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Alexandre Tombini, presidente do BC: a elevação da Selic tem sido a arma escolhida pela autoridade monetária para tentar conter o avanço dos preços | Ueslei Marcelino/Reuters
Alexandre Tombini, presidente do BC: a elevação da Selic tem sido a arma escolhida pela autoridade monetária para tentar conter o avanço dos preços| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

O Banco Central elevou nesta quarta-feira (29) a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto porcentual, para 14,25% ao ano. Foi a sétima alta seguida do juro básico.

O aumento de 0,50 ponto porcentual da taxa, que serve de referência para o custo do dinheiro na economia brasileira, era previsto por 50 dos 58 economistas consultados em pesquisa da agência internacional Bloomberg. Os outros oito viam alta mais moderada da Selic, de 0,25 ponto porcentual.

INFOGRÁFICO: confira a evolução da taxa Selic nos últimos anos

Os juros estão agora no mesmo nível de outubro de 2006. Na época, no entanto, o BC dava continuidade a um processo de redução da taxa básica, diante de um cenário de inflação contida – o IPCA foi de 3,14% em 2006.

A decisão foi anunciada em um momento em que o dólar e o reajuste de tarifas pressionam a inflação e a atividade econômica aprofunda a recessão – o PIB recuará 1,76%, segundo analistas.

Nova alta dos juros deve aprofundar recessão, diz CNI

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia que a alta da taxa básica de juros da economia brasileira de 13,75% para 14,25% ao ano deve retrair ainda mais a atividade industrial e aprofundar a recessão. “Os juros altos encarecem o capital de giro das empresas, inibem os investimentos e desestimulam o consumo das famílias”, critica a CNI, em nota.

Para a confederação das indústrias, a política monetária não deveria ser o único instrumento utilizado para controlar os preços, em função da forte desaceleração da economia. “A recente diminuição da meta de superávit primário não deve ser um fator para comprometer a necessidade de redução dos gastos públicos”, cita a nota.

De acordo com a CNI, é preciso combinar uma política fiscal austera com a adoção de medidas pró-competitividade para estimular o investimento e a gradual recuperação da atividade econômica.

A elevação da Selic tem sido a arma escolhida pelo BC para tentar conter o avanço dos preços. Com o aumento dos juros, a autoridade monetária busca inibir consumo e investimento – que ficam mais caros –, a economia se desacelera e evita-se que os preços subam, ou seja, que haja inflação.

Mas as elevações estão demorando para surtir efeito. A prévia oficial da inflação atingiu, em julho, o maior patamar no acumulado em 12 meses desde dezembro de 2003.

Nova alta?

Para a próxima reunião do Copom, marcada para 1º e 2 de setembro, as previsões divergem sobre a possibilidade e a intensidade de uma nova alta de juros. Para José Pena, economista-chefe da Porto Seguros Investimentos, a decisão sobre a nova elevação vai depender fundamentalmente do comportamento do dólar e inflação até lá.

“Olhando para o cenário político, creio que o câmbio vá oscilar bastante. A chance de ficar estável nesse patamar é baixa, porque o Congresso retorna do recesso e vai colocar em pauta votações importantes”, diz. Nesse cenário, haveria chance de aumento de 0,25 ponto porcentual da Selic na reunião de setembro, afirma Pena. Em seguida, o BC encerraria seu ciclo de aperto monetário, deixando a Selic em 14,5% ao ano.

Por outro lado, complementa, caso o câmbio se comporte e a inflação desacelere, o BC poderia optar por encerrar o ciclo de altas na próxima reunião, o que deixaria a Selic em 14,25% ao ano – em linha com a expectativa dos economistas de instituições financeiras consultados pelo Banco Central no boletim Focus.

Há quem aposte que o Banco Central manterá o ritmo do aperto monetário e promoverá nova alta de 0,50 ponto porcentual em setembro. Para Hegedus, da Lopes Filho, este é o cenário mais provável. “A elevação dos juros surte efeito apenas no médio e longo prazo”, diz. “Como não há perspectiva clara para a política brasileira, o corte nos juros a partir do próximo ano também deve ocorrer de forma lenta, à medida que os resultados vierem.”

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Juros médios

Com a elevação da taxa básica de juros, os juros médios cobrados das pessoas físicas serão de 124,13% ao ano (ou 6,96% ao mês), segundo cálculos da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).

Em junho, o juro médio ao consumidor cobrado nas operações de crédito foi de 6,94% ao mês (ou 123,71% ao ano).

Com o aumento dos juros, é preciso ficar mais atento às contas mensais para não se endividar. “Se o consumidor tiver minimamente percepção do cenário econômico, vai diminuir as compras e evitar dívidas”, afirma Eduardo Mekitarian, professor da faculdade de economia da Faap.

Para Mauro Calil, especialista de finanças do banco Ourinvest, a principal dica é não entrar em nenhum empréstimo bancário.

“O consumidor deve evitar, a todo custo, pedir dinheiro emprestado para o banco. O melhor é pagar tudo à vista ou, então, utilizar empréstimos somente para compra de bens duráveis, como um imóvel.” Os juros de créditos mais caros para o consumidor, como cartão de crédito e cheque especial, devem seguir elevados.

Diretor do BC se abstém de participar de reunião que definiu Selic

O diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Tony Volpon, se absteve de participar da reunião do Copom desta quarta-feira (29) em que foi definida uma nova elevação de 0,5 ponto da taxa básica de juros, para 14,25% ao ano.

A iniciativa do diretor ocorreu depois que declarações dadas por ele na semana passada sobre os juros geraram polêmica.

Segundo noticiado pelo jornal Valor Econômico Volpon descartou em apresentação pública a investidores a possibilidade de votar por uma redução dos juros até que a projeção do BC apontasse para uma inflação no centro da meta de 4,5%.

Alguns analistas de mercado e políticos avaliaram que, ao fazer esse comentário, o diretor teria antecipado o seu voto no Comitê de Política Monetária.

As projeções do BC atualmente indicam que a inflação fechará este ano em 9% e em 4,8% em 2016.

Nesta quarta-feira, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) defendeu a demissão de Volpon. Na terça-feira (28), o senador José Serra (PSDB-SP) já havia sustentado, em artigo publicado na Folha de S.Paulo, que o Senado deveria se pronunciar sobre o comportamento de Volpon.

Em nota, a diretoria do BC informou que compreendeu a decisão de Volpon de não participar da reunião e que já havia “acolhido” os esclarecimentos dados pelo diretor sobre o episódio.

Em reunião extraordinária da diretoria do BC na terça-feira, cuja ata foi divulgada nesta quarta pelo BC, Volpon afirmou que seus comentários não representaram antecipação do voto, mas apenas a reafirmação de que sua decisão seria tomada com base nas projeções da inflação futura.

Como as declarações foram dadas em um evento público, “não representou vantagem competitiva ou informação privilegiada para qualquer agente econômico”, argumentou o diretor.

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