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| Foto: Kiyoshi Ota/Bloomberg

Até o fim deste ano, a varejista de vestuário e acessórios outdoor North Face vai oferecer a seus clientes ecologicamente conscientes de sua loja no distrito de moda grã-fino de Tóquio Harajuku uma chance de salvar o planeta.

As lojas da North Face no Japão venderão uma “Parka da Lua” edição especial, a mil dólares, uma jaqueta dourada baseada no design de sua já existente parka da Antártida, feita de seda de aranha sintética, um material superforte desenvolvido pela empresa Spiber.

O presidente da Spiber, Kazuhide Sekiyama, de 33 anos, que foi quem inventou a tecnologia da empresa para fabricar seda de aranha artificial, disse que lançar o que ele chama de a primeira peça de roupa comercial do mundo feita com o material de biofibra proteica é só o começo.

Spiber e sua parceira Goldwin, uma fabricante japonesa de vestuário e acessórios esportivos, planejam expandir o uso de produtos feitos com o substituto da seda, possivelmente para roupas íntimas usadas por montanhistas ou pra a marca de produtos de rugby Canterbury. “O que faz um material com base em proteína maravilhoso é o fato de que está evoluindo” no uso de roupas e acessórios ou em outras formas de produtos industriais, Sekiyama disse em uma entrevista em Tóquio.

Linha de aranha natural, uma fibra proteica, é conhecida por seus superpoderes enquanto material: mais forte que o aço em termos relativos e mais elástico que o náilon. Diferentemente do náilon e do poliéster, linha de aranha não é derivada do petróleo, e não libera grandes volumes de dióxido de carbono durante seu processo de fabricação.

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Sekiyama estudou biociências na Universidade de Keio e decidiu pesquisar aranhas em seu último ano durante um acampamento de verão. Enquanto bebiam, ele e outros estudantes se maravilhavam com a sofisticação da habilidade de fabricação de seda do aracnídeo. Foi nesse momento que ele ficou fascinado com a possibilidade de desenvolver seda artificial.

Em 2007, Sekiyama, então com 24 anos, lançou a Spiber junto com dois de seus amigos, contra os desejos dos pais e dos professores. Os cientistas da Spiber examinaram diversas espécies de aranhas para entender a sequência genética da proteína de seda e acumularam dados sobre centenas de tipos de síntese gênica. A empresa usa micro-organismos geneticamente modificados para produzir em massa um material de proteína de seda chamado “Qmonos”, que significa “teia de aranha” em japonês.

A firma insere o DNA que desenhou em bactérias, e as cultiva alimentando-as com açúcar, usando um processo de fermentação similar ao da fabricação de saquê ou cerveja. Então eles extraem as proteínas de seda dos micro-organismos e os refinam para produzir linha.

Empresas em outros países também estão trabalhando em processos similares e a competição deve se intensificar. A empresa Bolt Threads, com sede na Califórnia, disse que está confiante a respeito de seu processo, o qual usa um micro-organismo diferente, tem uma escala de custos eficiente e pode produzir não apenas seda de aranha, mas também múltiplas fibras com propriedades de desempenho avançado.

“O mercado global para têxteis é de três trilhões de dólares, e acreditamos que há uma enorme oportunidade para microfibras proteicas produzidas de maneira sustentável”, disse Dan Widmaier, CEO da Bolt Threads. “Para serem bem sucedidas, as empresas precisam estar em condições de levar uma ampla gama de materiais avançados para o mercado a um preço que seja competitivo com as fibras atualmente disponíveis.”

Spiber disse que sua tecnologia de fibra proteica também pode ser aplicada em várias outras indústrias, de carros e vasos sanguíneos artificiais, e poderia revolucionar a produção de vários produtos industriais. “Nós humanos deveríamos dominar o uso de proteínas e acredito que esse tempo chegará”, disse Sekiyama.

Além de ser um investidor e um empreendedor, Sekiyama também é algo de um idealista. Materiais sintéticos que podem ser produzidos em massa com baixo custo e não dependem de combustíveis fósseis são bons para o planeta e reduzem a probabilidade de conflitos humanos, ele diz.

Apesar de suas grandes ambições, a empresa tem uma equipe de cerca de apenas 100 pessoas e tem dependido de financiamentos de patrocinadores, inclusive da firma de venture capital Jafco e a Universidade de Keio. Goldwin também é dona de cerca de 10% da Spiber. Para financiar pesquisas adicionais, Sekiyama está “seriamente” considerando vender ações da Spiber para o público, enquanto planeja contratar mais pessoal para acompanhar a expansão.

A seda de aranha feita pelo homem ainda tem muito que caminhar antes de se tornar uma alternativa economicamente viável para fabricantes de vestuário. A Parka da Lua é um exemplo: a jaqueta da Noth Face feita com materiais convencionais custa 80 mil ienes (736 dólares).

“O preço da Parka da Lua deveria ser muito maior, considerando o custo atual do material, mas não vamos por o preço tão lá em cima porque eu gostaria de ver mais pessoas usando-a”, disse Takao Watanabe, executivo sênior da Goldwin. Ele diz que a parka não deve custar mais do que 120 mil ienes cada.

Goldwin tem contratos para vender vestuário esportivo com as marcas North Face, Helly Hansen e Canterbury no Japão. Watanabe quer explorar o uso da seda artificial em roupas íntimas esportivas de uso cotidiano após o lançamento da Parka da Lua para visar a um mercado de produção em massa.

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