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Em dez anos, a consulta aos livros nas bibliotecas paulistanas caiu 70% – de 2,3 milhões em 2007 para 733 mil em 2016, conforme dados tabulados pelo jornal O Estado de S. Paulo e obtidos em relatórios do Sistema Municipal de Bibliotecas.

A reportagem visitou seis bibliotecas municipais em diferentes pontos da cidade e encontrou o mesmo cenário de falta de público em todas. Por outro lado, os chamados telecentros – espécie de cyber café municipal no mesmo espaço das bibliotecas – estavam sempre lotados.

A Biblioteca Infantil Clarice Lispector, na Lapa, zona oeste da cidade, teve queda de 54% no número de consultas entre 2007 e 2016. De 35,4 mil consultas há uma década, teve só 16,3 mil no ano passado. Durante a visita da reportagem, por volta das 11h de uma quinta-feira, havia somente dois visitantes.

O estudante Lucas Oliveira, de 17 anos, acompanhava a irmã Marina, de 8, que estudava. “Gosto de trazer ela aqui para ficar mais perto dos livros. Mas nunca foi um lugar muito cheio. Eu só venho porque é perto de casa”, conta. Um dos chamarizes para o estudante foi a chegada de Wi-Fi no local. “Acho que vai atrair público.”

Na Biblioteca Arnaldo Magalhães, no Tatuapé, zona leste da cidade, que teve só 1,3 mil consultas no ano passado – menor índice de todo o sistema municipal – também só havia duas pessoas: a dona de casa Nádia Verônica Oliveira Martins, de 29 anos, e o filho Davi, de 7. “É sempre vazio assim mesmo”, conta.

Se as cadeiras da biblioteca ficam vazias, o mesmo não pode ser dito sobre o telecentro, que tinha até fila para acessar os computadores. “É sempre assim, vazio de um lado e cheio do outro. Se antes recebíamos 200 visitantes em um dia, hoje não chega a 30”, diz um funcionário.

Creche

Quem vê a movimentação da Biblioteca Jamil Almansur Haddad, em Guaianases, na zona leste paulistana, nem desconfia que o índice de consultas vem caindo ano a ano. Durante a visita da reportagem, no período da tarde, a unidade estava lotada, mas não pelos livros: havia uma fila de crianças que queriam acessar os mais diversos tipos de jogos nos computadores do telecentro. “Muitas vezes tem alguma escola municipal sem aula aqui na região e os pais mandam a criança pra cá”, conta uma funcionária do telecentro.

O secretário de Cultura, André Sturm, destaca que “nossa métrica não é a de consultas, mas a de levar pessoas para a biblioteca”. “Se o cidadão for para a biblioteca para fazer um trabalho usando o Wi-Fi, ou utilizar o computador, não aumenta consulta. Mas estamos dando mais utilidade para as bibliotecas”, afirmou.

Em meio à queda de público, a Prefeitura de São Paulo reduziu o atendimento de parte das bibliotecas municipais da cidade. A aposta do governo João Doria é de fechar as unidades por um dia na semana, às segundas ou às sextas, em troca de abri-las por meio período aos domingos, para atividades artísticas. Ao menos 19 das 54 bibliotecas aderiram a esse novo regime. A ideia é que os funcionários que folgaram nesses dias possam trabalhar no novo dia de atendimento sem custo adicional.

A unidade de Guaianases é uma das que deixaram de abrir às sextas para oferecer meio período de atendimento aos domingos. Sturm disse ao Estado que a troca de um dia da semana pelo domingo é “estratégica”. “Infelizmente nós temos um quadro de pessoal muito pequeno nas bibliotecas. Não temos como fazer diferente”.

De acordo com o secretário, o aumento de atividades culturais “vai provocar efeitos significativos na frequência das bibliotecas”. Ele destacou que a maioria das unidades já está funcionando todos os dias e, “em breve”, todas funcionarão 7 dias por semana.

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