dimensões que não passam os poucos metros e pesam no máximo alguns poucos quilos – espera movimentar US$ 3 bilhões nos próximos três anos. Em março, uma startup norte-americana de lançadores de pequenos satélites, a Rocket Lab, recebeu um investimento de US$ 75 milhões, chegando ao valor de mercado de US$ 1 bilhão – sem sequer ter feito seu primeiro lançamento. O investidor, apurou o site Quartz, é a Data Collective (DCVC), que também injetou dinheiro na Planet, empresa norte-americana que opera boa parte dos satélites lançados na Índia. “Uma outra startup, a SpaceKnow, levantou recentemente US$ 4 milhões com seu serviço de análise de imagens via satélite”, relembra Perilles. Por aí vai...

E tem mais: a mesma tecnologia que garante a segurança das moedas digitais, o blockchain, pode mudar o patamar deste jogo. Em um futuro não distante, satélites praticamente autônomos poderão estar a sua disposição. Em vez de pagar uma assinatura para o uso, você pode pagará simplesmente por uma imagem ou algum serviço específico (mais ou menos como o ato de pagar uma conta com bitcoin). “Vai ser bem mais fácil de confiar, dividir e vender serviços que surgirão desta infraestrutura de comunicação”, escreveu Stöcker, no Medium. É uma “confluência de tecnologias”, diz, algo que vai deixar o céu um pouco mais perto dos outros “outros 7 bilhões de moradores da Terra” que não trabalham no Google.

Cinco pontos para entender os satélites

1) Pertinho: os nano e microssatélites custam menos porque são mais leves e pequenos, portando mais fáceis de lançar (além da possibilidade de lançar pequenas constelações). Eles são posicionados em um ponto chamado órbita terrestre baixa, altura de até 2 mil quilômetros.

2 ) Outras alturas: os satélites maiores, com vários metros de extensão e pesando toneladas, ficam a mais de 34 mil quilômetros. Os de GPS, a 20 mil quilômetros. A essa altura, eles conseguem varrer uma área muito maior. Só que precisam também de câmeras e componentes mais potentes (por isso seu tamanho e custo).

3) Mercado em crescimento: os primeiros satélites de pequeno porte só começaram a ser usados para fins comerciais em 2012. Neste ano, segundo o Instituto de Tecnologia de Massachusetts ( MIT), vão superar e muito aqueles usados para fins militares, governamentais ou de grandes indústrias.

4) Qualidade: além de mercado, os satélites pequenos estão ganhando qualidade. Os lançados pela Planet, por exemplo, são capazes de registrar 2,5 milhões de quilômetros quadrados.

5) Grandes e baratos: mesmo o custo de lançar um grande satélite tem expectativa de cair. Quem está à frente, neste quesito, é a SpaceX, do bilionário Elon Musk. A startup tem tido sucesso em recuperar o primeiro estágio de seu foguete Falcon 9, ou seja, tornar o lançador reutilizável. Com isso, o custo de lançamento pode cair 30%.

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