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Uma vista de Sydney, principal cidade da Austrália: depois de dez anos, o país voltou a abrir um escritório de promoção turística no Brasil – e os resultados já começaram a aparecer | Divulgação
Uma vista de Sydney, principal cidade da Austrália: depois de dez anos, o país voltou a abrir um escritório de promoção turística no Brasil – e os resultados já começaram a aparecer| Foto: Divulgação

Marketing

Estratégia inclui estudos sobre o interesse do cliente

A vice-presidente da Interamerican Network, Danielle Roman, explica que a divulgação dos destinos normalmente é feita em etapas. "Os investimentos são divididos em capacitação de operadores para venda, promoção e oferta do destino. Outra parte vai para campanhas, workshops, mídia, viagens de operadores, de jornalistas e assistência para imprensa e trade brasileiro, intermediando o diálogo com o destino", diz.

Especialista em marketing pela Harvard Business School, Ana Maria Donato, da empresa paulistana Imaginadora, observa que a venda de destinos exige sensibilidade para identificar qual é o desejo do cliente brasileiro, o que ele espera da viagem. "É preciso entender como o turista brasileiro se comporta, o que ele quer, e desenvolver estratégias que identifiquem o produto com o consumidor", afirma. Para Ana Maria, a Flórida, com seus parques e turismo de compras, fez a lição de casa. "O brasileiro já se sente em casa quando está lá", diz.

Novelas e filmes ajudam na divulgação

Escritórios oficiais não são a única maneira de divulgar um destino. Embaixadas, consulados, conglomerado de empresários também atuam como publicitários de países e destinos variados. Quando se trata de vender um país, um filme ou uma novela podem dar um empurrãozinho.

A Jordânia, país do Orien­te Médio, viu o fluxo de turistas brasileiros aumentar 82% nos últimos três anos. Um dos responsáveis pelo aumento foi a novela Viver a Vida, da Rede Globo, de 2009. Os primeiros capítulos foram gravados lá. Em 2009, foram 4.495 turistas brasileiros na Jordânia. Em 2010, o número aumentou para 8,2 mil; em 2011, foram 8,4 mil. No segundo trimestre de 2012, foram mais de 3 mil turistas visitando o país, um aumento de 60% em relação ao mesmo período em 2011.

No caso do cinema, a trilogia O Senhor dos Anéis, de Peter Jackson, colocou a Nova Zelândia no mapa do turismo. Destino conhecido pelos esportes radicais, o país da Oceania serviu de cenário para épicas batalhas da Terra Média. "É uma divulgação gratuita muito positiva. Estamos ansiosos pela estreia de O Hobbit" (novo filme de Jazkson, também baseado na obra do escritor JRR Tolkien), afirma o embaixador do país no Brasil, Jeffrey Mcalister, que esteve em Curitiba divulgando o país.

A Nova Zelândia não tem um escritório de divulgação no Brasil. Nesse caso, a própria embaixada mantém algumas ações de divulgação. "Nós queremos investir numa ligação direta entre o Brasil e a Nova Zelândia. O fim do voo entre Buenos Aires e Auckland representou um baque para o turismo local", explica.

Gastador

Entre 2010 e 2011, segundo dados da Organização Mundial do Turismo, os gastos dos brasileiros no exterior subiram de US$ 16,4 bilhões para US$ 21,2 bilhões. Com isso o país se tornou o 11º no ranking dos turistas que mais gastam.

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Israel, Equador, Jordânia, Austrália, Estados Unidos, França... Todos querem os brasileiros. A crise econômica que atingiu a Europa e os Estados Unidos fez os destinos internacionais procurarem novos mercados consumidores, e o viajante do Brasil é um dos alvos. Nos últimos dois anos, pelos menos 40 escritórios de turismo oficial desembarcaram no país. Eles funcionam como unidades de promoção, marketing e apoio à venda de produtos, serviços e atrativos turísticos no mercado brasileiro. E apostam no setor para recuperar a economia em seus países de origem, principalmente na Europa.

Não faltam motivos para massificar a divulgação dos destinos estrangeiros no Brasil. Dados da Organização Mundial do Turismo, da ONU, apontam que os brasileiros aumentaram em cerca de 30% seus gastos no exterior entre 2010 e 2011, de US$ 16,4 bilhões para US$ 21,2 bilhões. Com isso, o país passou do 18º para o 11º no ranking dos turistas que mais gastam em viagens internacionais. Em alguns lugares, como Nova York e Flórida, estão em primeiro lugar.

