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“Vamos ajudar os jovens a ter um plano, porque eles vão precisar disso para ter sucesso”, diz o prefeito da cidade. | Victor Grigas
“Vamos ajudar os jovens a ter um plano, porque eles vão precisar disso para ter sucesso”, diz o prefeito da cidade.| Foto: Victor Grigas

Para se formar em escolas públicas de Chicago, estudantes deverão cumprir um novo requerimento incomum: eles terão de mostrar que têm um emprego garantido ou receberam uma carta de aceite em uma faculdade, programa de aprendiz, programa de intercâmbio ou nas forças armadas. 

O prefeito Rahm Emanuel disse que pretende deixar claro que o terceiro maior sistema de educação do país não é responsável apenas por empurrar adolescentes para o final do ensino médio, mas também por colocá-los no caminho para um futuro produtivo. 

“Nós vamos ajudar os jovens a ter um plano, porque eles vão precisar disso para ter sucesso”, disse. “Não podemos ter jovens que pensam que o último ano é o fim.” 

Poucas pessoas contestariam que os jovens geralmente precisam de mais do que um diploma de ensino médio para ter sucesso na economia atual, mas existe um debate fervilhando acerca de até aonde a escola deve ir – e, de modo realista, até aonde ela pode ir – para garantir que os seus formandos recebam mais treinamento. 

O plano de Emanuel, aprovado pelo conselho de Educação no final de maio, colocou Chicago no centro do debate. 

Especialistas dizem que as escolas públicas de Chicago são o primeiro sistema de um grande centro urbano a transformar planos pós-formatura em um requerimento. Mas a questão é se o distrito com verba limitada pode oferecer acompanhamento e orientação para ajudar os seus alunos mais necessitados a ter sucesso quando a regra passar a valer em 2020. 

Jermiya Mitchel, 17, uma aluna que começará o último ano no colégio Morgan Park High School, na região sul da cidade, disse que teve poucas interações com o seu orientador. “Nós nunca tivemos uma conversa sobre a vida depois do ensino médio”, disse. “Eu gostaria de ter um orientador que realmente quisesse me ajudar a descobrir o que eu quero fazer depois do ensino médio e que me ajudasse a chegar lá.” 

Alguns alunos, pais e professores encaram a mudança como um modo de igualar as chances de adolescentes cujos pais não estão equipados para ajudá-los a visualizar o caminho que eles querem seguir depois do ensino médio – ou descobrir como chegar lá. 

“Isso significa que eles têm um plano, em vez de se formar e não saber o que querem fazer”, diz DeAvion Gillarm, 18, que acabou de se formar pela Morgan Park. 

Críticos dizem que a ideia de Emanuel é um gesto vazio que não faz nada para melhorar o fato de que muitos adolescentes estão se formando em bairros pobres, com altos índices de violência e poucos empregos, e que as faculdades mais acessíveis estão despreparadas para as necessidades de estudantes de baixa renda que são os primeiros de suas famílias a frequentar o ensino superior. Eles também apontam que o distrito de 381 mil estudantes demitiu mais de mil professores e funcionários em 2016, e está com dificuldades financeiras tão grandes que sofreu para se manter funcionando durante as últimas semanas do ano letivo. 

“Parece bom no papel, mas o problema é que quando se corta o número de orientadores nas escolas, quando se cortam os serviços de que os alunos precisam, quem vai fazer esse trabalho?”, diz Karen Lewis, presidente do Sindicato de Professores de Chicago e oponente política de Emanuel. “Se você fez o trabalho necessário para receber um diploma, você tem que receber um diploma. Porque, se não recebe, está levando os jovens a mais pobreza.” 

Victor Ochoa, orientador na escola Carl Schurz High School, na região noroeste de Chicago – onde estudantes são majoritariamente hispânicos e pobres – disse que tem um volume de demanda de 400 alunos e uma série de outras funções: recrutar alunos do 8º ano para se matricularem, registrar alunos nas disciplinas e nos cursos de verão, e ajudar os alunos a lidar com crises como falta de moradia e violência nas ruas. Muitos orientadores também atuam como coordenadores de educação especial, diz. 

“Para ter uma boa conversa sobre faculdade, é necessário uma conversa individual”, afirma. “Nós acabamos colocando um curativo na situação ao entregar a eles algum material escrito ou falar para eles acessarem o Naviance”, um software destinado a ajudar os estudantes a se planejar para a faculdade. 

Escolas e funcionários municipais estão impacientes com a ideia de que um novo requerimento – originalmente sugerido para Emanuel por Arne Duncan, ex-chefe do sistema educacional de Chicago que foi secretário de educação no governo do presidente Barack Obama – exige muito dos alunos ou das escolas. 

