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Famílias não precisam estabelecer papéis fixos ou designar um responsável por cada idioma. | Pixabay.
Famílias não precisam estabelecer papéis fixos ou designar um responsável por cada idioma.| Foto: Pixabay.

Facilidade de alfabetização, desenvolvimento cognitivo e contato com culturas diferentes são alguns dos benefícios de um aprendizado bilíngue durante a infância. Mas apesar de o bilinguismo total, em que o indivíduo tem a mesma competência em dois idiomas desde o começo da sua vida, ser uma tarefa quase impossível fora de comunidades com mais de um idioma oficial, o caminho até ele pode ser uma ferramenta importante para chegar a um alto nível de competência em um segundo idioma – e esse caminho começa na infância. 

Primeiro passos 

A iniciação em um segundo idioma pode ser feita desde os primeiros momentos: caso os pais sejam fluentes, podem se comunicar no dia a dia no idioma que a criança está aprendendo, sem perder o contato com a língua materna. 

“Língua é comunicação e toda a exposição que uma criança deve receber em uma língua adicional deve ser iniciada pela oralidade: fala e compreensão. Assim, constroem-se canais de trocas de informação sobre o mundo da criança de forma natural e significativa”, explica Luiz Fernando Schibelbain, especialista no Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas e diretor da Positivo English Solution School (PES School), em entrevista à Gazeta do Povo

Para ensinar um segundo idioma, as famílias não precisam estabelecer papéis fixos ou designar um responsável por cada idioma. O mais indicado é estabelecer um meio de contato natural com o idioma – se a criança sente-se confortável com as formas de comunicação, o aprendizado ocorrerá de modo orgânico. 

“É recomendável introduzir a segunda língua com naturalidade e sem pressão, observando o interesse da criança, respeitando o tempo de aprendizado delas e seu nível de desenvolvimento no idioma, sem tolher a sua curiosidade”, destaca Schibelbain. 

Processo natural 

Já o processo de alfabetização em um segundo idioma é recomendado a partir da fase em que a criança começa a também ser alfabetizada na língua materna – no Brasil, por volta dos 5 anos de idade. Partindo de uma iniciação prévia na língua materna, o aprendizado da segunda língua torna-se mais natural. 

“Quando a criança está inserida em uma educação bilíngue, a alfabetização se inicia na língua portuguesa, por volta dos cinco anos de idade, seguido de um processo natural de aprendizado de uma língua adicional”, explica. Segundo Schibelbain, isso ocorre porque as bases da alfabetização na língua materna servem como apoio para a construção do conhecimento no segundo idioma. 

É nessa fase que surge a importância de um curso ou escola bilíngue para fazer a transição da comunicação oral para a escrita em um segundo idioma. Nesse processo, as escolas ou cursos de idioma são responsáveis por fixar os conhecimentos e desenvolvê-los por meio da alfabetização. 

“A partir da fala, a escrita é apresentada enfatizando os sons das letras e as possibilidades, sempre com muita ludicidade e respeito ao ritmo de cada indivíduo, motivando os alunos para a leitura e a escrita simples no segundo idioma e acompanhando a sua evolução com autonomia para descobrir e criar e, em muitas vezes, estabelecendo relações entre as duas línguas e o que está sendo proposto”, diz Schibelbain. 

Papel da família

Nessa fase, o papel dos pais também é crucial, incentivando e adaptando suas expectativas para manter o aprendizado da criança de modo natural e interessante. “Os pais precisam ser cuidadosos ao introduzir a criança ao letramento em outra língua. Eles precisam pensar bem nos meios em que irão encorajar a criança a manter a linguagem”, destaca Gigliana Melzi, psicóloga do desenvolvimento e professora de psicologia aplicada na Universidade de Nova York, em entrevista ao The New York Times

O processo de aprendizado de uma língua é dinâmico e tem diferenças de acordo com o perfil de cada indivíduo. Por isso, especialistas apontam que o ritmo individual deve ser respeitado para um aprendizado natural e progressivo. 

Estudo realizado por pesquisadoras da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) indica que o tempo maior que algumas crianças levam para aprender uma segunda língua pode trazer benefícios em longo prazo: o tempo maior dedicado a entender as especificidades de duas línguas pode representar, no futuro, um maior cognitivo. Segundo a pesquisa, crianças bilíngues apresentam ganhos diferenciados na linguagem de forma mais precoce, o que facilita o processo de alfabetização. 

Para os pais que não querem introduzir a criança a um segundo idioma muito cedo, a idade não deve ser motivo para preocupação. “Quanto mais novo, mais possível começar na frente. Quanto mais velho, mais eficiente será o aluno, que já terá um primeiro idioma para se apoiar”, explica Gigliana. 

Para as crianças que começam a aprender uma segunda língua desde cedo, essa fase também tem especificidades. No começo, durante a fase de aprendizagem da primeira infância, a criança aprende não só um novo idioma, mas também está aprendendo a se comunicar de modo mais complexo na sua língua materna – por isso é comum surgir uma comunicação mista, com aspectos dos dois idiomas. 

“As línguas não ficam armazenadas no cérebro em caixinhas separadas; portanto, nuances de uma língua para a outra podem ocorrer em qualquer momento”, diz Schibelbain. “Deixar com que a criança se expresse livremente até mesclando as línguas faz parte do aprendizado inicial.”

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