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Os programas de mestrado e doutorado triplicaram no Brasil em 19 anos | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Os programas de mestrado e doutorado triplicaram no Brasil em 19 anos| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Possuir o título de mestre significa receber, em média, quatro vezes mais do que um trabalhador comum. O dado faz parte de um estudo divulgado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Em 2014, o salário médio de um brasileiro com título de mestrado era de R$ 9,7 mil mensais – sem levar em contar os rendimentos do 13º -, enquanto que a remuneração média paga para trabalhadores com emprego formal era de R$ 2,4 mil mensais. Se a comparação for feita com o salário médio de pessoas com doutorado, que foi de R$ 13,8 mil em 2014, a diferença é maior ainda, de 5,6 vezes.

INFOGRÁFICO: Veja a evolução salarial de mestres e doutores por área do conhecimento

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*** Cresce o número de mestres e doutores

*** Aumenta a mobilidade de titulados entre os estados

Em todo país, a Região Sul foi a que pior pagou seus mestres em 2014. Em média, eles receberam R$ 8,5 mil por mês, 12,3% a menos da média nacional. O Centro-Oeste ofereceu uma remuneração média de R$ 11,7 mil, o Sudeste R$ 10 mil, o Nordeste R$9,1 mil e o Norte R$ 9 mil. Em todo o país, o salário médio de uma pessoa com título de mestrado aumentou, considerando as perdas monetárias, 9,4% entre 2009 e 2014; e com o doutorado em 18,1%, no mesmo período.

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Na avaliação do diretor do CGEE, Antônio Galvão, essa enorme diferença de salário médio entre os titulados e o trabalhador do emprego formal é mais um reflexo da desigualdade no Brasil. Segundo ele, em outros países esse degrau não é tão expressivo.

“Já evoluímos muito, até o começo dos anos 2000 só perdíamos em quesito de desigualdade para países muito miseráveis. Isso porque até 1980 crescemos como nenhum país do mundo conseguiu crescer, mas fizemos isso de forma desigual. Nas duas últimas décadas, o Brasil consegui caminhar na direção oposta a do resto do mundo e melhorou as condições de trabalho e de renda para os que estão na base da sociedade. Mesmo assim ainda somos muito desiguais.”

A diferença de salário no Brasil é alta, mas os salários de referência são baixos e é preciso avaliar o contexto de trabalho dos profissionais com mestrado e doutorado que atuam dentro e fora das universidades, segundo o sociólogo e professor da UFSC Ricardo Gaspar Muller, doutor em História Social e pós-doutor em Sociologia. “Os salários nas universidades podem ser elevados para quem tem mestrado, mas são equivalentes aos salários de início de carreira em algumas empresas. Há pessoas em cargos ganhando R$ 150 mil sem ter mestrado ou doutorado, salário que não se ganha sendo professor na universidade”, comenta.

Para chegar a esses números, os pesquisadores acessaram bases de dados da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e da RAIS, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A Capes mantém informações sobre todos os que obtiveram títulos de mestrado e doutorado, além da sua avaliação acadêmica.

Mais mestres e doutores

O número de mestres e doutores no Brasil cresceu cinco vezes de 1996 a 2014. Em 1996, o país tinha 10,4 mil mestres e 2,8 mil doutores. Em 2014, os títulos concedidos passaram para 50,2 mil e 16,7 mil, respectivamente.

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Os programas de mestrado e doutorado também cresceram vertiginosamente. Em 1996, eram 1,2 mil de mestrado contra e 630 de doutorado. Já em 2014, os números triplicaram: foram registrados 3,6 mil de mestrado e 1,9 mil de doutorado.

Os pesquisadores, supervisionados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), também identificaram uma descentralização dos cursos da região Sudeste. Enquanto que, em 1996, 58,8% dos títulos de mestrado e 83,4% dos de doutorado foram outorgados em São Paulo e Rio de Janeiro, em 2014 essa representatividade caiu para 36,6% no total de mestres e 49,5% no de doutores. “Essa pulverização tem criado condições favoráveis ao desenvolvimento de outras regiões brasileiras. Esse salto ocorreu por diversas políticas públicas, da abertura de novas universidades e novos cursos, ao aumento de bolsas e até de programas como o Ciência sem Fronteiras”, disse o diretor do CGEE.

Por causa dessa distribuição em várias regiões de instituições que oferecem a pós-graduação, locais antes frágeis passaram a contar com uma base técnico-científica invejável, segundo o diretor. “No Sul já havia uma certa rede de universidades espalhadas pelo estado, mas em outras regiões havia desertos no interior, com mais instituições atuando, conseguimos aumentar a capilaridade da infraestrutura e elevar o nível da educação. A longo prazo teremos mais oportunidades e serviços de melhor qualidade para a sociedade em geral.”

Os estados que mais cresceram no número de mestres e doutores foram os situados na região Norte. Os títulos concedidos nesses locais no período aumentaram mais de 1.200%, de 135 para 1884.

Mobilidade dos pesquisadores

Assim como programas de pós-graduação têm se espalhado pelo Brasil, a concentração de mestres e doutores também se dissipa. Como exemplo da mobilidade entre os estados, no caso do Paraná, dos 18,7 mil mestres formados, 14,7 mil continuaram no estado, enquanto 1,1 mil partiram para São Paulo e 866 para Santa Catarina. Por outro lado, o Paraná recebeu mais de 2 mil mestres de São Paulo e 1164 de Santa Catarina.

Um dos motivos para essa mobilidade estaria na própria atuação dos profissionais da pós-graduação. Segundo o diretor do campus Curitiba da UTFPR Cezar Augusto Romano, mestre e doutor em Engenharia de Produção, de uma forma geral no Brasil ainda não é forte a cultura de empresas contratarem mestres e doutores e esses profissionais acabam migrando para academias. Apesar do estudo demonstrar um pequeno aumento da atuação de mestres e doutores no setor empresarial, a proporção não passa de um terço na maior parte das áreas que mais contratam esses profissionais. Como é o caso das engenharias, 25% de mestres nas entidades empresariais privadas, e das Sociais Aplicadas, 20%.

Como mestres e doutores tradicionalmente no Brasil ainda seguem para a academia, essa seria uma forte explicação para a mobilidade. “Com o aumento das universidades públicas e das vagas para atuar nessas instituições, quem se forma na pós-graduação busca vaga onde abre concurso. Alguém pode ter se formado no Sul, mas se abrir concurso na Federal de Pernambuco, ele vai para lá”, explica Romano.

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