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Mariane deixou o mundo corporativo das telecomunicações para levar com importação de produtos voltados a mães e crianças. | Divulgação/Arquivo pessoal
Mariane deixou o mundo corporativo das telecomunicações para levar com importação de produtos voltados a mães e crianças.| Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Mudar de carreira é algo que exige planejamento. Isso inclui analisar o mercado e o momento econômico. Mas não é só isso. Escolher uma nova profissão ou mesmo empreender aos 30, aos 40 ou aos 50 anos vai demandar diferentes habilidades para diferentes desafios.

Aos 29 anos, Mariane Tichauer tinha segurança na carreira fazendo a gestão de projetos de roaming internacional em empresas de telecomunicações. Porém, a estabilidade profissional não estava acompanhada da satisfação e ela resolveu que era hora de fazer uma mudança radical. “Chegou a um ponto na minha carreira em que eu já dominava o que eu gostava de fazer e não gostava tanto da perspectiva de crescimento”, conta.

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Frustrada com o mundo corporativo, se planejou financeiramente para poder se dedicar aos estudos e entender o que precisaria fazer para abrir uma empresa e uma ONG na área de turismo. “Pensei muito se era isso mesmo que eu queria fazer, li um monte de revistas de empreendedorismo, pesquisei muito para ver se dava mesmo para fazer o que eu queria”. E, no final das contas, mudou de ideia. 

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Grávida da segunda filha, durante um bate-papo com uma amiga reparou que havia uma lacuna no mercado: nem ela, nem as amigas que também são mães conseguiam encontrar no Brasil os produtos que queriam e viam cada vez mais pessoas viajando até Miami apenas para fazer o enxoval. Querendo resolver o seu problema e o de outras pessoas, em 2009 fundou a Itté — uma importadora de e distribuidora de produtos para facilitar o dia a dia de mães e crianças. 

Nova carreira aos 30 anos: sem medo de errar

O caminho seguido por Mariane é o mesmo buscado por muitas pessoas que resolvem mudar de carreira aos 30 anos. De acordo com a diretora na região Sul da consultoria de transição de carreira Lee Hecht Harrison, Rose Russowski, ao acumular alguma experiência corporativa, profissionais nessa faixa etária são motivados a mudar por questionarem o mundo tradicional do trabalho e não terem medo de novas experiências - e eventuais fracassos. “É um público que pensa muito em empreender. Muitos já entram no mercado pensando em adquirir conhecimento para ter o próprio negócio e não querem viver a subordinação”, aponta.

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O recomendável, nesse momento, é conhecer muito bem suas motivações pessoais, refletir e fugir de mitos. É possível buscar inclusive uma nova graduação ou especialização. “Esses profissionais não têm tanto legado e veem que, se aquela primeira opção não ‘rolou’, talvez outra coisa possa funcionar”, diz a coach. “Muitos jovens chegam ao mercado de trabalho muito perdidos. Hoje estamos tendo cada vez mais aconselhamento de carreira também para essas pessoas, o que não acontecia alguns anos atrás”.

Nova carreira aos 40 anos: rever decisões e escolhas

Quando a decisão de trocar de vida profissional chega em um ponto mais avançado da vida, normalmente vem acompanhada de variáveis que dificultam o processo, como o impacto que essa escolha terá na família e no rendimento. “É preciso ter em mente que esse profissional vai ter que dar um downgrade [ganhar menos e/ou exercer uma função de iniciante] a partir do que ele já conquistou em carreira, do que tem atualmente. Ele vai começar de novo”, lembra o diretor executivo da consultoria Thomas Case & Associados, Ricardo Munhoz. 

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O primeiro passo para que essa transição não seja tão brusca é fazer uma retrospectiva e analisar o que deu certo ou errado, o que trouxe felicidade ou não. “Tem que olhar um pouco para trás, ver no que é bom e do que gosta e achar um meio termo dentro dessas duas coisas”, afirma Rose. Para ela, muitas vezes é a primeira vez que esse profissional vai tomar uma decisão por si só, no lugar de apenas aceitar oportunidades assim que aparecem: vão sendo escolhidos, ao invés de escolher. “Essa é a hora de pegar as rédeas da sua carreira”.

