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Hyldal, diretor do  ATP, acredita que a desigualdade entre os salários dos 1% mais ricos em relação aos 99% mais pobres  aumenta a insatisfação popular. | ATP/Divulgação
Hyldal, diretor do  ATP, acredita que a desigualdade entre os salários dos 1% mais ricos em relação aos 99% mais pobres aumenta a insatisfação popular.| Foto: ATP/Divulgação

Um dos maiores fundos de pensão da Europa está somando sua voz à lista de investidores que fazem passar vergonha os executivos que eles acreditam ganhar demais.

O ATP Group, da Dinamarca, tem cerca de US$ 112 bilhões em ativos sob gestão. Seu último público alvo foi a Carlsberg A/S. Na reunião geral anual em março, o fundo disse que as 36 milhões de coroas (US$ 5,4 milhões) pagas ao diretor-executivo Cees ‘t Hart em 2016 eram excessivas e lutou contra uma proposta para aumentar a parcela variável. O pacote de pagamento foi, por fim, aprovado por um conselho dominado pela Fundação Carlsberg, mas o ATP enviou um sinal claro.

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Christian Hyldahl, o dinamarquês de 52 anos que tem dirigido o ATP de sua sede no norte de Copenhague desde janeiro, diz que quer usar seu trabalho para esclarecer o que ele caracteriza como uma cultura salarial insustentável. Ele diz que CEOs gananciosos colocam em risco a democracia e o capitalismo.

“Por que os funcionários tem que ter aumentos de salários muito modestos ou não existentes se o CEO ganha mais e mais e mais?”, disse Hyldahl em uma entrevista. “Há um grande problema de liderança nisso. Você tem que provar do seu próprio veneno”.

As empresas dos EUA, em particular, estão sentindo a ira do fundo. Até agora, neste ano, o ATP votou contra 54% dos pacotes de remuneração propostos pelas empresas dos EUA em que detém uma participação. No total, aprovou 30% de cerca de 650 propostas.

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O ATP, que decidiu ir a público com suas opiniões sobre o pagamento de executivos pela primeira vez no ano passado, está somando sua voz a uma longa lista de fundos influentes que estão tentando conter políticas de remuneração excessivas. O fundo soberano da Noruega, de US$ 960 bilhões, o maior do mundo, sugeriu, em abril, bloquear o pagamento baseado em ações durante uma década antes de permitir que um CEO chegasse ao dinheiro. No Reino Unido, o Institute of Directors quer que o governo dê mais poder aos investidores para conter o pagamento dos executivos.

Compliance

Há também uma maior disposição para punir os executivos que não conseguem impedir que suas empresas se envolvam em crimes. Na Dinamarca, os legisladores concordaram nesta quarta-feira (21) em aumentar o tempo que os gerentes podem passar na prisão de seis para oito anos em conexão com violações de lavagem de dinheiro.

Hyldahl diz que os EUA e o Reino Unido poderiam aprender com a cultura salarial nórdica. A região, famosa por um bem-estar generoso, altos impostos e economias estáveis, possui algumas das sociedades mais igualitárias do mundo quando se trata de distribuição de renda. Um ranking da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostra que a Dinamarca, a Noruega e a Islândia têm as menores diferenças salariais no mundo rico. Enquanto isso, os EUA tem o terceiro maior hiato de renda dos 36 países da OCDE, superados apenas pelo México e pelo Chile.

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O ATP quer usar sua influência como investidor para expressar sua opinião e ficará por perto por quanto tempo for necessário para influenciar o pagamento. Apenas sair de uma participação acionária porque você discorda é menos poderoso do que ficar e lutar, diz Hyldahl.

“A alternativa é que não o façamos”, disse ele. “E então não temos nenhuma influência”.

Disparidades cresceram nos últimos anos

Desde a crise financeira global, a ampliação das disparidades salariais entre o 1% superior e os 99% inferiores deixou os eleitores desesperados por formas de mostrar sua indignação. Nos EUA, os CEOs ganham cerca de 300 vezes mais do que o trabalhador médio, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Na Dinamarca, o número é cerca de 82 vezes.

Esses excessos levaram a uma “desintegração, falta de confiança nas instituições, a pessoas questionando o mundo dos negócios”, disse Hyldahl. Grandes diferenças entre o que os executivos e os trabalhadores médios ganham “colocam lenha na fogueira”.

O próprio salário de Hyldahl foi estabelecido em 6,6 milhões de coroas para 2017. Seu antecessor, Carsten Stendevad, ganhou 6,9 ​​milhões de coroas no ano passado, ou cerca de US$ 1 milhão, dos quais cerca de US$ 150 mil foram em benefícios de pensão.

“Nós não estamos falando sobre CEOs não serem pagos”, disse Hyldahl. “Ainda estamos falando de milhões de dólares. Eu diria que eles ainda poderão pagar uma casa e um carro e talvez até um barco”.

Tradução por Jéssica Maes, especial para a Gazeta do Povo.

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