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Empresário Gabriel Roloff, criador da comunidade Curitiba Surreal: de olho nos abusos | André Rodrigues / Gazeta do Povo
Empresário Gabriel Roloff, criador da comunidade Curitiba Surreal: de olho nos abusos| Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo

Assim não dá

Veja que situações mais rendem críticas nas páginas sobre preços:

• Nomear um prato simples como "gourmet" e cobrar mais por isso.

• Taxar gelo, limão, cadeiras ou outros itens comumente pedidos em bares.

• Porções de petiscos com itens que podem ser "contados" já na primeira olhada.

• Estacionamentos que sobem o preço em uma noite, como na estreia de uma peça de teatro.

• Promoções "pague um, leve dois" em que comprar a unidade sai mais em conta do que o kit.

O morador de Curitiba vem aderindo aos poucos à moda de se organizar para questionar preços altos por meio das redes sociais. A principal página no Facebook sobre a cidade, a Curitiba Surreal, ultrapassou em cerca de um mês os 800 seguidores públicos. É pouco perto dos mais de 26 mil da página de Brasília ou dos 52 mil que acompanham a de Belo Horizonte, por exemplo. Mas já estão lá expostos na internet, para quem quiser ver e criticar, preços como o do pão francês vendido em uma padaria do bairro Rebouças a R$ 9,70 o quilo; e dos 110 gramas de salada pronta que saem por R$ 7 em um supermercado do Portão.

Criador da Curitiba Surreal, o empresário Gabriel Roloff, 32 anos, acha que a página vai bem, considerando que a capital carrega um título de "barata" que só agora vem sendo desafiado. Cozinheiro amador, Roloff percebeu que o preço dos alimentos em muitos casos superavam os de Brasília, uma das cidades mais caras do país. "No fim do ano, o preço da carne subiu de uma forma que ficou difícil comprar", exemplifica.

A mudança aparece em estatísticas. Segundo o IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dos últimos 12 meses na Grande Curitiba está acima da média nacional – 5,45% contra 5,62%. A alimentação fora do domicílio é um carro-chefe da inflação na região. O IPCA é de 10,91%; no Brasil, é de 9,34%. Itens como contrafilé (12,71%) e macarrão (17,18%) tiveram reajustes acima da média.

Desconto na pressão

No início criticadas por empresários que se sentiram injustiçados, páginas pioneiras já conseguiram baixar preços. A BoicotaSP é a com mais seguidores no país e completará um ano em abril. Desde então, itens polêmicos sumiram do cardápio de restaurantes e uma padaria "gourmet" baixou o preço do litro de Coca-cola (R$ 18,90 para R$ 9). "Os donos não nos avisam, acredito que para tentar não dar mais força ao movimento", explica o publicitário Danilo Corci, 39, criador da página. "É uma pena, porque poderiam lucrar divulgando na própria página que reformularam preços".

Um incentivo extra para convencer os curitibanos: para o consumidor, iniciativas assim equivalem a um controle a mais na concorrência e a uma pesquisa de preços colaborativa. "O consumidor que se indigna e decide não consumir incentiva empresas a atenderem a demanda por produtos baratos. Isso ajuda o mercado", acredita o economista Bruno Braz de Castro.

As páginas ajudam em outro ponto: o Brasil tem leis antigas e polêmicas, mas vigentes, que tratam de crimes contra a economia popular. Denúncias em redes sociais já motivaram uma operação de orientação da prefeitura do Rio para vendedores nas praias. "O Estado tem possibilidade e dever de intervir", avalia o advogado Lincoln Schroeder Sobrinho.

Pesquisa de preço sem críticas faz mais sucesso na cidade

Páginas no Facebook que falam sobre pesquisa de preços de forma positiva têm mais seguidores em Curitiba. É o caso da Curitiba Honesta e do grupo Cerveja Barata, que tem 7,5 mil membros. A primeira traz dicas de bares e restaurantes bons e baratos na cidade; o segundo é um espaço para membros informarem onde comprar a bebida com desconto. Nenhuma das inciativas tem intenção de atrair denúncias.

O criador do Curitiba Honesta, Sergio Medeiros, 53 anos, diz que não publica críticas por temer contestações judiciais. Houve apenas uma crítica até hoje, que não cita o nome do bar. "Seria também perder o foco", diz ele. O consultor pretende vender anúncios na página em breve, mas afirma que os anunciantes não serão os estabelecimentos que visita.

Já o estudante Allan Sklarow, 23, conta que já recebeu proposta de parceria para "monetizar" o grupo que criou em 2012, mas preferiu não aceitar. "Era de um cara do Rio Grande do Norte que queria transformar o grupo em um lugar para anúncios", diz. Sklarow diz que, por enquanto, o grupo continuará como uma iniciativa despretensiosa.

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