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Aos 17 anos, Fabíola Alves (de blusa listrada) fará seu primeiro vestibular no próximo domingo. | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Aos 17 anos, Fabíola Alves (de blusa listrada) fará seu primeiro vestibular no próximo domingo.| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Em 84 cursos dos 119 ofertados pela UFPR no vestibular 2015/2016, a concorrência para egressos da escola pública é maior do que para os não cotistas. A maior diferença é observada no curso de Medicina Veterinária de Curitiba – são 49 candidatos por vaga destinada a quem cursou ensino médio em escola pública, e 32 candidatos por vaga na ampla concorrência.

INFOGRÁFICO: Veja a relação candidato por vaga dos diferentes cursos

A opção pelas cotas foi feita no ato da inscrição e não pode ser modificada para a prova, que terá a primeira fase neste domingo, dia 8. Estão sendo ofertadas 4.886 vagas no vestibular, para 58.934 inscritos, número recorde. Outras 1.929 vagas são destinadas para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que será realizado em janeiro pelo Ministério da Educação, com base na nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Problema é falta de vagas na rede pública, dizem especialistas

Defensor das cotas sociais e raciais nas universidades, o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, diz que os dados do vestibular da UFPR mostram uma demanda reprimida. “O desafio é ampliar vagas de qualidade no ensino superior. O Plano Nacional da Educação determina a criação de 2 milhões de vagas públicas”, afirma.

Na avaliação de Cara, não há motivo para o aluno da rede pública se sentir frustrado ao se deparar com uma concorrência maior. Opinião semelhante tem André Lázaro, do Laboratório de Políticas Públicas da UERJ. Segundo ele, outros processos seletivos têm registrado alta concorrência para cotistas sociais. “Isso não significa que o sistema não funciona, mas sim que a imensa maioria dos estudantes do ensino médio está na escola pública, que grande parte da população é pobre e se encaixa nos critérios de renda exigidos; e que a juventude da escola pública acredita que a educação é de fato um caminho importante para a mobilidade social, tão necessária numa sociedade com os padrões de desigualdade como a brasileira”, disse, em entrevista por e-mail.

Outras políticas

Entretanto, para o sociólogo Simon Schwartzman, membro da Academia Brasileira de Ciências, os dados da UFPR mostram que o sistema de cotas não funciona. “A maioria dos alunos do ensino médio é de rede pública, e por isso a concorrência continua muito alta. Passam no vestibular aqueles alunos que já entrariam de qualquer maneira”, avalia. Ele diz que o ideal é criar vários sistemas de seleção. “Precisamos de várias políticas de inclusão, porque o ensino e as condições sociais são muito desiguais. Mas não está dando certo pelo sistema de cotas, há muitas evidências disso”, acrescenta.

Essa é a primeira vez que a UFPR aplicará o sistema de cotas já na primeira fase (e não só para os candidatos que passaram para a segunda etapa, como ocorria desde a implantação da reserva de vagas), destinando 50% das vagas para oriundos do ensino médio da rede pública Com a mudança no número de vagas para cotistas, a instituição se enquadra na Lei Federal n.º 12.711/12. Dentro desse porcentual, metade das vagas é destinada a estudantes de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário mínimo.

Desvantagem

Os estudantes da rede pública também enfrentarão bastante concorrência nos cursos de Agronomia (câmpus Palotina); Letras - Inglês Diurno; Medicina Veterinária (câmpus Palotina); Enfermagem; Educação Física; Fisioterapia; Biomedicina; Nutrição e Medicina (câmpus Toledo); e Artes Visuais. Em todos esses casos, há de 7 a 12 candidatos a mais por vaga em relação à ampla concorrência. Nos cursos mais tradicionais, como Medicina e Direito diurno, os egressos da escola pública têm um pouco de vantagem. Na concorrência geral, o número de candidatos por vaga é de 102,11 e 48,43, respectivamente. Na cota social são 57,96 inscritos por vaga em Medicina e 32,75 em Direito.

Vagas raciais

A lei federal das cotas também determinou uma proporção destinada aos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas. A UFPR destinou aproximadamente um terço da cota de 50%.

Para os estudantes que se declararam com essas características, a concorrência é bem menor.

No curso de Medicina Veterinária em Curitiba, por exemplo, são 6,33 candidatos por vaga independentemente da renda, e 4,25 por vaga para quem tem renda de até 1,5 salário mínimo. Caso as vagas raciais não sejam preenchidas, elas serão destinadas para os oriundos das escolas públicas.

De acordo com a pró-reitora de graduação da UFPR em exercício, Maria Lúcia Accioly Teixeira, engana-se quem acha que no sistema de cotas há mais chances de passar. “Na verdade, o candidato precisa estar preparado. Não teria como saber, no ato da inscrição, como os demais concorrentes iriam se posicionar. Em alguns cursos, como Arquitetura, a concorrência é a mesma”, observa.

A lei das cotas, que entrou em vigor em 2012, determinou que em 10 anos seja feita uma reavaliação da norma.

Confira a relação completa dos candidatos em cada curso no site da UFPR.

Pau a pau

Aos 17 anos, Fabíola Alves fará seu primeiro vestibular no próximo domingo (8). Estudante do 3.º ano de um colégio estadual de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, ela optou pelo sistema de cotas na esperança de enfrentar uma concorrência menor. “Você compete com menos gente, então é mais fácil você entrar por cota”.

Fabíola fará a prova para Arquitetura e Urbanismo. Apesar da impressão da estudante, o número de candidatos por vaga para esse curso é praticamente o mesmo entre cotistas e não cotistas: 36,10 candidatos por vaga para escola pública e 37,75 para a concorrência geral. A dica do sistema de cotas foi dada pela irmã de Fabíola, que conquistou uma vaga no curso de Enfermagem em 2009, ainda no sistema antigo de cotas.

Para conseguir a vaga, ela aposta na preparação feita pelo cursinho Em Ação, pré-vestibular voltado para estudantes de baixa renda. Foi lá que ela aprendeu muitos dos conteúdos que caem na prova e não foram ensinados em seu colégio. Além disso, foi no cursinho que Fabíola teve aula de desenho artístico, habilidade cobrada na segunda fase do vestibular de Arquitetura.

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