Depois da reflexão, chega o momento de direcionar as energias para descobrir o seu diferencial, mensurar o conhecimento que adquiriu até ali e como aplicar isso à nova carreira escolhida. 

Nova carreira aos 50 anos: reinventar-se para um novo mercado

Para quem já tem efetivamente toda uma carreira montada, a primeira preocupação e o maior desafio na mudança é manter um padrão financeiro. De acordo com a coach de carreira da Lee Hecht Harrison, enquanto em outras fases da vida a mudança de carreira é principalmente impulsionada por fatores internos, como insatisfação, na faixa dos 50 anos as causas são normalmente externas, como uma demissão. “A pessoa precisa pensar que o mundo não acabou, que existe vida após a primeira carreira”, ressalta. 

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Para isso, é necessário pensar em como é o mundo do trabalho contemporâneo: mais dinâmico e com profissionais ativos por um período de tempo muito maior. Nessa fase, modernizar-se e reinventar-se por estar ligada a desapegar de coisas que podem parecer muito valiosas, como hierarquia ou ter uma sala particular. “Esses profissionais podem voltar ao trabalho com um chefe que tem 30 anos, um gerente que não tem sala só para ele”, exemplifica. “É difícil acatar uma ordem e validar o conhecimento de uma pessoa muito mais nova, mexe muito com a autoestima”. 

O foco deve ser na flexibilidade para se adaptar a diferentes projetos - característica muito exigida no mercado atual - e na humildade. “O profissional deve saber que tem muita coisa nova e que ele talvez precise se atualizar, que os conceitos que o trouxeram até aqui talvez não sejam mais tão importantes”.

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Planejamento é fundamental

Em qualquer fase da vida, o que vai sustentar uma guinada bem sucedida na carreira é o planejamento, garantem os especialistas. Isso inclui analisar o mercado e o momento econômico. “Mudar de área está extremamente difícil, já que estão havendo muitas demissões, tem muito profissional qualificado disponível e você estaria concorrendo com pessoas com mais experiência”, reflete Ricardo Munhoz. “O momento ideal é quando o profissional detecta uma lacuna numa área que tenha demanda alta e baixa oferta”. 

Foi o que Mariane fez com a Itté. Atualmente, esta é a fonte de renda de toda a família, já que o marido dela, Décio Farias, deixou o cargo em uma gigante de tecnologia para fazer a gestão e estratégia da empresa. O começo, no entanto, não foi fácil: foram dois anos entre ela deixar a carreira anterior e a abertura do empreendimento. “Tem que ser algo muito planejado. O planejamento não pode impedir a execução, mas não dá para executar sem planejar”, explica a sócia-diretora da Itté.

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“Não dá para deixar para mudar quando não aguenta mais e está quase explodindo”, garante Munhoz. Não tem fórmula mágica. O sucesso na mudança de carreira vai depender de uma reserva financeira que sustente os custos de vida por no mínimo um ano, muita pesquisa e investimento de tempo e verba em capacitação. 

Durante a entrevista com Mariane para essa matéria, feita por telefone, era possível ouvir as crianças ao fundo durante um almoço de comemoração da Itté. A fundadora celebrava, junto das colegas, o desempenho da empresa em 2017, que já foi bem superior ao mesmo período do ano passado. 

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Depois de deixar a vida na capital paulista e instalar-se com a família e a empresa em Valinhos, cidade de 106 mil habitantes vizinha de Campinas, Mariane faz um balanço positivo. “A gente teve perda de salário, mas o ganho em qualidade de vida é infinitamente maior”, afirma. O plano, agora, é conseguir se afastar o suficiente do empreendimento para tocar o sonho original: abrir a empresa de turismo comunitário e a ONG de voluntariado internacional.

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