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Liao Rong: da China para o Brasil | Arquivo pessoal
Liao Rong: da China para o Brasil| Foto: Arquivo pessoal

A falta de cursos em inglês e a burocracia de um lado. A cordialidade da população e a liberdade de outro. Os estrangeiros matriculados em instituições de ensino superior têm opiniões diversas sobre o sistema educacional brasileiro. Ouvidos pela reportagem da Gazeta do Povo, dez alunos de quatro continentes revelam o que os agrada e o que os incomoda na experiência de ser um aluno estrangeiro no Brasil.

E eles não são muitos: aproximadamente 15 mil. Segundo dados do Censo da Educação Superior 2016, a maior parte dos estudantes estrangeiros (45%) matriculados na educação superior brasileira vem do continente americano. Vinte e oito por cento dos alunos de fora do Brasil são provenientes do continente africano, enquanto 14% são da Europa, 11% da Ásia e 2% da Oceania.

Veja o que os dez estudantes ouvidos pela Gazeta do Povo pensam sobre a experiência de estudar no Brasil.

Debora Tambunan, 21, Indonésia 

Música – UNASP (Centro Universitário Adventista de São Paulo) Engenheiro Coelho 

As minhas aulas começaram no último dia 14 e percebo que a educação no Brasil é realmente ativa. O bom é que a universidade sempre quer desenvolver e apoiar os alunos estrangeiros, oferecendo muitas facilidades. Os programas da universidade me chamaram bastante a atenção. As dificuldades que tenho aqui são apenas de comunicação com as pessoas, porque a maioria delas não fala inglês. Por outro lado, podemos contar com as pessoas do sistema educacional que são dedicadas a ajudar os estrangeiros na comunicação. 

René Marzinzik, 23, Alemanha 

Administração – Udesc (Universidade estadual de Santa Catarina) 

No sistema educacional do Brasil, temos de três a quatro exames por semestre. Na Alemanha, nós temos somente um. Là, nós não temos de estar presentes em sala de aula, enquanto os professores brasileiros sabem os nossos nomes e temos de cumprir presencialmente 75% da carga horária em classe. Um problema é que somente algumas universidades oferecem cursos de Língua Inglesa no Brasil. Claro, se você quer estudar no exterior, você precisa saber, pelo menos, um pouco do português, mas falar o idioma na rua e entender as aulas é muito diferente. 

Maria Nlandu Kianu Eduardo, 21, Angola 

Tecnologia em Produção Multimídia – Faculdade Anhanguera Educacional 

Comparando com a realidade angolana, arrisco dizer que o Brasil tem um bom sistema educacional. Pelo menos é o que deu para perceber nestes quase dois anos de estudos aqui. A forma descontraída que os professores usam para lecionar permite que o estudante aprenda sem se sentir pressionado e consequentemente absorva os conteúdos com mais facilidade. A maior dificuldade tem sido conciliar as matérias presencias com as da plataforma virtual da faculdade. O sistema de provas é fácil por ser pouco discursivo. 

Liao Rong, 30, China 

Rádio e TV - UNASP 

Não ter um livro para cada matéria dificulta muito o aprendizado no Brasil. Mas o sistema brasileiro é mais livre do que o da China. Os alunos podem ficar mais relaxados durante as aulas. Também podemos optar por aulas à noite ou de manhã. Na China, o ensino é mais barato, se faz aula o dia inteiro e cada matéria tem um livro. Lá, o aluno não precisa trabalhar. Aqui podemos interromper os estudos e, mais tarde, retomar. Já na China, não; apenas em casos de doença, como câncer. A administração da instituição e o dormitório são bons para os estrangeiros. Quando fiquei doente, recebi bastante ajuda. 

