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Visita a casa de Maria Eduarda: iniciativa auxilia no processo de adaptação. | Diivulgação.
Visita a casa de Maria Eduarda: iniciativa auxilia no processo de adaptação.| Foto: Diivulgação.

Muitos pais perdem o sono pensando em como será a adaptação dos filhos na escola. O assunto é recorrente entre mães, seja em situações em que precisam deixá-los na escola após a licença-maternidade ou mesmo quando os pais querem que eles passem a conviver e interagir com outras crianças da mesma idade. Por mais convictos que estejam, um misto de sentimentos, do medo à ansiedade, pode tornar ainda mais difícil essa fase. 

O novo gera insegurança em qualquer idade, mas na educação infantil esse processo é ainda mais intenso: crianças se veem em um ambiente coletivo com regras diferentes daquelas praticadas em casa, são estimuladas a participar de atividades incomuns e passam a conviver com pessoas que até então não faziam parte da sua rotina. Para diminuir os traumas, é fundamental que os pais confiem na escola para que, assim, possam transmitir tranquilidade aos filhos. 

Adaptação 

De acordo com o artigo “O processo de adaptação da criança na creche: seu desenvolvimento afetivo, cognitivo e psicomotor”, a adaptação de uma criança é determinado por diversos fatores e depende da participação de pais, educadores e instituição, como agentes facilitadores. 

“Se a adaptação for feita de maneira adequada, a permanência da criança na instituição de educação infantil tende a ser tranquila, o que colabora também para o seu crescimento afetivo, psicomotor, cognitivo e social”, diz. 

Segundo a psicopedagoga e mestre em distúrbios do desenvolvimento Karen Kaufmann Sacchetto, para que uma adaptação escolar ocorra da melhor maneira possível, ela precisa minimizar sofrimentos desnecessários. 

“Quando nos preparamos para situações, elas acabam sendo menos dolorosas do que se apresentavam. Quanto menor o filho, mais difícil parece a separação e maior a ansiedade dos pais. O bebê não fala e isso provoca nos pais um vazio, pois não têm o registro que gostariam de como foi aquele dia do ponto de vista do bebê”, argumenta. 

Separação gradual

Diretora da Escola Paraíso da Criança, de São José do Inhacorá, no interior do Rio Grande do Sul, a especialista em gestão e organização escolar Sandra Reckziegel explica a maneira que considera ideal para o primeiro contato com a escola. 

“Os pais precisam preparar a criança, deixá-la pouco tempo na escola no primeiro dia de aula e, gradualmente, aumentar este tempo a cada dia. Normalmente em até duas semanas a criança está totalmente adaptada e já fica no período integral”, explica. Este aumento gradual da permanência da criança no ambiente escolar é uma das formas mais adotadas para adaptação nas escolas infantis. 

Criatividade 

Outra forma de auxiliar na adaptação escolar tem sido adotada na escola Atuação, em Curitiba (PR), há oito anos. A diretora e psicopedagoga, Esther Cristina Pereira, explica que o método funciona da seguinte forma: alguns dias antes do início das aulas, cada aluno recebe em sua casa a visita da futura professora e da coordenadora pedagógica.  Neste encontro, a educadora leva um boneco ou boneca devidamente uniformizado, que representa o aluno, conversa com os pais, tira fotos com a criança e a família. Essas imagens são impressas e inseridas em um mural que fica exposto na sala durante os primeiros dias de aula. 

“A foto serve como uma referência emocional para o aluno, que vai olhar para a imagem e lembrar daquele momento em casa, o que exclui a ideia de total estranhamento ao chegar na escola”, afirma. Segundo Esther, o encontro com a criança e a família ajuda também na adaptação dos pais, já que eles aproveitam para tirar dúvidas e criar um vínculo com a escola. 

De acordo com Esther, este modelo é comum na Finlândia. “Conhecemos em uma viagem que fizemos até lá e resolvemos implantar em nossa escola. O resultado tem sido adaptação mais leve, pais mais tranquilos e as crianças se sentem mais seguras porque não têm o impacto de chegar e encontrar uma professora totalmente desconhecida”, revela. 

Para Carolina Biscaia da Silva, mãe de Lucas, de 7 anos e Daniel, de 2, o método de adaptação da foi fundamental para a escolha pela instituição, há 5 anos. “Quando fui conhecer a escola fiquei sabendo como era feita a adaptação com a visita da professora em casa e isso me deu mais segurança”, recorda. 

Contando com os resultados positivos deste processo, Marcela Gulak, mãe de Maria Fernanda, de 1 ano e 10 meses, passa pelo mesmo processo. De acordo com ela, o fato de receber a professora em casa e poder interagir com a filha no ambiente em que está acostumada é fundamental. “No dia em que fui entregar o material na escola, levei minha filha junto e encontramos a professora. Quando ela viu saiu correndo para abraçá-la”, conta Marcela, que acredita que a estratégia de adaptação torna família e escola mais próximas. 

Particularidades 

Conforme o artigo “O ingresso e adaptação de bebês e crianças pequenas à creche: alguns aspectos críticos”, não há consenso sobre o próprio conceito de adaptação e, menos ainda sobre os fatores que estão associados a este processo. O estudo diz ainda que cada criança precisa de um período de tempo diferente para se adaptar, sendo importante respeitar o ritmo da própria criança e não impor um período pré-determinado para a adaptação. 

De acordo com Karen, muitos pais têm um sentimento de culpa por não poderem estar o tempo que julgam ideal ao lado dos filhos. “Aqui vale a velha máxima ‘O que importa é a qualidade e não a quantidade do tempo que passam juntos’. Não há porque se sentir assim. As crianças crescem, amadurecem e precisam de novas experiências com outras da mesma idade”, diz.  

“Todos superam essas ‘dores’ dos primeiros dias na escola e, logo, eles farão parte de uma lembrança distante”, completa. 

Independente do método de adaptação oferecido pela escola, é importante ter claro que trata-se de um processo complexo e gradual que exige a participação de pais, filhos e instituição de ensino: não existe um método 100% eficiente a prova de choro. 

Um dos poucos consensos é que é necessário que os pais confiem na escola e que ambos respeitem o tempo que a criança precisa para se sentir totalmente confortável. Só assim ela poderá explorar e aproveitar todas as possibilidades que esta nova fase oferece.

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