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Não é preciso exagerar e ser um palhaço em sala de aula para convencer alunos de 11 a 15 anos, na entrada da adolescência e com interesses muito diferentes dos propostos no currículo do 6.º ao 9.º ano do ensino fundamental, a estudarem. O segredo do sucesso é acessível e difícil: mostrar para que servem os conteúdos e relacioná-los com os interesses dos estudantes.

“O aluno pode adquirir qualquer conhecimento pela internet, como reações químicas, por exemplo. Já a importância de aprender química ele entende com o professor, essa é a diferença”, explica a professora Araci Asinelli da Luz, doutora em Educação e professora na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Para conseguir esse objetivo, o professor precisa ter consciência das características dos alunos que têm à sua frente. No caso do 6.º ano, são estudantes que acabam de desfrutar da fase de ouro da aprendizagem e agora terão de aprender de forma mais árdua. Ao mesmo tempo, eles passam a ter vários professores, em geral pouco preocupados com a atenção personalizada que era própria do ensino até o quinto ano. “E existe ainda a questão da diversidade dos alunos, porque nenhum deles faz essa transição de forma igual”, acrescenta Evelise Portilho, doutora em educação e professora da PUCPR.

Tendo esses elementos em conta, vem o desafio de dar sentido aos ensinamentos. “É muito importante que o professor trabalhe o significado e o valor da sua disciplina, mas antes é preciso captar a atenção, o que pode ser feito por meio de filmes, teatros, dinâmicas para que o estudante se sinta instigado e refletir sobre as questões propostas”, diz a doutora em educação Maria Aparecida Mezzalira Gomes, pesquisadora da Unicamp. Ela lembra também que do 6.º ao 9.º ano a energia dos alunos está voltada principalmente aos afetos e às relações interpessoais – e o professor precisa entrar nessa dinâmica para que o aluno queira aprender.

Além disso, lembra Araci Asinelli, o professor pode ceder em alguns poucos para conquistar a confiança dos alunos e, como consequência, o engajamento no estudo. “Assim como os estudantes têm de abrir mão de algumas coisas, o professor também deve abrir mão de outras para criar esse vínculo, entre pessoas de gerações diferentes”, afirma. Há sinais de rebeldia, como a maneira de se vestir, de se pentear, entre outras, que fazem parte da idade e não prejudicam o ambiente escolar.

Violência e moleza

É fácil convencer os alunos na base da violência e do temor, mas isso não traz bons resultados em longo prazo. A princípio, os estudantes correspondem por medo, mas ou ficam traumatizados – aquelas pessoas que na vida adulta dizem ‘não ter jeito’ para uma determinada área do conhecimento – ou que, na primeira oportunidade, fogem da escola.

Por outro lado, a falta de firmeza do professor é compreendida pelos alunos por insegurança e pouco conhecimento na matéria. “Na verdade, pode não parecer, mas os alunos desta idade querem ser vistos, percebidos, conversar, mostrar as suas dificuldades. O professor às vezes fica nas questões burocráticas e acadêmicas e não presta atenção nisso. Quando, por outro lado, cria essa parceria saudável, é correspondido e surpreendido pelos alunos”, garante Evelise Portilho.

Dicas para a sala de aula

Não existem receitas prontas para motivar os alunos e sim ideias inspiradoras para quem quer sair do ‘mais do mesmo’ para alcançar bons resultados. Confira algumas delas.

Mostre para que servem os conhecimentos

Por que não começar uma aula afirmando que os alunos passarão a entender como estudar a trajetória de um foguete? Ou por que o detergente elimina a sujeira? É mais animador que ensinar diretamente uma equação de segundo grau ou mostrar uma reação química. “Quando o professor contextualiza um conhecimento, mostra que aquilo tem a ver com o dia a dia ou com uma perspectiva futura do aluno e é mais fácil despertar nele o prazer e o interesse por aprender a disciplina”, comenta Maria Aparecida Mezzalira Gomes, pesquisadora da Unicamp.

Mostre o estudo como meio para conquistar sonhos

Se os jovens percebem que estudar pode levá-los longe, a alcançar altas metas profissionais, posições de destaque como protagonistas de mudanças significativas no mundo, vão se esforçar. Facilitar que escutem testemunhos de pessoas de sucesso, visitar com eles ambientes de excelência, como universidades com pesquisa de ponta ou empresas de sucesso, são algumas das ferramentas eficientes para chegar a esse objetivo.

Respeite e estimule a vocação profissional dos alunos

Do 6.º ao 9.º ano do ensino fundamental, assim como no ensino médio, é difícil atender de forma personalizada cada um dos alunos e fomentar o que eles têm de melhor. Isso é uma falha mais da estrutura da escola – poucas horas, muitas disciplinas – do que dos professores, ainda que alguns colégios e escolas consigam fazer um acompanhamento paralelo. Mesmo assim, um bom professor tenta identificar as diferentes qualidades de seus alunos e potencializá-las. O estudante mais rápido que tenha exercícios paralelos da área que mais lhe agrada; outro, mais artista, que possa participar de atividades interdisciplinares focadas nesta área, etc. Assim, os alunos conseguem ter prazer ao estudar e aprendem melhor.

Dê autonomia em algumas decisões

O professor é responsável por organizar a sala e a aprendizagem, mas será tanto mais líder e convincente quanto consiga compartilhar algumas decisões. Quando as determinações sobre trabalhos, atividades e exercícios são feitas pela turma é mais fácil que os estudantes se responsabilizem pelo sucesso dos mesmos e queiram mostrar bons resultados.

Prepare melhor a sua aula

Sem ordem lógica de conceitos, não há aprendizagem. Revise várias vezes para ver se as conexões feitas fazem sentido para os alunos. Se a apresentação do conteúdo for confusa, a turma desconecta.

Aulas dinâmicas empolgam

O professor, por mais excelente que seja, não é capaz, sozinho, de conquistar os alunos para uma determinada matéria. Por isso, além das aulas expositivas, as especialistas indicam a realização de desafios por meio de experiências, projetos e atividades em grupo, dentro e fora de sala.

Pais, às vezes, ‘jogam contra’

Quando os pais viajam com frequência com os filhos durante as aulas ou não acompanham o desempenho deles na escola dão um recado ‘tácito’ que estudar não é algo importante para a família. Os especialistas afirmam que isso é um desafio comum na sociedade brasileira.

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