Edwin Ricardo Avendaño Vargas, 23 anos, Colômbia

Ciências Contábeis – FURG (Universidade Federal do Rio Grande) 

Se comparada com a Colômbia, a educação é de graça no Brasil. E aqui temos muitas oportunidades de estágios. Os professores são espertos nas áreas de ensino e as orientações nas cadeiras são objetivas e certas. A forma de avaliação do sistema educacional brasileiro difere do meu país. Os trabalhos de conclusão de curso, no caso das Ciências Contábeis, são trabalhos teóricos e práticos, no Brasil. No meu país, focamos na pesquisa. Quanto à avaliação, as provas são feitas em todas as disciplinas, enquanto, na Colômbia, metade da avaliação do aluno é feita por exames e o restante consiste em trabalhos e palestras. 

Wissam Haddad, 22, Jordânia 

Ciências Contábeis – UNASP 

Na minha visão, o sistema educacional brasileiro não é forte nem difícil para os estudantes. Isso porque, no Brasil, quase ninguém aprende a Língua Inglesa. As provas são bastante fáceis, já que não exigem que o aluno estude um livro, mas, sim, apenas parte do livro. Vejo que os professores são bons profissionais. Quando vim estudar no Brasil, não enfrentei dificuldades burocráticas. Mas acho muito complicado aprender algumas palavras em português. 

Lourdes Angélica Pacheco Cermeño, 37, Peru 

Doutorado em Educação – UFPI 

Acho que no sistema brasileiro somente se estuda a realidade do Brasil, sem fazer comparativos com outros tipos de educação. Muitas leituras teóricas são debatidas, mas vejo que não existe um meio para saber se o estudante entendeu de maneira adequada. Quando cheguei aqui, vi que não há nada prático, somente leituras. O aluno que vem ao Brasil precisa de orientação psicológica, ajuda para conseguir moradia. Também senti falta de um curso para ensinar os estrangeiros a fazerem resenhas, artigos e empregar as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Em sala, muitas vezes minha fala era interrompida durante a participação e não me sentia à vontade nem acolhida. Mas aos poucos vejo que isso está mudando. 

Valeria Carbajal Rivera, 26, Honduras 

Mestrado em Arquitetura e Urbanismo – UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) 

Quando eu decidi estudar no Brasil, os cortes financeiros na educação ainda não eram tão fortes. O sistema educacional brasileiro está em um dos seus momentos mais difíceis devido à suspensão de programas que estimulam pesquisas. O incentivo à pesquisa ainda é um desafio em Honduras. Também houve diminuição dos fundos destinados ao conforto dos alunos. Por exemplo, o Restaurante Universitário da UFES, piorou o serviço. Entre as facilidades, encontrei disponibilidade de infraestrutura, com laboratórios, bibliotecas e recursos on-line, como o programa de idiomas Sem Fronteiras e todas as oficinas disponibilizadas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) em seu site. 

Jesus Antonio Duarte Gualteros, 30, Colômbia 

Mestrado em Química – UFPI (Universidade Federal do Piauí) 

O que mais chamou minha atenção é o ensino ser de graça no Brasil. Na Colômbia, mesmo que a educação seja pública, temos de pagar. Além disso, o sistema do Brasil é de qualidade com a maioria de professores mestres e doutores. O idioma é próximo do espanhol, mas têm palavras que mudam totalmente. O estrangeiro é bem acolhido. Mas tive dificuldades no processo de legalização da documentação, como, por exemplo, nos trâmites na Polícia Federal e banco. Achei as pessoas dessa área muito enroladas. 

Miguel Clemente Rubio, 28, Espanha 

Mestrado em Artes – Unicamp 

O sistema educacional é bastante focado nas pesquisas e os professores motivam os estudantes para fazer publicações. O que mais me chamou a atenção foi a liberdade dentro da universidade pública para criar eventos, conseguir apoio para projeto de concerto. Essas coisas fazem que seja um prazer desenvolver ideias, assim como o preço do "bandejão" e a oportunidade de os alunos não se preocuparem com nenhuma refeição. A parte burocrática costuma ser lenta. O jeito de sorrir do povo brasileiro para as coisas do dia a dia compensa e faz com que tudo seja mais simples.

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