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A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) indica uma inversão da tendência histórica de aumento da afirmação da miscigenação na população brasileira. Entre 2009 e 2011, houve queda na participação de pessoas que se declaram pardas e aumento dos autodeclarados pretos.

Juntos, pretos e pardos se tornaram maioria no País a partir de 2008, segundo o IBGE. No entanto, os pardos continuavam crescendo até a última pesquisa, de 2009. Em 2011, houve aumento de 1,4 ponto porcentual dos pretos e redução de 0,4 ponto para brancos e de 0,9 ponto da população parda. Para especialistas ouvidos pela reportagem, é óbvia a influência de políticas afirmativas. No País, o maior contingente de pessoas que se declaram pretas está no Nordeste (10,5%). Já o de pardos fica na região Norte (67,9%) e o de brancos, no Sul (77,8%).

"O que há de novo é o crescimento especificamente do preto em detrimento do pardo. O brasileiro não é burro. Isso vem acontecendo numa proporção exatamente simétrica à expansão das políticas de ação afirmativa fundadas no conceito de raça", avalia o professor da UFRJ Manolo Florentino, do departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS). "No final das contas, vamos acabar tendo uma sociedade bicolor."

O economista Claudio Moura Castro e o sociólogo Simon Schwartzman concordam com a avaliação de que há influência de políticas afirmativas e campanhas de valorização da identidade étnica. "A definição de cor é muito volátil. Se fizerem cota para branco, vai aumentar a proporção de branco", diz Castro. Para ele, a explicação "mais óbvia" para a queda de pardos é a questão da identidade. Schwartzman avalia que, apesar de as cotas também beneficiarem os pardos, há uma campanha do movimento negro no sentido de que as pessoas se declarem pretas, e não pardas. "Assim, a dúvida não se instaura", completa Florentino.

O professor da UFRJ afirma que a tendência histórica verificada ao longo do século 20 era de "extinção" da categoria preto e de crescimento dos pardos, lembrando que, a rigor, pardos são também a mistura de brancos com indígenas. Ou seja, uma afirmação da miscigenação. "Agora, temos uma reversão disso. Ao invés de afirmar-se a miscigenação expressa através do crescimento do pardo, o que está se afirmando é a bipolarização da sociedade com o crescimento dos pretos", diz Florentino.

O professor da UFRJ considera válido o IBGE perguntar a cor e não a origem étnica. "Já se tentou pela origem étnica, o padrão americano, e isso redundou em respostas que majoritariamente apontavam para nacionalidade", diz.

A Pnad mostra que, da população desocupada no País em 2011, 57 6% eram pretos ou pardos. O porcentual aumentou em relação a 2009, quando era de 56,2%.

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