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Grande notícia: uma boa criação é muito mais fácil e divertida do que a maioria das pessoas pensa, mesmo para quem adota homeschooling – aliás, principalmente para quem adota homeschooling. 

● Não é necessário ser um especialista, seja em educação ou em qualquer disciplina, para fazer as crianças aprenderem. 

● Não é necessário ser um capataz para que as crianças se tornem disciplinadas e bem sucedidas. 

● Não é necessário repreender as crianças constantemente para elas aprenderem boas maneiras e se tornarem pessoas decentes e morais quando crescerem. 

É possível os pais tirarem de si (e dos seus filhos) esses fardos pesados, pois as crianças ensinam a si mesmas. 

Livre para aprender 

Essa é a reflexão principal por trás da Educação Autodirecionada, um movimento e filosofia em ascensão que supera ideias associadas a ensino doméstico, desescolarização, parentalidade pacífica, educação Montessori e outras abordagens centradas na criança. 

Como o biopsicólogo Peter Gray escreveu em seu livro “Free to Learn”: 

As crianças vêm ao mundo prontas para aprender e são programadas geneticamente com capacidades extraordinárias de aprendizagem. Elas são pequenas máquinas de aprendizagem.

Todos nós nascemos autodidatas – auto-educadores – abençoados com um impulso instintivo de adquirir, exercitar, testar e melhorar novas habilidades que nos ajudarão a ter sucesso na vida. 

Conforme as crianças se tornam mais conscientes do mundo ao seu redor, elas anseiam por interagir com ele, e fazer isso com uma independência cada vez maior. Elas observam como os adultos e crianças mais velhas usam as suas mentes e corpos para fazerem coisas maravilhosas – se movimentar, se comunicar, realizar coisas, criar, etc – e isso as inspira para emular esses comportamentos. 

Isso não significa que não existam diferenças fundamentais entre crianças e adultos. As crianças ainda não são completamente independentes. Elas não podem se sustentar sozinhas, e não devem ter permissão para se colocar em situações de perigo mortal. Por isso, precisam que os adultos lhes ofereçam um nível considerável de proteção e cuidados. Elas também precisam de afeto, que atua como uma garantia emocional dessa proteção à vida. 

O papel dos pais 

Mas o que as crianças não precisam (e o que é quase sempre imposto a elas) é direcionamento externo contínuo e correção das suas ações cotidianas. É possível confiar nas crianças para autodireção, e para uma autodireção voltada para maior autorrealização. 

Como John Holt, que cunhou o termo “desescolarização”, escreveu em seu livro “How Children Learn”: 

Tudo o que eu falo neste livro pode ser resumido em três palavras: Confie nas crianças. Não tem como ser mais simples – ou mais difícil. Difícil porque, para confiar nas crianças, nós devemos confiar em nós mesmos – e a maioria de nós foi ensinada na infância que não poderíamos ser confiados. E então seguimos tratando as crianças do mesmo que fomos tratados, chamando isso de “realidade”, ou dizendo de modo amargurado: “Se eu aguentei isso, elas também conseguem aguentar”. O que nós precisamos fazer é quebrar esse longo ciclo de medo e desconfiança, e confiar nas crianças do modo que não confiaram em nós. Para fazer isso é necessário um grande ato de fé – mas grandes recompensas aguardam qualquer um de nós que tiver esse ato. 

Isso não significa que os pais não tenham nenhum papel na educação dos seus filhos além de oferecer uma proteção básica à vida. Uma boa criação facilita a educação autodirecionada ao oferecer às crianças acesso a ambientes ricos em recursos, e então se afastar e dar liberdade máxima a elas para que possam interagir com esses recursos do modo que preferirem: em outras palavras, oferecer liberdade para brincar. 

Alguns desses recursos são materiais: brinquedos, blocos para montagem, materiais naturais etc. As crianças são atraídas naturalmente a manipulação, exploração e experimentação com as coisas, principalmente coisas novas. 

E as crianças precisam principalmente de acesso ao que Dr. Gray chama de “ferramentas da sua cultura”. Para crianças em sociedades de caça e coleta, isso significava “facas, objetos para escavação, arco e flecha, laços, instrumentos musicais, canoas e afins”. Para as crianças do mundo moderno, são utensílios de cozinha, materiais de limpeza, ferramentas para trabalhos manuais, materiais de criação, livros, computadores e outros dispositivos tecnológicos – sim, até mesmo os tão caluniados smartphones e tablets que provocam a infâme discussão sobre limitação do tempo de exposição. 