Países

De acordo com a vice-presidente da Interamerican Network – empresa paulistana que representa companhias aéreas, hotéis e dez países turísticos –, Danielle Roman, as estratégias de divulgação são traçadas de acordo com o cenário econômico. "Os maiores emissores de turistas sempre foram os Estados Unidos e os países europeus. Com a crise, novos mercados consumidores surgiram e o Brasil se destacou pelo poder econômico", diz.

O perfil do turista brasileiro também é atraente. "Gostamos de comer bem, jantar, passear, conhecer. O brasileiro usa toda a cadeia turística. Embora não viaje tanto quanto os outros, consome bastante quando sai de casa", afirma.

Um dos novos captadores internacionais é a Austrália. Em setembro de 2011, o país voltou a ter representação na América Latina depois de passar dez anos longe da região. Os resultados apareceram rápido: no ano passado, 29.203 brasileiros visitaram o país (9% a mais que em 2010), e o gasto médio por pessoa foi de US$ 8.215. O objetivo do Tourism Australia é dobrar os números até 2020.

Segundo a vice-presidente do Tourism Australia para as Américas, Jane Whi­tehead, para incrementar o número de turistas brasileiros, a Austrália será trabalhada como destino de lazer. Atualmente, o país é procurado para intercâmbios estudantis e esportes de aventura. "Treinar operadores e agentes de viagem em nossos produtos será o foco principal e a chave para o crescimento do mercado."

Outro exemplo do potencial emissor turístico brasileiro é Las Vegas, nos EUA. Mesmo sem voos diretos, a cidade atraiu 133 mil brasileiros em 2011 e já é o quarto destino preferido nos Estados Unidos, depois de Nova York, Miami e Orlando. "Este foi o primeiro ano que os visitantes brasileiros entraram nas estatísticas de Vegas. Antes disso, não éramos contabilizados por que ficávamos abaixo dos 50 mil", conta.

Brasil tem escritórios em oito países

Para divulgar o Brasil no exterior, o Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), órgão do Ministério do Turismo responsável pela representação do país, mantém escritórios em Portugal, França, Reino Unido, Espanha, Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos (Nova York e Los Angeles). Também tem comitês fixos em oitos países da América Latina. Criados em 2004, os Escritórios Brasileiros de Turismo (EBTs) promovem encontros, seminários, treinamentos e workshops para divulgar o país para operadoras, agências e companhias aéreas estrangeiras.

Entre as conquistas listadas pela Embratur está o aumento do número de visitantes. No ano passado, 5.433.354 turistas entraram no país, 5,3% a mais do que 2010. De acordo com dados do Banco Central, os gastos efetuados por turistas estrangeiros em visita ao Brasil, em 2011, somaram US$ 6,775 bilhões, 14,46% a mais do que os US$ 5,919 bilhões gastos em 2010.

Segundo o diretor de Mercados Internacionais do Embratur, Marcelo Pedroso, o Brasil vai ampliar o número de EBTs: mais um nos Estados Unidos, provavelmente em Chicago; um na Holanda, que também atenderá a Escandinávia; e outros dois na América do Sul, para atender os países do Cone Sul e Andinos.

Outra ação prioritária é a publicidade. Nos próximos anos, além de aproveitar a pro­paganda gratuita que virá com a Copa de 2014 e a Olim­píada de 2016, o país vai investir US$ 40 milhões em publicidade em 100 países. O objetivo é atingir a marca de 10 milhões de turistas/ano em 2020 e US$ 15 bilhões em gastos.

O resultado do turismo estrangeiro por aqui ainda é tímido. O Brasil ocupa apenas a 37.º posição entre os países que recebem turistas, está atrás de países como Croácia (22º) e Cingapura (29º). Em primeiro lugar está a França, com 80 milhões de visitantes. Na opinião diretor de relações internacionais da Associação Brasileira das Agências de Viagens, Leonel Rossi, o Brasil não é bem divulgado. "Nas páginas das principais publicações de turismo temos matérias e anúncios da Polônia, do Panamá, mas não temos do Brasil", protesta. Para a especialista em mar­keting de destinos Ana Maria Donato, o Brasil reconhece a necessidade de divulgação, sabe o que deve ser feito, mas peca pela burocracia interna. "Fazer uma licitação para selecionar uma empresa para cuidar dos escritórios de divulgação é muito burocrático. O país já teve problemas com isso no passado", afirma.

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