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Tania Consentino é CEO da Schneider Electric para a América do Sul | Divulgação/
Tania Consentino é CEO da Schneider Electric para a América do Sul| Foto: Divulgação/

Agenda lotada, mala de viagem à mão, ligações a todo momento e uma plateia ansiosa à sua espera no auditório. Aos 52 anos, Tania Consentino tem uma rotina inspiradora para meninas que sonham crescer na carreira superando os percalços de um mercado ainda dominado por homens. A paulistana é CEO para a América do Sul da Schneider Electric (multinacional francesa que atua nos âmbitos de controle, automação e distribuição elétrica em 190 países) e já recebeu vários prêmios por sua atuação na companhia. 

Não por acaso, é convidada com frequência para fazer palestras, como a que aconteceu semana passada, no CEO Fórum, promovido pela Câmara Americana de Comércio (Amcham), em Curitiba. Pouco antes do evento, Tania reservou um tempo de seu cronograma para receber a Gazeta do Povo e falar da sua história. 

A ascensão a CEO

Aos 33 anos, Tania foi convidada para gerir uma equipe sênior na área comercial da Schneider Electric, embora fosse bem mais jovem que seus subordinados. “Foi um grande desafio, mas eu sempre gostei de me testar”, conta. 

Ocupando um cargo estratégico, buscou crescer. Quando soube que seu chefe seria promovido a presidente da empresa na Colômbia, bateu na porta do RH e quis saber se poderia substituí-lo. Corajosa? Este foi só o começo.

Depois de ser alçada à diretoria e ver que a gestão do CEO da Schneider para o Brasil estava quase no fim (na companhia, o CEO muda a cada quatro anos), resolveu voltar à gestão de pessoas e propor sua promoção. “Eu percebi que a organização estava com uma ideia de buscar CEOs mais locais, porque até então só franceses ocupavam o posto. Achei que era uma boa oportunidade de tentar chegar lá”, lembra.

Tania conseguiu. Em 2009, foi a primeira mulher a ocupar um cargo de CEO na Schneider Eletric Brasil. Seu primeiro desafio foi driblar as dificuldades da então recém-chegada crise norte-americana. A falência do Lehman Brothers no ano anterior havia afetado drasticamente as planilhas da multinacional e foi preciso tomar um novo fôlego.

“Eu queria realinhar as coisas, mas também trazer novidades e causar impacto”. Ela criou projetos de sustentabilidade e empoderamento feminino, que depois foram estendidos para todo o continente após 2013, quando Cosentino foi alçada a CEO para a América do Sul, cargo que agora ocupa.

Oportunidade e representatividade

Por ser mulher, de uma família de classe média baixa e não ter estudado em uma universidade de primeira linha – em geral, elitizada e valorizada por recrutadores de grandes empresas –, Tania se considera a exceção a uma regra que precisa mudar por um mundo mais igualitário. “Eu tive as oportunidades certas. Se as organizações por onde passei focassem em estereótipos na hora de me contratar eu não estaria onde estou”, diz.

É também com base em sua história pessoal que Tania leva como princípio e meta a busca por uma panorama mais igualitário tanto no setor produtivo quanto no mundo dos negócios. Ao abraçar medidas como as políticas de cotas, a líder defende que as coisas não vão mudar significativamente se as empresas não agirem para intervir em prol da igualdade.

“Quando alguém vem me dizer que promover iniciativas pela igualdade é dar privilégios, eu digo: olha, me desculpa, mas não é privilegio quando você é sub-representado. E nós somos minoria nos altos cargos mesmo sendo metade da população brasileira”.

Contratação de 40% de mulheres

A executiva compara a inserção de mulheres, negros e outras minorias no ambiente executivo à “armadilha da pobreza”, conceito do economista Jeffrey David Sachs.

“Precisamos de ajuda para sair desta armadilha que é a discriminação. A empresa não se acha machista nem racista, mas quase não há negros nem mulheres em cargos de gestão. Alguma coisa está errada.”

A Schneider tem a meta de atingir 40% de mulheres entre as novas contratações até o fim deste ano. A companhia também tem monitoramentos frequentes de equidade salarial. A empresa no Brasil esteve entre as premiadas pelo Women’s Empowerment Principles (WEPs), da ONU, que destaca companhias com ações importantes no combate à desigualdade de gênero.

Outras ações como CEO

A gestão de Tania à frente da Schneider tem foco em três pilares: negócios, inovação e pessoas. Com esta abordagem, a executiva pensou estratégias para aliar o trabalho da Schneider a demandas da população local.

Um de seus projetos é a formação de eletricistas em apoio com o Senai. Foram 30 mil profissionais formados no brasil, em cinco anos, e a ideia já chegou a outros países em que a empresa atua. A companhia também ampliou o acesso a energia elétrica em duas pequenas vilas do Amazonas, criando um sistema de energia solar. “As pessoas passaram a ter internet e coisas simples como mais refrigeradores para preservar presunto e queijo. Em uma das vilas abriram uma lanchonete, a MC Boto, e até o turismo ecológico cresceu”, conta.

Em 2017, Tania esteve entre os vencedores do SDG Pioneers, concurso da ONU para executivos que promovem objetivos globais. Ela foi a única latinoamericana e uma das três mulheres da lista.

Primeiros passos

Graduada em Engenharia Elétrica, a executiva começou a pensar na carreira bem cedo, aos 14 anos. Com facilidade para matemática desde bem pequena, se matriculou em um Ensino Médio Técnico em Eletrotécnica, em uma escola pública da capital paulista. “Eu me encantei por aquela área”, lembra. 

Ainda adolescente conseguiu seu primeiro trabalho. Uma grande empresa alemã abriu uma seleção de estágio na escola e acabou contratando todas as meninas que se candidataram. Tânia se inscreveu, e começou sua vida profissional no setor técnico da organização. Assim que se formou, foi efetivada. Passou pelas áreas comercial e de projetos até chegar à gerência de vendas. Nesse meio tempo, fez faculdade. Trabalhava à tarde e estudava à noite. 

“Quando eu era criança, meus pais diziam que eu podia ser quem eu quisesse”, lembra Tania. Ela diz que quase todas as mulheres bem sucedidas que conhece tiveram uma vivência igualitária dentro de casa e um considerável reforço à autoestima na família. Isso, para ela, dá forças para que a pessoa consiga enfrentar as contradições e desafios do mercado. “Minha irmã, se doutorou em física pela Universidade de São Paulo (USP). Meu irmão hoje é músico. Buscamos nossos sonhos porque fomos ensinados assim”. 

Outra constante que Tania reconhece entre lideranças femininas de sucesso é o apoio da pessoa com quem a mulher escolhe se relacionar afetivamente.A executiva, que é casada e optou junto ao marido por não ter filhos, conta que ela e o esposo se apoiam e que isso alicerça seu crescimento. “A cobrança da sociedade sobre nós é alta e a mulher também se cobra muito. Se quem está do seu lado não te incentiva, você desmorona”, diz.

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