Assim como as crianças caçadoras e coletoras aprendiam a brincar com ferramentas primitivas observando os mais velhos, as crianças modernas precisam ver os adultos e crianças mais velhas usando as ferramentas nos seus trabalhos e passatempos. Logo, acesso a “recursos humanos” é tão importante quanto recursos materiais. Os pais devem antes de tudo oferecer acesso a si mesmos. E, a partir daí, as crianças devem ter permissão para se colocar em contato com outros familiares e amigos de todas as idades. Qualquer membro da comunidade da criança pode servir como um modelo a ser emulado e um companheiro para interações. 

Brincadeira educação 

As brincadeiras são a forma como as crianças se auto-educam. Elas observam os outros fazerem coisas que elas mesmas ainda não podem fazer. Elas experimentam com uma imitação geral desses comportamentos. Elas pedem ajuda quando precisam e estão prontas. E elas repetem obsessivamente os novos comportamentos. Durante essas sessões, elas comparam as suas próprias ações com as ações dos seus modelos, percebem discrepâncias e as refinam adequadamente. E elas continuam a se desafiar a alcançarem os níveis de desempenho dos mais velhos. 

É assim que as crianças aprendem a andar e falar. E se o nosso professorado não interferir, é assim que elas podem se ensinar calmamente a ler, escrever, desenhar, cantar, dançar, praticar esportes, construir ou conquistar qualquer coisa que seja do seu interesse. E é possível confiar nelas para se tornarem interessadas em todas as habilidades necessárias para terem sucesso na cultura em que estão inseridas. 

Seguir voluntariamente interesses autodirecionados é o modo como as crianças aprendem valores como disciplina, diligência e perseverança. E brincadeiras sociais são como as crianças aprendem a tratar melhor outras pessoas – em outras palavras, é como elas aprendem moral e boas maneiras. 

Como os adultos atrapalham 

O outro lado da reflexão de que as crianças ensinam a si mesmas é a percepção incômoda de que os adultos, ao tentarem ser bons professores, frequentemente obstruem e atrapalham os esforços das crianças em se auto-educarem – principalmente quando as crianças entram na escola. 

Essa mensagem deve ser especialmente simples para os amantes da liberdade entenderem. Os seres humanos, tanto adultos quanto crianças, prosperam com liberdade. E intervenções autoritárias, não importa o quão bem intencionadas, geralmente atrapalham as coisas: seja o interventor um professor dominador ou um burocrata ocupado. 

Como Gray escreveu: 

A natureza não desliga esse enorme desejo e capacidade de aprender quando as crianças completam cinco ou seis anos. Nós que desligamos com o nosso sistema educacional coercivo. 

A brincadeira livre é o trabalho e estudo natural das crianças. E, mesmo para adultos, as formas de trabalho e estudo mais elevadas e produtivas não são diferentes de brincadeiras. Trocar a brincadeira livre das crianças por trabalho e estudo coercivos impostos por adultos serve apenas para diminuir o espírito auto-educativo das crianças e atrapalhar o seu desenvolvimento. 

As maiores lições transmitidas pela educação coerciva são (1) que trabalho e estudo são esforços fundamentalmente chatos e estressantes que devem ser tomados pelo benefício de outras pessoas e não por nós mesmos, e (2) que submissão e complacência cega serão recompensados na vida, e são virtudes privilegiadas, enquanto iniciativa e diligência autodirigidas são punidas como se fossem vícios perigosos. 

Como Holt escreveu:

Em resumo, as crianças têm um estilo de aprendizagem que se adequa às suas condições, que elas usam naturalmente e com eficiência até as treinarmos para abandonarem isso. Nós gostamos de dizer que mandamos as crianças para a escola para ensiná-las a pensar. O que nós fazemos, com muita frequência, é ensiná-las a pensar mal, a desistir de um modo de pensar natural e poderoso por um método que não funciona bem para elas e que nós mesmos raramente usamos.

Publicado originalmente na  página da  Foundation For Economic Education. Tradução: Andressa Muniz

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