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Ivana Valentim: estudos a levaram a dar aula em faculdade | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Ivana Valentim: estudos a levaram a dar aula em faculdade| Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo

Incentivo

Estudo concluído com o estímulo da empresa

Fernanda Fraga, especial para a Gazeta do Povo

Já são 28 anos de magistério na carreira de Ivana Valentim. Com licenciatura em Pedagogia e Letras, hoje é coordenadora do ensino fundamental do Colédio Medianeira, em Curitiba, além de também dar aulas na Faculdade Santa Cruz. O mestrado, concluído em 2006, veio com ajuda de um programa de incentivo do próprio Medianeira. "Mas, aqui na escola, não tem diferença de remuneração pela titulação, só pelo tempo de casa", conta. Em termos de retorno financeiro, o que mudou na vida de Ivana após o mestrado foi a possibilidade de se candidatar a vagas para dar aulas em faculdades. "Atualmente, as instituições estão exigindo o mestrado como titulação mínima. O salário também é diferente, paga mais", conta. Até agora, já foram cerca de 22 anos de estudo, entre ensino fundamental, médio, duas faculdades e o mestrado. Para os próximos anos, os planos são de continuar a estudar e desenvolver a carreira.

Números

784,7 mil brasileiros possuem um diploma de pós-graduação no currículo, contra um universo de mais de 12 milhões com nível superior concluído. Para um país com 200 milhões de habitantes, 16% de universitários é considerado pouco pelos especialistas em ensino e recursos humanos.

O salário médio dos profissionais com mestrado e doutorado no Brasil está 107% acima do recebido por quem terminou apenas o curso de graduação. No caso dos doutores, o ganho é 152% superior. No dos mestres, 89%. Os dados — obtidos com base no Censo 2010 do Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE), divulgado no fim de abril — mostram que é grande a discrepância salarial entre graduados e pós-graduados.

A maior distância está entre dirigentes de serviços de educação (remuneração 130% acima da média para mestrado e doutorado), seguido por tradutores, intérpretes e linguistas (114%), analistas financeiros (107%) e dirigentes de recursos humanos (106%). O abismo é menor entre os gerentes de hotéis (3%), engenheiros eletricistas (4%), geólogos e geofísicos (10%), agentes de seguros (10%) e dirigentes de pesquisa e desenvolvimento (13%). "Não é uma surpresa. Afinal, quem chega até o doutorado realiza mais quatro ou seis anos de estudo, e tem, de fato, habilitações superiores e capacidade de atuar em um campo mais abrangente, com mais responsabilidade e visão estratégica", ressalta Marcelo Paixão, professor do Instituto de Economia da UFRJ.

O que chama a atenção, porém, na opinião do professor, é o tamanho da disparidade."O ideal seria garantir remuneração adequada para todos. Claro que respeitando a hierarquia para quem tem mestrado ou doutorado, mas com leques salariais menos abertos".

Entre os profissionais de educação, o abismo na remuneração de quem tem diploma de mestrado ou doutorado e só de graduação atinge um dos níveis mais altos: 93% no caso dos professores de universidades e do ensino superior, 104% para os professores do ensino fundamental e 72% para professores do ensino médio. Sendo que a proporção de mestres e doutores dentro de cada categoria varia de forma significativa: 54%, 2% e 7%, respectivamente.

Para Ana Heloisa Lemos, coordenadora do MBA em Gestão e Recursos Humanos da PUC-Rio, não é difícil entender o porquê de haver tão poucos professores dos níveis de ensino fundamental e médio com títulos de pós-graduação. "Isso está associado à péssima remuneração para quem leciona no ensino de base. Quando um profissional conquista uma qualificação de mestre ou doutor, é natural que ele migre para o ensino superior, onde vai encontrar melhores condições de trabalho."

Henrique Heidtmann Neto, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da FGV (Ebape), destaca que a competitividade no cenário corporativo atual leva as organizações, sejam públicas, privadas ou do terceiro setor, a melhorar seus sistemas organizacionais para se adaptar ao modelo de economia que exige um profissional que saiba pensar sistemas complexos. "Com isso, as instituições vêm procurando profissionais com habilidades técnicas e a competência de pensar, não apenas de fazer", afirma Heidtmann.

Os dados também chamam a atenção para a pequena população no Brasil que tem um diploma de pós-graduação no currículo — 784.746 — contra 12.679.009 com nível superior concluído. "Em um país com 200 milhões de habitantes, ter apenas 16% de população universitária é pouco. Países como Coreia, China e Índia têm programas muito mais agressivos para colocar as pessoas na pós-graduação", diz Paixão.

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