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Quando se fala em crise financeira internacional, a primeira lembrança que vem à mente é o grande número de demissões pelo mundo ou a quebradeira de empresas, fatos noticiados exaustivamente. Esta semana mesmo, o caso das montadoras americanas General Motors e Chrysler receberam especial atenção da mídia. Mas, desde setembro de 2008, o auge da crise, e com tantas notícias desanimadoras, pouco se falou em onde está o emprego. Foi com esse objetivo que O Globo conversou com especialistas para mostrar os setores que ainda apresentam boas oportunidades e aqueles que estão sentindo mais os efeitos da crise global.

Sobrevivendo à crise

Quem perdeu o emprego ou pensa em buscar uma nova oportunidade nos atuais tempos de crise deve ficar atento aos setores favorecidos pela legislação, diz Silvio Celestino, sócio da Enlevo, empresa especializada em coaching e treinamento para líderes. Segundo ele, o setor de venda de automóveis (devido à queda de tributos federais), construção pesada (devido a obras com hidrelétricas e estradas), empreiteiras (fornecedoras do setor público), call centers (devido à legislação que obriga alguns setores a atender 24h por dia) estão sendo obrigados a contratar. Empresas que preparam mão de obra para estes setores, como cursos de atendimento em call centers e cursos preparatórios para concursos públicos também abriram oportunidades.

Ele observa também que instrução, formação e requalificação de profissionais são setores que apresentarão maior demanda e, portanto, podem oferecer oportunidades para profissionais mais experientes e que possuam boa capacidade de comunicação.

Os setores que fornecem produtos de baixo custo (como alimentação) e voltado para reparos de máquinas, equipamentos e de estruturas são também apropriados para se buscar oportunidades, diz Silvio. Jacqueline Resch, sócia-diretora da Resch Recursos Humano, aponta ainda que os setores de Petróleo e Varejo continuam apresentando demanda de pessoal.

Ela ressalta que, se o profissional for um especialista técnico e o mercado onde atua estiver retraído, certamente terá mais dificuldade de se colocar no mercado de trabalho. Mas, se este for um profissional de áreas como finanças, informática ou RH - necessários em empresas de qualquer segmento - deve ficar atento às oportunidades que estão surgindo nos segmentos onde há maior demanda e nos demais, já que novas vagas podem surgir para substituir aqueles que receberam ofertas dos setores em alta.

Efeitos ainda visíveis

Passados seis meses do início da crise, Jacqueline Resch, afirma porém que as empresas ainda se mantêm cautelosas em suas decisões de contratação, mas não deixam de fazê-lo quando percebem que este é um investimento que terá retorno.

- Assim que a crise se anunciou, muitas empresas suspenderam imediatamente novas contratações e muitas foram obrigadas a fazer demissões. Muitas das contratações foram suspensas e/ou adiadas, até que as empresas pudessem avaliar melhor o impacto da crise em seus negócios. Vale dizer que o mercado não parou, já que várias empresas com projetos de longo prazo mantiveram suas oportunidades e outras aproveitaram a oferta de mão de obra para especializar ou melhor qualificar seus quadros.

Sílvio Celestino tem observado nas empresas em que atua uma redução substancial dos bônus e benefícios de seus empregados regidos pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), assim como a queda acentuada nos salários. Segundo ele, pessoas que perdem o emprego com um salário de R$ 8 mil, por exemplo, estão encontrando vagas que pagam R$ 3.500.

- Se isto se confirmar, ao longo do tempo teremos uma rodada grande de demissões, pois as empresas serão capazes de repor sua mão-de-obra qualificada com valores bem menores. Tenho observado isto em setores de Tecnologia da Informação (TI), como consultorias para implantação de sistemas.

Silvio ressaltou ainda que os terceirizados são os que estão sofrendo mais com a crise, sendo demitidos em grande escala. Estes números não aparecem claramente, pois, quando uma grande empresa diz que demite 1.000 funcionários, está se referindo aos CLTs.

- Os terceirizados podem ter sido 3.000 que a empresa não considera demissão, mas término de contrato com um fornecedor - diz Silvio.

Ele lembra que a situação mais crítica é verificada nas cidades no interior de Minas e Rio de Janeiro, norte de Goiás e regiões do Pará, onde estão localizadas empresas de siderurgia e mineração, setores atingidos duramente pela crise. Nestas cidades, enfatiza Celestino, a demissão de duas mil pessoas significa muito para seu porte. Já em uma cidade como São Paulo, com cerca de 19 milhões de pessoas na região metropolitana, se 30 mil perdem o emprego, a cidade não sente o impacto.

Os mais atingidos

Segundo os especialistas, os setores mais atingidos pela crise são aqueles relacionados ao mercado exterior, commodities e indústria automobilística. Sendo assim, lembra Silvio Celestino, exportadores de calçados, mineradoras, siderúrgicas e logística internacional estão entre os mais atingidos. Ao contrário de Jacqueline Resch, que afirma que o setor de informática continua contratando, Silvio Celestino aponta que a área vem sofrendo bastante com a crise, pois, segundo ele, os computadores são comprados em acordo com a quantidade de funcionários que uma empresa possui e da dimensão de seus negócios.

- Se uma grande empresa demite, precisa de menos computadores, menor quantidade de licenças de software e menor capacidade computacional - diz.

Analisando os riscos

O momento é de cautela e certamente é necessário avaliar riscos e oportunidades de uma mudança na carreira. Entretanto, alerta Jacqueline Resch, cautela não significa paralisa. O profissional deve reunir o máximo de informações sobre a empresa e o segmento aos quais está se candidatando, acessando diferentes fontes, analisando os desafios oferecidos em relação ao seu projeto de carreira e tomando a decisão que lhe pareça mais apropriada.

- Riscos sempre existem quando se realiza mudanças. O importante é tomar a decisão com respaldo em informações confiáveis - aconselha a consultora.

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