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O smartphone causou disrupções (para ficar num jargão muito comum no meio) em incontáveis áreas. Até nos relacionamentos pessoais a tecnologia de consumo, na forma de apps como Tinder e Happn, o aparelho mudou as dinâmicas de comportamento. Agora, dois brasileiros acreditam que podem mudar ainda mais esse cenário. De que forma? Com outro app, ora: o Pidium.

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Se você pesquisar por “Pidium” no Google Play, terá como resultado um app chamado “Bate-Papo e Conhecer Pessoas”. Não estranhe: é o app correto, algo que se nota pelo nome do desenvolvedor, em menor destaque na página de apresentação.

Antonio Haddad, 28, um dos criadores do Pidium, explica que isso faz parte da estratégia de posicionamento do app. “O Pidium está bem posicionado lá. Nossos usuários nos encontram facilmente”, disse em conversa por telefone.

Jogar as palavras-chaves da finalidade do app no nome do mesmo, afinal, surte algum efeito, o que se nota pela indicação, do próprio Google, de que o número de downloads do app está entre 100 e 500 mil.

Haddad especifica o número, informando que o Pidium já passou dos 300 mil downloads. Questionado sobre a quantidade de usuários que usam o app mensalmente, a métrica mais importante para investidores de empresas de redes sociais listadas, o executivo diz não poder relevar o dado.

De rede social a app de paquera

O Pidium é um app… curioso. Lançado em 2014, ele passou por uma grande reformulação em 2017 e, nessa, mudou o foco e perdeu, temporariamente, o suporte ao iPhone. “Vamos desenvolver no iOS, mas está dando certo no Android. Vamos terminar de desenvolver lá, que é prioridade, para depois expandir para outras plataformas”, disse Haddad. 

Hoje, o Pidium é um “app de paquera”, nas palavras do empreendedor, com foco nas classes C, D e E. “A gente assumiu que é um app de paquera e abandonou todo o aspecto de rede social”. A diferença, diz, é que o Pidium hoje dispensa elementos típicos de redes como o Facebook. Páginas de fãs e empresas, por exemplo, não têm espaço lá dentro.

Ironicamente, quando comparado a apps do gênero, como Tinder e Happn, o Pidium apresenta mais camadas de complexidade. Parece incoerente, mas essas camadas extras ajudam a fomentar mais encontros virtuais entre as pessoas que estão lá dentro — que é meio o ponto da coisa toda — através de espaços públicos, como grupos de bate-papo.

Alguém disse, certa vez, que “todo app é um app de paquera se você for esquisito o bastante”. O Pidium incorpora isso e não tenta disfarçar. Ele funciona? Haddad garante que sim, e para ilustrar a eficiência dele, lembra a história de uma estrangeira que, em visita ao Brasil, baixou o app, e em questão de dias conheceu um rapaz, primeiro pelo app, depois pessoalmente. Poucas semanas mais tarde, ele se mudou para morar com ela.

Esquisito. Mas o importante é ser feliz, certo?

Os diferenciais do Pidium

Como disputar com gigantes como a IAC, empresa dona dos apps Tinder, OkCupid e Match.com? Haddad diz que “não olha muito para os concorrentes porque eles começam com altos investimentos; não dá para comparar com a nossa realidade”. Ele classifica como “até covarde” a estratégia de ter vários serviços similares, com leves diferenças (o IAC tem até um para casais cristãos, o Divino Amor). O britânico Badoo e o francês Happn são apontados como outros concorrentes fortes e melhor financiados.

Para Haddad, o Pidium se distingue de todos eles em três aspectos:

1. Gratuidade. Todas as funções são gratuitas e o empreendedor garante que jamais cobrará por nada.

2. Promessas. As feitas pelo Pidium são cumpridas. “O usuário, quando entra no app, tem uma interação quase imediata”, afirma.

