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Henrique e Glaucia optaram pela segunda graduação em busca de melhor retorno financeiro e valorização profissional. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Henrique e Glaucia optaram pela segunda graduação em busca de melhor retorno financeiro e valorização profissional.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Maioria de estudantes mulheres, na faixa etária dos 21 aos 30 anos, pardos e já concluintes do Ensino Médio: esse é, em suma, o retrato da maior parte dos 8 milhões de estudantes que prestarão a prova do Enem 2016 nos dias 5 e 6 de novembro . Os dados, divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela prova, revela um padrão: o exame é mais um mecanismo de seleção para o ensino superior do que uma avaliação do Ensino Médio, propósito inicial da prova.

De acordo com o levantamento do Inep, 57% das pessoas que vão fazer o Enem este ano já concluíram o Ensino Médio. “São pessoas que não seguiram adiante e tem uma alternativa para retomar os estudos e buscar vagas em universidades de todo o país. Essa democratização do acesso é o ponto de maior relevância do atual formato”, acredita o coordenador do Curso Pré-Enem IFPR Eureka e do Pré-Enem do Centro Universitário Internacional Uninter, Marlus Geronasso.

Veja a faixa etária do estudante do Enem 2016.

A necessidade de qualificação no mercado de trabalho pode ser um dos fatores que explica o fato de a faixa etária de 17 anos, que geralmente está terminando o Ensino Médio, não ser a maioria (14% do total de alunos neste ano). O professor de Economia da USP, Reynaldo Fernandes, fala que esse é um padrão quando se analisa os dados do exame. “Muita gente que está no mercado de trabalho tem chances de promoção que dependem do estudo. E são pessoas que farão a sua primeira graduação. A segunda formação não é para a maioria”, diz.

Mesmo não sendo o perfil primeiro do Enem, a busca de um “plano B” ou da mudança de carreira também passa pelo exame. É o caso da biomédica Glaucia Pacheco Kanashiro, de 30 anos, que faz parte dos 15% de estudantes maiores de 30 anos que participarão da prova.

Com carreira consolidada, Glaucia, que é aluna do Curso Elite, em Curitiba, se dedica exclusivamente aos estudos: prestou Medicina na UFPR e em outras faculdades privadas. Para a nova rotina, o apoio do marido, Henrique Fernando Paulino da Silva, de 28 anos, que também é biomédico, foi fundamental. Até o começo deste ano, aliás, ele também tinha voltado ao cursinho, mas conseguiu uma vaga em Engenharia Elétrica na UTFPR no início deste ano com sua pontuação no Enem de 2015.

Ambos decidiram se apoiar na decisão de voltarem para a faculdade pelo mesmo motivo: retorno financeiro e mais reconhecimento na nova profissão.

“Gosto do que faço, mas quero mais. Um crescimento maior na carreira, buscar uma multinacional”, fala Henrique, que continua trabalhando na primeira área de formação para arcar com as despesas da casa. A jornada de trabalho é das 7h às 16 horas. Às 17h50 começa a sua primeira aula na UTFPR, que segue até às 23h. O curto intervalo serve para estudar um pouco, ou, finalizar algum trabalho. “Mas é no fim de semana que consigo me dedicar”.

Nova rotina

Enxugamento de despesas, fim de semana mais curto e menos contato com amigos e família são algumas mudanças que o casal teve de fazer para encarar a segunda graduação. O começo da rotina no cursinho também não foi fácil para Glaucia. “O corpo dói de ficar tanto tempo sentado, e é esquisito porque você é a ‘tiazona’ do cursinho que não usa all star”, brinca. Também é preciso arrumar um tempo mínimo para as atividades de casa, lembra a estudante. “E isso é bem diferente do pessoal mais novo, que mora com os pais e não precisa se preocupar com isso”.

Mesmo mudando de área, ambos não querem desperdiçar a experiência no atual ofício, e pensam em agregar os conhecimentos da biomedicina nas novas carreiras: Henrique pretende trabalhar com equipamentos médicos hospitalares. Já Glaucia quer a área de Oncologia ou de Tratamento Intensivo dentro da Medicina, para aproveitar sua experiência em laboratórios.

Crítica

Apesar da facilidade e da democratização do Enem, João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, acredita que o exame precisa de reformulações. “O Enem virou um vestibular, e não um exame de avaliação. Como seleção, do ponto de vista prático, ele é bom pela mobilidade e possibilidade de as universidades terem bons alunos. Mas, talvez, um vestibular mais graduado, de acordo com as competências necessárias para cada curso, serviria melhor”.

Outro ponto problemático citado pelo especialista é a curva da nota do Exame: ela é praticamente a mesma (cerca de 400 pontos) entre quem está terminando o Ensino Médio e quem já terminou há 10 anos . “Isso demonstra que o país está parado em educação e não tem havido melhorias no capital humano.”

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