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O que fazer

Especialista sugere ter cautela e evitar mudanças bruscas

Embora os cálculos mostrem a vantagem da caderneta sobre os fundos de renda fixa, o investidor deve ter cautela na hora de tomar a decisão de sacar os recursos para colocá-los na poupança. Primeiro porque o cálculo do mercado usa uma média da rentabilidade dos fundos – portanto, alguns podem render mais e outros, menos. Além disso, embora seja dada como certa mais uma redução na Selic, ainda não se sabe o rumo do juro, por exemplo, para o ano que vem. "Tem de esperar. Não adianta pular de galho em galho", diz Fábio Colombo, administrador de investimentos. Ele comenta também que a diferença porcentual dos ganhos é relativamente pequena, de cerca de 1,5% ao ano. "Para quem tem R$ 10 mil ou R$ 20 mil, esse porcentual não faz muita diferença. Portanto, repito, é melhor ter cautela e esperar." Para Colombo, o novo cenário importa mais para quem está iniciando o investimento. "Se a pessoa está com dinheiro e ia aplicar em fundo de renda fixa, recomendo que espere um pouco, para ver o que vai ocorrer", sugere. "Enquanto espera, deixe os recursos na poupança", completa o administrador de investimentos. Como a caderneta não é taxada com imposto, não há nenhuma perda caso o investidor decida migrar para outra aplicação.

Alterações podem envolver apenas depósitos novos

O governo poderá acelerar o envio ao Congresso Nacional da proposta de mudança na remuneração da caderneta de poupança por causa do temor de um movimento antecipado de migração de recursos que hoje estão depositados nos fundos de investimento. As informações de que as mudanças em estudo devem atingir apenas depósitos novos ampliou o risco de que investidores que têm aplicações, que já começam perder em rentabilidade para a poupança, se antecipem à mudança para garantir, no futuro, um ganho maior que só será assegurado aos antigos depositantes da caderneta.

Essa é uma preocupação que está presente no radar do governo e motivo de divisão na equipe econômica sobre a melhor estratégia para enfrentar o problema, agora que o Banco Central acelerou ainda mais a redução da taxa básica de juros. Economistas de dentro e fora do governo já falam na possibilidade de a taxa Selic cair para 8,5% ainda neste ano, tornando a decisão mais urgente. Esse nível é considerado uma espécie de limite aceitável para que a mudança seja feita.

O vazamento da informação de que o governo estuda preservar da mudança os depósitos antigos das cadernetas – justamente para facilitar a aprovação da medida pelos parlamentares em ano de eleições – acabou se transformando num problema maior para a equipe econômica. "Tem potencial para aumentar ainda mais o ruído junto a população, o que já começa a acontecer", admite um integrante da equipe.

Como a mudança na poupança é um tema delicado, que mexe também com outros tipos de aplicações, qualquer alteração tem de ser feita com muito cuidado e por meio de uma Medida Provisória (MP) para evitar movimentos bruscos de uma aplicação para outra. A MP permite que a alteração vigore de imediato, sem provocar distorções no mercado financeiro. É com essa preocupação de evitar turbulências desnecessárias que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vem negando publicamente que seja preciso mudar a poupança agora.

A caderneta de poupança já está mais vantajosa do que os fundos de renda fixa para investimentos de curto prazo. Em aplicações de até seis meses em fundos DI, só os raros fundos com taxa de administração inferior a 0,50% ao ano, rendem mais que a poupança. Entre seis meses e um ano de aplicação, os fundos com taxa superior a 1,50% anuais também perdem para a caderneta.

A maior atratividade da poupança se deu por causa da redução de 0,75 ponto porcentual feita na taxa básica de juros (Se­­lic) na última quarta-feira, o que impacta a rentabilidade dos fundos. Como os fundos têm incidência de Imposto de Renda e taxa de administração, a redução do ganho líquido com a nova Selic (9,75% ao ano), dá vantagem à tradicional caderneta, que é isenta de IR e de outros custos.

Segundo cálculos da Asso­ciação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), quando a Selic chegar a 9% ao ano, a caderneta será mais vantajosa em todas as comparações com os fundos de renda fixa. O cenário pode ser alcançado na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, marcada para dia 18 de abril.

Enquanto a Selic cai, ferindo os ganhos da renda fixa em geral, a rentabilidade da poupança se mantém. A lei garante que ela será de 0,5% ao mês (6,17% ao ano) mais taxa referencial (TR) de juros. Assim, o piso de 6,17% só é atingido quando a TR cai a zero, algo que já ocorreu cinco vezes desde o início de fevereiro. "Se o governo não alterar a fórmula que calcula essa rentabilidade, o investidor deve fazer a conta antes de escolher entre renda fixa, ou mesmo outros fundos, e caderneta", diz Rogério Bastos, sócio da consultoria FinPlan.

A maior competitividade da poupança sobre outras aplicações pode provocar saída massiva de investidores dos fundos rumo à poupança. Para Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac, como há perspectiva de novas quedas na Selic daqui em diante, a alteração das regras da caderneta poderá ser apressada pelo governo. Entre possíveis mudanças, diz Oliveira, está tributar o investimento na caderneta ou atrelar o rendimento da modalidade ao juro (assim como ocorre nos fundos).

Em 2009, com a Selic em 8,75% ao ano, o governo já tentou cobrar imposto sobre poupanças com mais de R$ 50 mil, mas desistiu por pressões políticas e porque a taxa de juros voltou a subir logo depois. "Desta vez o governo não tem alternativa. Para manter o equilíbrio do mercado, é importante que a poupança tenha uma nova fórmula de cálculo", considera o matemático José Dutra Vieira So­­­brinho. "Nos próximos 90 dias, no máximo, o governo tem de apresentar um plano", diz, se referindo ao prazo para os próximos cortes esperados nos juros.

Mesmo com a Selic acima de 10% que vigorou até a última quarta-feira, os fundos que têm como referência o CDI (cujo rendimento é sempre muito próximo da Selic) e cobram taxa superior a 2% ao ano já estavam em desvantagem, segundo André Oda, professor de Finanças da Fun­­dação Instituto de Admi­nistração (FIA).

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