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Deputado pelo estado do Colorado, Patrick Neville é um dos principais defensores do porte de armas nas escolas dos Estados Unidos. Quem conhece seu passado, porém, talvez não compreenda a postura atual de Patrick.

Em 1999, Neville tinha 15 anos e era estudante na Columbine High School, palco de um atentado que deixou nove feridos e 15 mortos. Patrick saiu ileso do episódio, mas após o tiroteio, um pai perguntou se ele havia visto seu filho; infelizmente o garoto foi vitimado no massacre.

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“A partir daquele momento, quis fazer a diferença”, diz o deputado, em entrevista à Gazeta do Povo. “Sei que há professores nas escolas das minhas filhas dispostos a protegê-las, mas a lei estadual os proíbe de fazer isso. Considero isso revoltante”, completa. 

Trajetória 

Patrick trabalha ativamente pela regulamentação do porte de armas, apresentando a mesma proposta anualmente desde quando entrou na Câmara, em 2014. Em 2018, ela voltou à pauta logo após o massacre de Parkland, na Flórida. 

“A lei permitiria que todos os bons cidadãos que tenham registro de porte de armas, emitido pela polícia, tivessem o direito de portá-las para se defender e, mais importante, defender nossas crianças”, argumenta Neville. 

A proposta foi rejeitada pela Câmara, de maioria democrata. Patrick então visitou a Casa Branca e se reuniu com Donald Trump para discutir segurança nas escolas: 

Propostas para acabar com a violência armada devem ser realistas para serem eficazes. É tão decepcionante ver os democratas se curvarem a seus grupos de interesses especiais e derrotar opções viáveis para ajudar a proteger a sociedade.  

Segundo Neville, transformar escolas em zonas de desarmamento deixa a comunidade escolar mais vulnerável a ataques, sem possibilidade de defesa. Ele defende que mais estudantes de Columbine teriam sobrevivido se o estado permitisse o porte de armas. 

“Quando estava em Columbine, estávamos em meio a uma proibição de armas. Então fomos vítimas de armas adquiridas ilegalmente. Todas as medidas de desarmamento que são discutidas atualmente não teriam impedido o ocorrido”, diz Neville. 

Em entrevista à Gazeta do Povo, Patrick fala sobre sua atuação em prol da liberação de armas, sua relação com Columbine e a repercussão de seu trabalho entre os sobreviventes da tragédia. Confira: 

Como sua experiência em Columbine influenciou sua trajetória política? 

Uma das lembranças que mais se destacam para mim enquanto aluno em Columbine foi a sensação de desamparo. Desejo que minhas filhas e outras crianças jamais enfrentem a mesma situação que enfrentei. Não podemos mais permitir que nossas escolas sejam alvos fáceis e zonas de desarmamento, que são basicamente um convite para atiradores: eles sabem que ninguém estará armado. 

Os policiais devem ser reconhecidos pela sua coragem, mas isso não muda o fato de que o tempo de resposta médio é entre 9 e 14 minutos, e quase meia hora em alguns distritos escolares rurais no Colorado. Nesse ponto, o dano geralmente está feito. 

Professores qualificados que têm armas e estão no local podem responder muito mais rapidamente. Em virtualmente todos os outros espaços públicos pessoas podem cumprir seu direito à Segunda Emenda. Por que não em escolas? Deveríamos permitir que professores dispostos e qualificados, com registro de porte de arma, possam estar armados. 

Neville praticando tiro no Kiowa Creek Sporting Club, no Colorado. Facebook.

Como começou o seu trabalho pelo direito ao porte de armas? 

Já na época de estudante, tinha consciência de que me sentia desamparado e reconhecia que nem mesmo professores tinham um meio para se defender. Vivi essa mesma lição quando estava no exército no Iraque: o inimigo sempre tinha vantagem sobre nós quando estávamos em patrulha, justamente porque nunca sabíamos quem estava armado. 

Entenda, não estou dizendo que as escolas são zonas de guerra, mas digo que é exatamente o elemento surpresa um impeditivo para pessoas que querem fazer o mal. 

Quais seriam os critérios para o porte? Quem teria acesso às armas? 

Minha proposta permitiria que pessoas que têm licença para portar armas, o que exige consulta de antecedentes criminais, impressões digitais e treinamento, possam portar armas nas dependências das escolas. 

Não se trata de obrigar os professores a portar – isso é apenas para aqueles que querem ser capazes de defender a si e aos estudantes. E se os professores são capazes, qualificados e dispostos, por que diríamos que eles podem se proteger em qualquer outro lugar, mas não na escola? 

A proposta tem sido rejeitada continuamente, desde 2014, pela maioria democrata na Câmara. Há perspectivas de mudança desse cenário? 

O presidente Trump falou comigo e com outras pessoas de todo o país sobre essa ideia de permitir que professores andem armados, e isso está ganhando atenção nacional. 

Então gostaria de dizer que há uma chance de mudança quando os democratas estiverem dispostos a parar de politizar essa questão, e admitirem que é uma discussão sobre escolas seguras, não sobre desarmamento. 

Entretanto, o bilionário Michael Bloomberg, que se opõe à Segunda Emenda, gasta muito dinheiro nas campanhas políticas do Colorado, e até que os democratas estejam dispostos a colocar a segurança dos nossos estudantes em primeiro lugar e parem de ser influenciados por eles, além de se curvar a grupos de interesse especial, não vejo possibilidade de mudanças nessas políticas. 

Críticos apontam que mais armas levariam a mais violência nas escolas. Como a proposta de legislação trata essa questão? 

Já vimos que esse não é o caso em escolas de todo o país, principalmente em distritos em que os professores têm permissão para portar armas. E não vimos nenhum massacre. 

Além disso, veja todos os outros espaços públicos em que pessoas podem portar armas: empresas privadas, faculdades e escolas particulares. Não estamos vendo ataques em todos esses outros lugares. Quando pessoas boas estão armadas, é um impeditivo para violência, e não um convite. 

Como a população do Colorado enxerga o debate sobre desarmamento, principalmente em escolas? 

A Segunda Emenda é um direito levado muito a sério pelos nossos cidadãos. Quase um terço da população do Colorado tem armas e quase 8% dos cidadãos têm licença para portá-las, então é um estado muito favorável a armas. 

Já recebi incontáveis emails de professores que querem demonstrar apoio a essa legislação. Eles hesitam em expressar apoio publicamente porque temem retaliação do sindicato, mas muitos querem ter a capacidade de proteger a si e aos estudantes. 

Você tem apoio de outros sobreviventes de Columbine? 

Tenho apoio de outros sobreviventes e amigos daquela época. Na verdade, três deles foram até a capital para demonstrar publicamente seu apoio e testemunhar a favor da minha proposta neste ano. Muitos outros entraram em contato para dizer que apoiam, mas também há aqueles que preferem não se expressar publicamente. 

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