3. Publicidade. “O app é limpo, não tem spam, anúncios em vídeo”.

Sendo gratuito e livre de publicidade, como o Pidium fará dinheiro? Com publicidade. Mas uma “inteligente”, ressalta, “que não atrapalhe o usuário; que ele consiga usar o app e que apareçam coisas interessantes e úteis”. A conferir num futuro próximo.

Como funciona?

Instalei o app para ver qual é a do Pidium. De cara, agrada a opção de login desvinculado do Facebook, o que, segundo Haddad, foi uma exigência dos usuários que eles perceberam e rapidamente implementaram. “Muita gente ficava irritada”, relembra, com o fato do app originalmente oferecer apenas o Facebook como opção de login.

Após o cadastro, que é simples e só pede nome, e-mail e orientação sexual, o Pidium faz algumas perguntas para determinar os interesses do usuário. A interface é bem simples e usa imagens ilustrativas sem qualquer padrão, quase cômicas, que, funcionem ou não, podem fazer o esperançoso solteiro que instalou o app após pesquisar por “conhecer pessoas” no Google Play se questionar sobre o que está fazendo com a sua vida.

Configuração inicial feita, a tela inicial do app, após o login, aparece dividida em três partes: “Mural”, com fotos e publicações de todo mundo; “Galera”, que mostra perfis de outras pessoas ao redor (e, incompreensivelmente, é representada pelo ícone de um bovino); e “Bate-papo”, que reúne chats privados e salas públicas com pessoas fisicamente próximas, os “chats bombando perto de mim”.

O mural, aparentemente, reúne fotos públicas de participantes do gênero pretendido indicado na configuração inicial do perfil. Elas podem ser curtidas e comentadas, e é o ponto de partida para conhecer outras pessoas. Mas, ao contrário do Tinder e do Happn, que só liberam o bate-papo quando há uma “curtida” mútua, no Pidium basta um curtir o outro para a conversa aparecer. O que pode dar errado?

As salas são meio deprimentes. Entrei na de Curitiba, uma das sugeridas pelo app, e de cara fui brindado com um rapaz dizendo “kd gatas, alguém pra tc no watts” seguido do número de telefone dele. Outro, um pouco antes, escreveu apenas “mulher Curitiba”, no que soa como uma tentativa falha de replicar, dentro do app, a estratégia provavelmente usada para ele para encontrar o app no Google Play.

O Pidium indica perfis que estão online na aba “Galera”. Durante os testes, poucas apareciam. É difícil determinar apenas com base nisso, em um app que tem por finalidade conversas privadas, o nível de assiduidade dos usuários. A recusa dos criadores do Pidium em informar o número de usuários ativos mensalmente impossibilita dizer o grau de sucesso do app — afinal, um download não significa muita coisa se as pessoas desinstalam o app logo em seguida ou não voltam a abri-lo depois de feito o cadastro.

É possível melhorar

O Pidium parece bem intencionado, um esforço legítimo em fazer algo localizado e adaptado ao público brasileiro. Inclusive (talvez, principalmente) na forma de ser encontrado na loja de apps do Google, trocando o nome do app por palavras-chaves descritivas do que o público-alvo do app procura.

Haddad revelou que ele e seu sócio, Diego Mondego, 31, estão sendo sondados por um fundo de investimentos estrangeiro. “Interessaram-se [pelo app] e vieram com um valor astronômico. A proposta foi oficializada há quatro semanas, com várias exigências. Devolvemos uma contraproposta e estamos esperando o retorno”.

Uma injeção de dinheiro poderia fazer muito bem ao app. Hoje, além dos dois sócios, apenas mais três profissionais cuidam do Pidium, todos da área técnica. Trabalhos de marketing e outros mais pontuais são terceirizados. E não há menção ao processamento de denúncias de abusos, situação a que apps do gênero costumam estar bastante sujeitos — as conversas nos grupos públicos dão um bom indicativo de que o problema já existe lá dentro.

No momento, o Pidium realmente proporciona “conhecer pessoas” e “bate-papo”, mas talvez não do tipo que você espera quando o baixe no celular.

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