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Por que o senhor optou por não levar sua filha à escola?

Eu não sou contra a escola. Se os pais trabalham fora de casa ou se a criança vai ficar o dia todo sozinha na favela ou pedindo dinheiro no sinal é melhor que ela esteja na escola. Mas não entendo essa perseguição a quem não matricula o filho para cuidar da educação dele. Por que penalizar os poucos pais que, em um país carente de qualidade de educação e de boa formação, dedicam tempo, dinheiro e a própria vida para dar uma formação muito acima da média que aquela fornecida pela melhor das escolas? Porque não somar, considerar essas pessoas uma força a mais, seja qual for a motivação delas, religiosa, cultural ou social?

Como é o aprendizado da sua filha?

A Mariana faz aulas externas de matemática e inglês, e eu nunca precisei lembrá-la dos exercícios. Ela faz suas atividades e depois diz: "Agora vou brincar". É algo natural. Assim como ela aprendeu recentemente o que é um pleonasmo ao assistir a um vídeo na internet. Ano passado fomos a São Paulo e fizemos um giro de museus. Agora planejamos ir a Ouro Preto e ela vai entender a Inconfidência Mineira onde aconteceu. É assim que ela aprende, aproveitando as oportunidades.

A falta da socialização que acontece na escola é uma das principais críticas desse modelo de ensino. Como o senhor encara essa questão?

Há esse mito da socialização. A escola não socializa ninguém. Ela faz você trabalhar com pessoas da mesma idade, classe social e com o mesmo desempenho. A escola ensina a conversar com iguais, que estão trancados homogeneamente, e produz consumidores acríticos e apáticos. A socialização de fato acontece em outros lugares. Na comunidade, na igreja, em clubes, na vizinhança.

O suposto abandono intelectual também tem sido usado por quem defende a ida de todas as crianças à escola.

Como eu, minha filha estuda todos os dias, lê um capítulo de um livro antes de dormir e faz isso por que ela tem vontade, não por ser obrigada. Abandono é deixar 12 horas por dia uma criança longe da família, nas mãos de estranhos. Se isso acontece em um colégio caro, simplesmente é um abandono de luxo. O que vejo sãos pais tão preocupados em dar o melhor, que esquecem de dar o importante. Podem trabalhar muito para poder pagar o melhor colégio do mundo, mas nada vai substituir o amor e presença. Digo aos pais que precisam da escola que não se sintam culpados: o importante é não delegar a formação dos filhos de jeito nenhum. Educar a criança é tarefa deles, apesar da escola.

E as crianças com quem ela convive, não estranham o fato da Mariana não ir para a escola?

Uma delas já disse à Mariana que, se ela não fosse à escola, ficaria burra. A resposta, minha filha me contou logo depois, foi que ela aprende fora da escola e que em matemática está com conteúdo de quarta série e no inglês, de sexta série. A menina então perguntou à Mariana: "E o que é conteúdo?". Existe o bullying, dentro e fora da escola, mas ela não vai ficar sendo protegida disso, ela vai ter de aprender a se virar com a pressão de grupo.

Quais são os planos para a Mariana, ela deve entrar para o sistema de ensino em algum momento?

Aos 14, 15 anos, ela poderá procurar o sistema e buscar a equivalência. E nesse caso ainda estaríamos em vantagem, temos duas possibilidades: A formação na vida e a posterior decisão pelo sistema. Os pais que matriculam os filhos na escola não têm alternativa além do sistema. Tem tanta gente preocupada com o futuro do filho, que se esquece do presente. O mais provável é que os filhos perguntem no futuro porque seus pais foram tão ausentes quando eram pequenos e precisavam deles, e não por que ela aprendeu trigonometria ao pescar com o pai, ou no colo da mãe ou leu livros em família. Teses e dissertações já comprovaram que crianças que estudam com os pais e com professores contratados pelos pais, são mais aptas cognitivamente que as demais crianças. Disfunções causadas por pais ausentes são muito comuns, basta procurar um consultório psiquiátrico para ver.

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