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Aula de programação em projeto da Code.org | Reprodução/Youtube/Code.org
Aula de programação em projeto da Code.org| Foto: Reprodução/Youtube/Code.org

“Programação deveria ser obrigatória em todas as escolas públicas.” A declaração de Timothy D. Cook, diretor executivo da Apple, para o presidente dos EUA, Donald Trump, em um fórum de tecnologia na Casa Branca resume os objetivos do Vale do Silício para a educação norte-americana: por meio da ONG Code.org, as principais companhias do setor estão atuando para levar programação a crianças e jovens das escolas públicas dos Estados Unidos. 

A Code.org foi fundada em 2012 pelos irmãos Hadi Partovi, investidor do Facebook e Airbnb, e Ali Partovi, investidor do Dropbox e Zappos, com o objetivo de proporcionar o ensino de ciências da computação para todas as escolas públicas do país. Para eles, esse conhecimento é tão essencial para estudantes quanto leitura e matemática: “Criptografia é tão fundamental quanto fotossíntese”, diz Hadi. 

A ONG ganhou notoriedade com o lançamento de um vídeo viral para provocar uma demanda em massa por aulas de programação. Desde o lançamento, a organização arrecadou mais de US$ 60 milhões, levou doze estados a mudarem suas políticas educacionais e lançou o programa Hour of Code (Hora do Código), que alcança mais de 100 milhões de estudantes no mundo, além de oferecer treinamento para mais de 57 mil professores. Hoje, a organização é o maior provedor do mundo de aulas de programação e oferece um dos currículos de ciência da computação mais compreensíveis para iniciantes. 

“Eles tem uma abordagem em múltiplas frentes. É um modelo único que gostaria de ver sendo replicado”, diz Amy Klement, sócia da Omidyar Network, organização filantrópica de investimentos criada pelo fundador do eBay, Pierre Omidyar, e sua esposa, Pam Omidyar. 

Modelo

O método da Code.org é similar ao de diversas companhias do Vale do Silício que inovam um mercado criando uma nova mediação entre o produto e o consumidor. “O Airbnb está quebrando o padrão do espaço de viagens, mas eles não são donos dos hotéis. Nós estamos em um modelo similar, quebrando os padrões da educação, mas nós não estamos administrando a escola ou contratando os professores”, explica Partovi. 

A importância da iniciativa já é reconhecida pelos maiores nomes do setor. Para Bradford L. Smith, presidente da Microsoft, a empresa que mais investe na iniciativa, os planos da ONG se comparam ao cenário que existiu nos EUA na década de 1950, quando o governo passou a investir mais no ensino de física como um esforço de preparar profissionais que ajudassem a vencer a corrida espacial. “Acreditamos que ciências da computação está para o século 21 como física estava para o século 20”, diz. 

Um dos objetivos principais da organização é a mudança de legislação e de políticas educacionais para incluir ciências da computação no ensino público. De acordo com Partovi, a ONG, juntamente com a Microsoft, influenciou 24 estados norte-americanos a mudarem as suas regulações para permitir que ciência da computação conte como parte da carga obrigatória de matemática ou ciência no ensino médio. 

Controvérsias

Com o capital de empresas financiando mudanças em políticas educacionais, críticos expressam uma preocupação de a educação passar a ser guiada para os objetivos da indústria, e não para as necessidades dos alunos.

“A situação se torna muito problemática quando a indústria decide o conteúdo e a direção do ensino público”, alerta Jane Margolis, pesquisadora na Escola de Pós-Graduação em Estudos da Educação e Informação da Universidade da Califórnia, Los Angeles. 

Mas de acordo com Pertovi, a Code.org se opõe a políticas mais extremas que exigem uma dependência da indústria para a formação dos alunos. A posição é reiterada por Smith, que defende que a educação “não deve ser apoiada primeiramente nas necessidades de nenhuma indústria específica”, e é confirmada por demais nomes envolvidos na iniciativa. 

“Algumas pessoas acreditam que a indústria vai conduzir o nosso sistema de educação, e esse não é o caso. Eles são parceiros colaborativos”, afirma Angela Hemingway, diretora executiba do Idaho STEM Action Center, responsável por supervisionar as iniciativas estaduais de educação de ciências da computação em escolar públicas. 

O ensino de ciências da computação nas escolas abre a possibilidade de outras áreas relacionadas a tecnologia também ganharem espaço nos currículos. Uma das discussões na área é a possibilidade de incluir conteúdos relacionados às novas tecnologias em aulas de disciplinas tradicionais, como matemática. “Temos muitas discussões neste país sobre como ensinar, mas não temos discussões suficientes sobre o que ensinar”, aponta Pertovi. 

Segundo Smith, um dos objetivos da iniciativa é abrir essas discussões, chamando atenção para um tema até então pouco discutido: “O que realmente precisamos é de uma discussão nacional sobre a ampla gama de disciplinas intelectuais que podem ser fundamentais para o futuro dos estudantes americanos.”

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