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Secretária de Educação americana, Betsy DeVos, é entusiasta das escolas virtuais | DivulgaçãoU.S. Department of Education
Secretária de Educação americana, Betsy DeVos, é entusiasta das escolas virtuais| Foto: DivulgaçãoU.S. Department of Education

A Secretária da Educação dos Estados Unidos, Betsy DeVos, é a maior embaixadora de um modelo educacional ousado que começa a ganhar espaço: o ensino virtual dentro e fora das escolas. DeVos colocou a revolução no modelo tradicional como um dos pontos centrais do seu mandato. “Nosso cenário atual é um sistema fechado que se baseia em soluções padronizadas. Precisamos de um sistema aberto que engloba escolhas e compreende o futuro”, disse ela em um congresso no mês passado.

O que a autoridade máxima da educação americana tem em mente é uma escola flexível, alinhada às necessidades específicas de cada aluno, com o uso efetivo de tecnologia como uma ferramenta mediação do processo de ensino. 

“Todas as crianças são empurradas para uma escola, onde se sentam em uma sala de aula e um professor fica na frente jogando conteúdo, que os alunos regurgitam. Esse cotidiano não fará parte do futuro”, disse Kevin Chavous, entusiasta da ideia e membro do conselho da Federação Americana para as Crianças em entrevista à The Atlantic. 

Rota de escape 

Permitir aos alunos uma saída do ambiente físico da escola também pode aliviar tensões que são construídas na sala de aula. “Na minha antiga escola, os professores faziam bullying na sala de aula e os colegas faziam bullying no pátio. Eu não aprendia muito, tinha medo de matemática porque o professor era horrível. Agora me sinto mais confiante porque uso mensagem em vez de ficar de pé e falar em voz alta”, contou Natalie, 13, aluna de uma escola virtual em Londres, em entrevista à BBC. 

À primeira vista, a distância dos alunos pode parecer um ponto de ressalvas. Mas pesquisas indicam que jovens educados em ambientes externos à sala de aula têm o mesmo tipo de desenvolvimento social que aqueles que frequentam o ambiente escolar tradicional. 

“Em termos de autoconhecimento, autoestima e capacidade de se relacionar em grupos, alunos que não frequentam uma escola tradicional se saem tão bem quanto os seus pares que frequentam escolas públicas”, afirma Brian Ray, presidente do Instituto de Pesquisa Nacional para Educação Em Casa (National Home Education Research Institute). 

Os resultados do ensino virtual já são percebidos nos Estados Unidos, onde mais de 316 mil alunos frequentavam escolas virtuais em 2014, segundo levantamento do Evergreen Education Group - o volume de alunos considera aqueles matriculados em escolas 100% virtuais, cursos complementares online e instituições que integram o ambiente virtual ao seu modelo tradicional de ensino. 

Nesse cenário, uma pesquisa realizada pelo Departamento de Educação dos Estados Unidos constatou que os alunos envolvidos em contextos de ensino virtual, sobretudo em ensino misto, apresentaram desempenho superior àqueles que receberam apenas ensino presencial. 

Mesclando possibilidades 

Com as vantagens do ensino virtual e a confiabilidade do ensino presencial, o ensino misto, que se baseia no uso de atividades e orientações online como uma forma de apoio às aulas presenciais, é uma alternativa para a solução de problemas dos outros dois modelos. Nesse modelo, entre 30 e 70% da carga horária é realizada virtualmente, com o restante ancorado em ensino presencial. 

A chave para a eficácia desse modelo é a criação de ferramentas de ensino e aprendizagem específicas para o ambiente virtual, em oposição a uma simples mudança de mídias. 

“Estamos vendo um ensino mais misto, mas a maioria das pessoas que dizem estar fazendo ensino misto na verdade só estão integrando tecnologias na sala de aula”, disse Allison Powell, vice-presidente de serviços estaduais e distritais da iNACOL (International Association for K-12 Online Learning), organização internacional voltada para o ensino misto e online, à The Atlantic. 

Brasil 

No Brasil, o uso de tecnologia na sala de aula ainda enfrenta desafios, como a falta de equipamentos adequados, sobretudo na escola pública. Mesmo assim, apesar das dificuldades físicas, a conectividade já é parte do cotidiano escolar nos centros urbanos. 

Segundo pesquisa realizada pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), ligado ao Comitê Gestor da Internet, três em cada quatro professores utilizaram a internet em alguma de suas aulas em 2015. A pesquisa realizada com cerca de 1,6 mil profissionais de ensino fundamental e médio em centros urbanos do país constatou que 98% dos professores e 83% do alunos da rede pública acessaram a internet pelo menos uma vez nos últimos três meses. 

Com o uso de tecnologia se tornando uma prática recorrente na sala de aula, surge o desafio de como fazer o melhor uso das ferramentas para o ensino. Ainda segundo os dados do NIC.br, as principais atividades feitas pelos professores com o auxílio da internet nas suas aulas foram pesquisas escolares (59%), trabalhos em grupo (54%) e exposição simples de aulas (50%). Uma parcela menor dos educadores utilizou ferramentas online específicas para o ensino, como jogos educativos (31%). 

"A ideia de um tempo específico e um lugar específico para a aula é uma invenção do século XIX. A escola e, principalmente, o aprendizado, não dependem, necessariamente, de um modelo presencial. O uso de recursos virtuais encontra - ou deveria encontrar - terreno fértil na Educação”, pondera Daniel Medeiros, doutor em Educação Histórica e professor do Colégio Positivo.  

Para ele, é fundamental associar o conceito de escola à ideia de aprendizagem. “Essas ferramentas são excelentes para certas funções, mas não para todas. A presença do outro, a construção da noção de diferença e, com ela, de tolerância, exigem tempo e presença”, conclui.

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