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O mercado de trabalho exige um nível elevado de inglês com frequência cada vez maior. Há quem diga que a língua não é mais um diferencial no currículo, mas um item obrigatório. No entanto, boa parte dos brasileiros ainda sofre para aprender o beabá americano (ou britânico) e, com isso, perde oportunidades profissionais.

Os dados do TOEIC, teste de proficiência que mede a leitura e a compreensão do inglês e é usado por multinacionais para avaliar possíveis contratados, mostra que o Brasil vai mal. O país está em 26º lugar entre 49 países, atrás de vizinhos como Colômbia, Argentina e Chile e até mesmo de nações africanas como Marrocos, Argélia e Camarões. 

Dentre os participantes do TOEIC, os brasileiros são os que têm menos tempo de estudo: 42% deles estudaram inglês por menos de quatro anos antes de fazer o teste.

No ranking do TOEFL, referência para quem pretende estudar no exterior, o Brasil tem um desempenho melhor, mas ainda fica atrás de países como Moçambique (no quesito pronúncia) e  Butão (no critério de escrita).

Como explicar essa deficiência? 

Para Karina Aires, mestre em Linguística e professora de Inglês do curso de Letras da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), o maior problema é a falta de importância dada ao tema nas escolas.

Segundo a Base Nacional Comum Curricular do Ministério da Educação, a língua só é obrigatória a partir do 6º, o que a docente classifica como um aprendizado tardio. “Se julgassem realmente importante haveria desde sempre", diz ela à Gazeta do Povo. “É uma disciplina secundária, diferentemente do português e da matemática", compara. 

De acordo com a especialista, a situação piora devido à formação rasa de alguns docentes. 

“Alunos que não tiveram acesso de qualidade à língua se formam professores e acabam lecionando, mas não se sentem seguros porque não aprenderam devidamente nas escolas e universidades,” diz a professora. Segundo ela, isso faz com que eles deem aulas nas quais não precisam demonstrar total habilidade do idioma – ou seja, quase não praticam conversação – e então seus estudantes saem prejudicados. Um ciclo que se torna vicioso. 

Entretanto, para Karina, o cenário está mudando. “Com a globalização, muitos alunos têm se interessado mais por meio de músicas, séries e filmes", afirma. Mas, ao mesmo tempo, segundo ela, falta recursos – e às vezes vontade – para professores melhorarem cada vez mais profissionalmente. “É preciso manter uma educação continuada, mas nem todo mundo consegue”, diz.

Reflexo negativo 

Além dos pupilos, quem também acaba sentindo o impacto dessa falta de investimento são professores de cursos particulares, como analisa Jaqueline Fernandes, consultora pedagógica do CNA: “O ensino de inglês nas escolas é muito pautado pela gramática, então os alunos conseguem escrever o básico, mas não se comunicam e não têm domínio para lidar com situações reais". 

 E é claro que quem possui melhores condições financeiras está um passo à frente. “Um curso privado de idioma tem uma duração relativamente longa, de quatro a cinco anos, semelhante a um curso superior, exige tempo e investimento”, diz Jaqueline. 

Tanto Karina quanto Jaqueline concordam que a falta do inglês significa perda de oportunidades. “Perdem-se chances individuais mas que, em uma proporção maior, atingem o país inteiro", avalia a professora da PUCPR. 

Oportunidades perdidas 

Viviane de Moraes, de 51 anos, sentiu na pele a dificuldade por não ter tanta experiência e facilidade com o idioma. A assistente administrativa, que possui nível intermediário, chegou a fazer aulas em uma escola privada na adolescência, mas abandonou os estudos nos anos seguintes. “Só consegui estudar inglês novamente quando comecei a trabalhar e comecei a pagar meus cursos", relembra. 

Para ela, o maior problema era a falta de confiança para falar a língua. “Sou muito tímida. Quando estava em escola era muito complicado, porque tinha medo de errar e ser criticada.” A solução então foi contratar um professor particular, que a ajudou a ter segurança para, finalmente, desenvolver uma conversação. 

No entanto, o caminho não foi fácil. Viviane diz ter perdido muitas chances de conseguir um bom emprego – ou cargos melhores com salários mais altos – por causa de seu nível de aprendizado. “Eu me arrependo profundamente de não ter investido bem mais no inglês quando era jovem.”

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