Emanuel anunciou a iniciativa em abril. Funcionários descrevem a ideia como o próximo passo lógico nos esforços de Chicago para melhorar o ensino público. Apesar das dificuldades financeiras do sistema educacional, quase 74% dos estudantes agora se formam no tempo certo de quatro anos – 16% a mais do que a taxa de cinco anos atrás, apesar de ser menor do que a média nacional de 83%. 

Em nível nacional, existe um movimento em andamento para tornar as escolas responsáveis pelo que os estudantes fazem depois de se formarem. Dos 17 estados que traçaram planos para avaliar o desempenho da escola segundo uma nova lei federal, pelo menos quatro planejam incorporar o percentual de formados que se matriculam no ensino superior ou em outra opção pós-médio. 

Chicago avalia o desempenho das suas escolas de ensino médio com base, em parte, no número de formados que vão para a faculdade e permanecem por pelo menos um ano. Estudantes que terminam o ensino médio têm admissão garantida em uma das faculdades municipais da cidade, e cerca de 40% dos formandos de 2015 se matricularam em uma graduação de 4 anos, perto da média nacional de 44% naquele ano. 

Os primeiros estudantes afetados pelo novo requerimento são os que estão começando o segundo ano e se formarão em 2020. Emanuel defende que isso deixa tempo suficiente para as escolas assegurarem que os alunos estão prontos, mesmo sem recursos adicionais. 

“Eu sei que o que não é bom para os jovens é permitir que entrem no mercado de trabalho e no resto de suas vidas com um diploma de ensino médio, quando tudo indica que é necessário mais do que isso”, diz Emanuel. 

As famílias têm opiniões dividas. “Talvez isso faça com que os pais se envolvam mais na educação dos seus filhos”, diz Carrie Patterson, que tem o seu filho Caron matriculado no segundo ano na Morgan Park. 

“Você deveria receber um diploma pelas coisas que faz na escola”, diz Zahria Parks, outra aluna da escola. 

Algumas escolas já começaram a passar por uma transformação. Uma escola de uma região com baixo desempenho reabriu em 2013 como Crane Medical Preparatory High School, uma instituição focada em preparar os alunos para trabalhos no setor de saúde. A escola conecta os estudantes a estágios nas férias de verão, organiza visitas a universidades e realiza reuniões de pais sobre planejamento para o ensino superior e auxílio financeiro. 

Todos os 118 formandos da Crane deste ano sabem o que vão fazer depois da formatura, de acordo com a diretora Fareeda Shabazz. Um deles irá para Dartmouth College, outro para a Skidmore College. Cinco garotas estão planejando se sustentar durante a graduação trabalhando como flebotomistas, tirando sangue de pacientes com as habilidades que aprenderam em um programa de certificação patrocinado pela escola. “Nós queremos ajudar a formar e moldar o futuro dos jovens”, diz Shabazz. 

Amethyst Romo, 18, recém-formada pela Chicago’s Marine Leadership Academy, creditou a conquista aos seus orientadores e professores e a uma palestra na universidade, que a ajudaram a ver que o ensino superior era uma possibilidade – algo que os seus pais, que não frequentaram a universidade, não puderam fazer. 

No próximo ano letivo, ela planeja ir para a Goshen College – uma instituição em Indiana que ela visitou em uma viagem planejada pelo seu orientador. “Você só precisa de um orientador que se dedique o suficiente”, disse. Mas em muitas escolas de Chicago, a equipe de orientação está sobrecarregada. 

Morgan Park tem três orientadores e um instrutor de carreira e graduação para cerca de 1300 estudantes da 7ª à 12ª série. A diretor Carolyn Epps diz que os orientadores geralmente perguntam aos alunos sobre planos para o futuro nas férias de verão antes do seu último ano e que os formandos têm bastante ajuda com o processo de inscrição nos processos seletivos de universidades. 

Com o novo requerimento para graduação, os alunos que começam o último ano no próximo ano letivo realizarão um curso de um ano ou um planejamento para a vida após o ensino médio. Epps diz que espera alcançar alunos mais novos por meio de assembleias, reuniões de pais e instruções em períodos de planejamento. 

Janice Jackson, chefe da secretaria de educação, diz que é assim que o novo requerimento deveria funcionar – levando os diretores a melhorar os seus esforços para ajudar os alunos a se prepararem para o futuro. Cerca de 60% dos alunos do distrito tem planos após a formatura, diz, e ela não acredita que as escolas devam esperar por mais dinheiro para estabelecer uma expectativa de que os outros 40% sigam o exemplo. 

Chicago realmente negaria o diploma de estudantes que cumprem todos os critérios, exceto pelo novo requerimento? Jackson diz que não chegará a isso, porque os diretores, orientadores e professores não deixarão. Eles irão até os alunos nessa situação e os pressionarão para se assegurar de que eles têm um plano. 

“Existe um grande grupo que não está fazendo muita coisa depois que sai do ensino médio”, diz. “É nossa responsabilidade guiá-los para o caminho certo.”

Tradução: Andressa Muniz

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