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O trabalho do diretor Wilson Marcionilio, na Escola Estadual Manoel Ribas, é visto como um bom exemplo de gestão | Henry Milleo / Gazeta do Povo
O trabalho do diretor Wilson Marcionilio, na Escola Estadual Manoel Ribas, é visto como um bom exemplo de gestão| Foto: Henry Milleo / Gazeta do Povo

Sem curso

Formação de gestores tem lacunas no país

Além de formas deficientes para a escolha de diretores, os eleitos não são preparados nas universidades para enfrentar os desafios de gerir uma escola – o que afeta também a rede particular de ensino. "A capacitação de profissionais da gestão escolar ainda está na fase de ‘alfabetização’ em nosso país. Os [programas] ofertados em nível de especialização, que não têm nenhum caráter de especialização, caracterizam-se pela generalização de conceitos e teorias", lamenta Heloísa Lück, coordenadora de uma pesquisa sobre o tema conduzida pela Fundação Victor Civita. Nesse sentido, treinamentos oferecidos por secretarias de educação também não oferecem um conteúdo que seja útil no cotidiano escolar. "Em geral, falta conscientização de que é preciso melhorar a capacitação e acompanhar mais de perto esses profissionais", afirma Maria Carolina Nogueira Dias, especialista em Gestão Educacional da Fundação Itaú Social. (DD)

Iniciativa

Academia de diretores leva mais qualidade às escolas de Nova York

Uma iniciativa implementada em 2003 em Nova York causou uma reviravolta nos índices de aprendizagem nas escolas da cidade. Depois da criação da Academia de Lideranças de Nova York para diretores das escolas, o rendimento em Inglês e Matemática de alunos de instituições que estavam abaixo da média melhorou e se nivelou com o de outras boas escolas. A iniciativa foi apresentada em São Paulo, no mês passado, por Irma Zardoya, presidente da academia. Seguindo os meios de seleção empresariais, a academia implantou um recrutamento semelhante aos programas de trainee de multinacionais. Os novos diretores só assume­­m a posição após 14 meses de treinamento, com simulações de situações reais do cargo. Aqueles que não forem considerados aptos podem ser dispensados. (DD)

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Como o maestro de uma orquestra ou o líder de uma empresa. É assim que países como Estados Unidos e Inglaterra veem os diretores das escolas – nações nas quais o cargo é considerado o mais importante depois do professor, conforme apontam pesquisas internacionais, como a feita pela Wallace Foundation em 2011. No Brasil, no entanto, falta muito para atrair líderes para o cargo, capacitá-los com qualidade e criar boas condições de trabalho. Com poucas exceções, exige-se pouca competência de quem quer assumir o posto, os treinamentos deixam a desejar e as dificuldades materiais das escolas representam um grande desafio para o bom andamento das atividades.

O primeiro grande problema é a forma como são se­­lecionados os­­ diretores no Brasil. Em dez estados, os ocu­­pantes desses cargos são escolhidos por indicação política – sistema desaconselhado pelos educadores por facilitar o uso político do cargo pelas escolas. O método é a base para a escolha de diretores em 40% das escolas municipais do país, segundo o Ministério da Educação.

A eleição é hoje a forma mais realizada. Por mais que permita a participação da comunidade, é um método falho em garantir a competência do escolhido, já que não costuma ser acompanhado de provas que testem as competências dos profissionais. Das 20 unidades da federação que adotam o pleito, algumas como fase anterior à indicação política, apenas Bahia, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais e Pernambuco fazem um tipo de avaliação como pré-requisito para serem eleitos.

O concurso público, em uso somente em São Paulo, é o mais próximo dos sistemas internacionais de captadores de líderes para as escolas. "É uma forma de provimento que ajuda a contratar os melhores e evita abusos e privilégios. A sua utilização não fere a gestão democrática da escola, como pensam alguns. E, para evitar engessamento, não existe estabilidade absoluta", diz o professor Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da Uni­­versidade de São Paulo (USP).

Fiscalização

Outro entrave para a melhoria da gestão das escolas no país é a falta de mecanismos que ajudem a avaliar o trabalho dos diretores. Especialistas concordam que o desempenho de uma escola não depende só da atuação do diretor, mas também da equipe e das condições materiais das escolas, que são precárias no Brasil. Mesmo assim, insistem na necessidade de delimitação de indicadores que sejam acompanhados pelas secretarias de educação para promover melhores resultados.

"Critérios utilizados hoje em algumas redes públicas de ensino são questionáveis. Quando esses parâmetros forem bem adotados e os gestores tiverem o suporte dos órgãos públicos para atingir essas metas, como acontece em outros países, com certeza teremos boas surpresas na aprendizagem dos nossos alunos", acredita Priscila Cruz, diretora-executiva do movimento Todos pela Educação.

Exemplo

Trabalho depende do apoio da comunidade

A gestão de uma escola engloba uma complexidade de aspectos pedagógicos – materiais e administrativos – difíceis de equacionar. Principalmente quando faltam recursos. Além disso, no Brasil, muitas escolas da rede pública funcionam em regiões socioeconômicas vulneráveis, o que aumenta o desafio dos diretores.

Quem consegue trabalhar nessas condições pode ser considerado um herói. Esse é o caso de Wilson Marcionilio, diretor da Escola Estadual Manoel Ribas, ao lado da Vila Torres, em Curitiba. No cargo desde 2010, ele conta que assumiu a instituição depois que o Ministério Público do Paraná (MP), em parceria com lideranças locais, tomou medidas para evitar que a escola fosse fechada.

Aplicando o projeto do MP, com a ajuda do governo estadual e de toda a equipe de professores e funcionários do colégio, Marcionilio está conseguindo um maior apoio da comunidade e tem mantido as crianças por mais tempo na escola, transformada em instituição de ensino integral.

"Os principais problemas da instituição são a forte tendência à evasão dos estudantes e outros inerentes a dificuldades da comunidade localizada nas proxi­­mi­­dades da instituição, como o tráfico de drogas. O nosso trabalho não consiste só em gerir a escola, mas fazer dela um local atraente­­ para as crianças e, ao mesmo­­ tempo, em estarmos próximos às famílias para que elas compreendam a importância dos estudos para as crianças", diz.

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