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Questão de prova leva alunos a concluir que fim da escravidão não trouxe qualquer benefício para os cortadores de cana | Reprodução
Questão de prova leva alunos a concluir que fim da escravidão não trouxe qualquer benefício para os cortadores de cana| Foto: Reprodução

Uma prova aplicada a alunos do 5º ano da escola Santa Mônica, instituição particular de Pelotas (RS), reacendeu o debate sobre a doutrinação ideológica em sala de aula. 

O teste aplicado na aula de História tinha 12 questões, todas elas sobre relações trabalhistas no mundo atual. Em uma delas, uma charge compara a situação dos cortadores de cana à dos escravos.  A pergunta em seguida é: “A situação dos cortadores de cana melhorou após a abolição da escravidão?”. A resposta “Não” é marcada como correta.

Os alunos também tiveram de interpretar uma charge em que dois idosos conversam ao bater ponto no trabalho. “Tu vais te aposentar quando?”, indaga uma mulher. “Na próxima encarnação”, responde o colega. O título da charge é “novas regras”, em referência à reforma da previdência.

Na questão seguinte, após uma charge crítica à reforma trabalhista proposta pelo governo atual, o aluno deveria interpretar a intenção do desenhista: a opção correta diz que a reforma “será péssima para os trabalhadores”.

Em outra questão,  o estudante deve responder que a função dos sindicatos é “defender os direitos dos trabalhadores”. Na mesma página, uma charge mostra o estereótipo do capitalista explorador: gordo, de fraque e cartola, fumando um charuto, ele entrega alguns trocados a um funcionário enquanto guarda um saco gigante de dinheiro para si.

As questões da prova foram divulgadas no Facebook por um pai insatisfeito com a situação. “As charges disponibilizadas para interpretação fazem críticas às reformas atuais e à figura do empresário, que é colocado como explorador”, questiona Janaína Mesquita, mãe de uma garota de dez anos que frequenta a escola. 

“Uma criança desta idade não tem maturidade para, por exemplo, opinar sobre sistema previdenciário e questionar isso em uma prova”, completa ela.

A mãe reforça que, após notar o conteúdo, conversou com a filha e descobriu que esse viés ideológico é transmitido de forma recorrente em sala de aula: em relação à reforma trabalhista, ela conta que a menina chegou a relatar afirmações de professores de que pessoas passariam a trabalhar 12 horas diárias após a mudança na legislação. “Precisei explicar que não funcionaria dessa forma, mas esses detalhes, muitas vezes, são difíceis para uma criança compreender”. 

Janaína foi à escola conversar com a coordenação. “Chegando lá todos os envolvidos foram unânimes em defender o conteúdo, alegando estar de acordo com os livros elaborados pelo Ministério da Educação (MEC)”, diz. “Deixei claro que nenhuma escola precisa cobrar apenas um conteúdo engessado pelo MEC e que as questões poderiam abordar o mesmo assunto utilizando outros pontos de vista”, prossegue.

Apesar da resposta do colégio, a base curricular do MEC para o 5º ano do curso de História, não dá grande peso às relações trabalhistas. O mais próximo disso é uma menção genérica: “Associar o conceito de cidadania à conquista de direitos dos povos e das sociedades, compreendendo-o como conquista histórica”.

Em nota, a escola Santa Mônica disse que “a proposta e intenção da avaliação foi de ir ao encontro do conteúdo desenvolvido em sala de aula, com questões objetivas e dissertativas, ambas de interpretação das imagens apresentadas”.

A escola afirmou ainda que o conteúdo dado em sala foi elaborado por especialistas e é adequado para a faixa etária. “Conhecemos nossos alunos, sabemos da sua capacidade de análise e também do seu alcance para abordar assuntos desta complexidade, respeitando as limitações da sua faixa etária”, diz o comunicado enviado à Gazeta do Povo.

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