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Prova foi realizada pela primeira vez em dois domingos consecutivos, e inaugurou o modelo de videoprovas em Libras. | Jonathan CamposGazeta do Povo
Prova foi realizada pela primeira vez em dois domingos consecutivos, e inaugurou o modelo de videoprovas em Libras.| Foto: Jonathan CamposGazeta do Povo

Após anos com temas como marxismo, ideologia de gênero e críticas à globalização, a edição de 2017 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) surpreendeu por não adotar viés ideológico. Referências a Paulo Freire e Karl Marx ficaram de fora, mesmo no ano de centenário da Revolução Russa. 

A prova de ciências exatas e naturais manteve a tradição de neutralidade. Os conhecimentos exigidos foram específicos das disciplinas de física, química e biologia, como magnetismo, física elétrica, terapia celular e doenças genéticas. 

O mesmo ocorreu na prova de matemática, que exigiu mais álgebra e geometria e menos interpretação de texto. Temas recorrentes foram revisitados na prova, como cálculos das taxas de desemprego no Brasil, margem de erro percentual em uma pesquisa eleitoral e cálculo de juros de empréstimos. 

Entre os conhecimentos mais voltados para o cotidiano, questões do segundo dia trataram sobre técnicas de depilação a laser, o jogo Campo Minado e as mudanças no tempo de reação dos motoristas que dirigem enquanto usam o celular. 

Nas questões que trataram sobre temas sociais, o viés ideológico estava em segundo plano. Na prova de ciências humanas isso foi presente em enunciados sobre tópicos contemporâneos, como a conquista do status de estado observador da ONU para o Estado Palestino, o funcionamento dos Três Poderes, a cota de candidaturas de mulheres nos partidos políticos brasileiros e as características territoriais e de geração de energia da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. 

Nomes como Platão e Marx não foram cobrados, mesmo no ano do centenário da Revolução Russa. Os conhecimentos de filosofia permaneceram nos pensadores clássicos, como Aristóteles, Sócrates e Demócrates. 

Na prova de linguagem e suas tecnologias, foram citados artistas populares, como a música “Fim de semana no parque”, do grupo de rap Racionais MC’s, e a crônica “Nuances” do comediante Gregorio Duvivier. Autores como Clarice Lispector, Paulo Leminski e Chico Buarque também estiveram presentes ao lado de personalidades como Pablo Picasso, Frida Khalo, James Bond e a boneca Barbie. 

Nas questões de língua portuguesa, estiveram presentes temas como a transmissão do vírus HPV, a violência doméstica e a criação dos filhos, mas ainda sem o viés ideológico de edições passadas. 

“É uma temática que dá margem a menos divergências ideológicas que as escolhidas nos últimos anos”, disse Miguel Nagib. #Enem

Publicado por Gazeta do Povo em Domingo, 5 de novembro de 2017

Histórico 

A opção por um viés não ideológico é uma mudança em relação aos anos anteriores. Em 2015, a prova de ciências humanas chamou a atenção de ativistas por incluir a frase “Não se nasce mulher, torna-se mulher”. 

A frase de Simone de Beauvoir foi utilizada em uma questão sobre as lutas feministas do século XX. No mesmo ano, a prova citou pensadores de esquerda, como Judith Butler, Slavoj Zizek e Paulo Freire, além de conter críticas à globalização como criadora de desemprego e desigualdade social. 

Nesta edição, nem mesmo a redação abordou temas de viés ideológico: os estudantes tiveram que escrever sobre o desafio para a formação educacional de surdos no país. A abordagem de um tema sobre educação é uma mudança no perfil da prova: nos últimos anos, temas como intolerância religiosa, violência contra a mulher e publicidade infantil deram o tom da avaliação. 

A neutralidade do tema da proposta de redação foi apresentada após uma mudança na regra de avaliação que permitia zerar a redação de candidatos que desrespeitassem os direitos humanos. 

Na ação pública ajuizada pelo movimento Escola Sem Partido, alegava-se que a regra para a nota zero na redação do Enem teria “caráter de policiamento ideológico” ao ser muito vaga, sem elencar atitudes específicas que pudessem levar à desclassificação do estudante, como o racismo, a xenofobia ou a discriminação por orientação sexual. 

A prova foi realizada pela primeira vez em dois domingos consecutivos, e inaugurou o modelo de videoprovas em Língua Brasileira de Sinais (Libras) para alunos surdos e com deficiência auditiva

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