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Possibilidades de vivenciar experiências externas também podem oportunizar novas aprendizagens. | Ivonaldo AlexandreGazeta do Povo
Possibilidades de vivenciar experiências externas também podem oportunizar novas aprendizagens.| Foto: Ivonaldo AlexandreGazeta do Povo

Períodos de férias escolares são encarados como um benefício para crianças, que podem sair da rotina de sala de aula. Mas estudos indicam que os recessos ao final do ano oferecem várias desvantagens: os meses longe da sala de aula podem desacelerar o desenvolvimento intelectual em até 90 dias e o impacto é sentido ao longo de toda a sua vida escolar. 

Um novo cenário, em que um número cada vez maior de famílias cujos pais e mães trabalham e mais crianças passam os períodos de férias sozinhas, dá espaço para a criação de medidas como os períodos de recuperação ao final do ano letivo, que normalmente estendem as aulas para alunos com desempenho abaixo da média, além de serviços como clubes e colônias de férias, em sua maioria privados, que oferecem atividades para as crianças durante o recesso escolar. 

Mas a demanda é maior do que a oferta. Uma pesquisa realizada em 2009 pela Afterschool Alliance, uma ONG voltada para a oferta de programas extracurriculares para crianças de baixa renda nos EUA, aponta que 56% dos pais de crianças que não participam de atividades de férias sentem falta de uma opção para os seus filhos. Para suprir essa demanda, seria necessário criar 24 milhões de novas vagas em programas de férias no país

Já em um contexto global, o impacto é sentido de modo mais evidente por famílias de baixa renda. Nessas famílias, é maior a incidência de pais e mães que trabalham e não podem supervisionar as crianças em tempo integral durante o recesso escolar – ao mesmo tempo, o acesso a atividades de férias é mais escasso em bairros periféricos. 

Perdendo o ritmo 

O resultado da interrupção de aprendizagem durante as férias é uma diminuição do desenvolvimento intelectual das crianças. De acordo com dados da National Summer Learning Association (NSLA), entidade que oferece programas de férias para crianças carentes, férias escolares levam as crianças a perder cerca de dois meses de desenvolvimento nas suas habilidades em matemática. Em leitura e escrita, o prejuízo é maior em crianças de baixa renda: elas perdem o equivalente a até três meses de desenvolvimento em habilidades de leitura e escrita – paradoxalmente, crianças em famílias com maior poder aquisitivo ganham mais habilidades de leitura durante as férias. 

As diferenças de desempenho são cumulativas e afetam toda a carreira escolar dos alunos. Segundo dados da NSLA, até o quinto ano do ensino fundamental, os alunos de famílias de baixa renda ficam com um atraso de desenvolvimento de até três anos em relação aos estudantes de famílias de renda mais alta. Um estudo realizado pela Universidade Johns Hopkins indica que a lacuna de desempenho entre estudantes de baixa renda e os de renda mais alta pode ser atribuída às diferenças de desaceleração do aprendizado durante os períodos de férias.  

“Estudantes no início do ensino médio podem estar entre 12 e 18 meses atrasados”, afirma David Hornak, diretor executivo da National Association for Year-Round Education. 

As consequências do atraso de desenvolvimento das crianças afetam toda a turma. No começo de um ano letivo e ocasionalmente após o recesso de meio do ano, os professores precisam ensinar novamente o conteúdo que já havia sido ensinado no período anterior, com uma medida para diminuir o atraso causado aos alunos durante as férias. 

“Em média, o professor, durante o calendário tradicional, precisa ensinar novamente os conteúdos anteriores durante quatro a oito semanas, todos anos após as férias de verão”, completa Hornak. 

Brasil 

O contexto e a realidade social das escolas americanas, que possuem em suas bases pedagógicas um estímulo maior à produtividade, estão distantes do cenário nacional. 

Para Fabiane Picheth, mestre em Educação e coordenadora executiva do curso de Pedagogia da Universidade Positivo (UP), é preciso considerar também que ‘aprender’ não é um processo que ocorre somente em vias formais de ensino, como a escola. 

“Possibilidades de vivenciar experiências externas também podem oportunizar novas aprendizagens. Se não podemos ofertar um leque de experimentações fora do espaço escolar, que escolhamos algumas que reforcem laços afetivos e aproximem as crianças da simplicidade”, diz. 

Dessa forma, a redução do período de férias não seria um bom caminho; a alternativa estaria em torná-las expressivas para a formação da criança. “Algumas alternativas são visitas orientadas aos espaços culturais públicos, recreações, oficinas de artes e idiomas, prática desportivas e artesanato”, pondera. 

Já sobre a necessidade de retomada dos conteúdos após as férias escolares, é possível que a escola incorpore essa necessidade em seu planejamento e não a entenda como tempo perdido. “Adultos, quando retornam das férias, também precisam relembrar a rotina e isso nunca é de imediato. Por que para as crianças precisaria ser?”, questiona a especialista.

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