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O anúncio da Parceria Transpacífico é uma demonstração de que a causa do livre comércio não morreu. Pelo menos em uma parte do globo que representa 40% do PIB mundial – cifra que logo deve crescer com a entrada de novos membros, como Coreia e, espera-se, a China. Embora algumas análises digam que o Brasil pode perder alguns mercados, o acordo é também positivo para o país: serve como um sinal de que não há mais tempo para os debates ideológicos de uma década atrás que enterraram a Alca e não permitiram que a diplomacia brasileira, presa a um Mercosul disfuncional, entregasse qualquer acordo comercial relevante.

A causa do livre comércio se baseia em uma das teorias mais simples e precisas da história da economia. Dois países ficam mais ricos ao trocarem mercadorias porque se especializam naquilo que fazem melhor. O comércio aumenta a produtividade e, com isso, a riqueza de uma nação. As críticas à teoria não desmontam essa matemática. O que mais preocupa quem vê com restrições a abertura comercial é que os países entram no mercado aberto em níveis diferentes de desenvolvimento social e tecnológico. É o que faz com que as negociações incluam cláusulas de apoio a países menos desenvolvidos.

A proteção comercial, por si só, não leva ao desenvolvimento, como mostra o estado da indústria brasileira, uma das mais protegidas do mundo emergente. Ele vem de uma combinação de acumulação de capital e de ganhos de produtividade (com investimento em tecnologia e educação). O comércio eleva a capacidade de acúmulo de capital e a produtividade. O fato de o acordo Transpacífico ser coordenado pela maior economia do mundo é sintomático disso. Foi o caminho escolhido pelos EUA para estender sua liderança.

O Brasil fez uma escolha diferente. Na última década, elevou tarifas, protegeu indústrias e não fechou acordos relevantes. Está há meses parado na mesa de negociações com a União Europeia por causa das dificuldades de chegar a uma proposta que agrade também os parceiros do Mercosul. O país ignorou os problemas em seu próprio bloco e não mediu com precisão o risco de apostar em um grande acordo global que reduzisse as barreiras a produtos agrícolas dentro da Organização Mundial do Comércio. Há, é preciso dizer, muita hipocrisia na defesa do livre comércio e a proteção à agricultura no mundo rico é a maior de todas. Mas parece um erro acreditar que não reduzir barreira alguma é melhor do que aceitar o mundo como ele é.

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