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Leandro escondeu dos pais sua opção pela Enfermagem até o momento da matrícula no curso. | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Leandro escondeu dos pais sua opção pela Enfermagem até o momento da matrícula no curso.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Escolher uma profissão não é uma tarefa fácil, ainda mais em tempos de profundas transformações no mercado de trabalho. Para os jovens que precisam decidir qual caminho seguir, a dica dos “gurus” de carreira costuma ser de se fazer aquilo de que se gosta, o que traria como consequência quase natural o sucesso profissional. Mas, e quando essa opção vai contra tudo o que os pais sonharam (e investiram) para o futuro do filho? Como seguir um caminho diferente sem quebrar expectativas ou iniciar uma briga familiar?

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Não é raro de se encontrar nos cursos de graduação, em especial nos das profissões mais tradicionais, como Direito e Medicina, jovens frustrados por terem sido, de alguma forma, “forçados” pelos pais a seguir determinada trajetória acadêmica. Os fatores que levam as famílias a adotarem tal comportamento, por sua vez, são diversos.

“Muitos pais desejam que os filhos façam cursos que eles gostariam de ter feito e que, por algum motivo, não fizeram. Outros pensam no status e na projeção social que a formação dará ou querem que o filho faça o curso para ‘ganhar dinheiro’. Há, ainda, os que por serem médicos ou empresários desejam que os filhos sigam suas profissões para usufruir da estrutura e/ou do nome [que construíram]”, descreve Ivo Carraro, psicólogo, orientador educacional do Curso Positivo e autor do livro “Profissões: a vocação dos filhos e o desejo dos pais”.

Prejuízos

O aumento da sensação de angústia é a principal consequência que a pressão por parte dos pais gera sobre os filhos. Isso pode fazer, inclusive, com que muitos deles sigam os caminhos determinados por seus familiares devido à gratidão que sentem por eles ou por não quererem desapontá-los.

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A partir dessa escolha, dois cenários são os mais prováveis. O primeiro é o da infelicidade e da frustração pessoal e com a carreira, o que faz com que o profissional não se envolva de fato com sua atividade, como lembra César Rota Júnior, psicólogo, especialista em Psicologia Educacional, doutor em Educação e professor das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros. Isso pode comprometer a qualidade do trabalho e, consequentemente, ter reflexos sobre toda a cadeia produtiva e/ou de serviço da qual o profissional faz parte.

O segundo refere-se à prestação de contas para os pais e a posterior busca daquilo que se realmente quer. “[Muitos jovens], ao receberem o diploma, apontam para a plateia como se dissessem aos pais: ‘terminei o curso, atendi seu desejo e agora vou seguir minha vida’”, ilustra Carraro.

Diálogo

O diálogo e a abertura dos pais para ouvir os anseios e projetos dos filhos é o melhor caminho para que a escolha profissional não se transforme em frustração ou em brigas familiares, como explicam os especialistas. Esse diálogo, por sua vez, deve contemplar as aptidões e habilidades do jovem, além do respeito a sua individualidade.

“Mais do que respeitar, os pais devem acolher a opção do filho, ter a mente e o coração abertos para orientá-lo nesta escolha, sem pressão ou julgamentos. Eles devem conversar com o jovem sobre as opções que ele tem, o porquê de ter escolhido tal curso e o que sabe sobre ele”, orienta Elenice Brusque, coach profissional e psicóloga.

Para as famílias que pensam que os filhos são muito jovens e, por isso, não têm a maturidade necessária para tomar tal decisão, Rota Júnior lembra que são por meio das escolhas que as pessoas amadurecem. “Mesmo que sejam escolhas falhas, isso faz parte do processo de crescimento. Então, o desejo do jovem deve prevalecer”, resume.

Para minimizar conflitos, jovem escondeu até o momento da matrícula a escolha pela Enfermagem

Quando se inscreveu no vestibular, Leandro Josué Correa de Souza preferiu não contar para os pais que estava concorrendo a uma vaga de Enfermagem. A decisão foi parte de uma estratégia para evitar possíveis conflitos. “Meu pai queria que eu fizesse Direito, devido ao estereótipo que envolve esta profissão. Então eu pensei: não vou contraria-lo agora, vou deixar para contar se eu passar”, lembra o enfermeiro, formado no fim de 2016.

O suspense, no entanto, foi mantido até o dia da matrícula, quando, ao checar os dados do então calouro, o profissional que atendeu Leandro e o senhor Ademir Correa de Souza na secretaria da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) confirmou com eles a escolha pela Enfermagem.

“A primeira reação do meu pai foi de estranhamento. Quando fomos embora as perguntas começaram a surgir e eu expliquei que em momento nenhum tinha prestado vestibular para Direito [o jovem já tinha tentado Turismo e Comércio Exterior]. Ele ficou um pouco decepcionado”, lembra Leandro.

Com o passar do tempo, o enfermeiro conta que o pai acabou entendendo que aquele era o seu sonho, e não o do filho, e que isso fez com que as coisas entre eles ficassem mais claras. Mesmo assim, Leandro lembra que, antes de se decidir pela área da saúde, chegou a cogitar a possibilidade de cursar Direito para agradar o pai. Quando pesquisou sobre o curso, no entanto, viu que tal formação não era para ele, o que fez com que voltasse a se dedicar à Enfermagem.

Hoje, Leandro se diz feliz com a profissão que escolheu e já planeja cursar uma pós-graduação na área de obstetrícia.

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