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Domenico Balbi e um aluno na horta da escola: punição diferente | Arquivo pessoal
Domenico Balbi e um aluno na horta da escola: punição diferente| Foto: Arquivo pessoal

Quantas vezes, ao ver o comportamento inadequado de um estudante, você ouviu alguém dizer que ele deveria estar “carpindo um lote”? Essa foi, literalmente, a solução encontrada por uma escola de Milão.

“Na Itália vigora um sistema que prevê que, em caso de infração, o aluno será submetido a um conselho que provavelmente o suspenderá. Mas não acredito que deixá-lo em casa será educativo”, diz  Domenico Balbi, diretor do Itsos Albe Steiner, uma escola de artes.

Desde o início deste período letivo, os alunos que infringem as regras do Albe Steiner precisam cumprir tarefas no jardim da escola, que também possui uma horta. A medida, aprovada por pais e pela comunidade, passou a ser aplicada àqueles que se vestiam de maneira inadequada ou fumavam maconha nos corredores da escola.

“Eles acreditavam que ir para nosso jardim equivaleria a horas vagas, mas essa sensação durou pouco; logo estavam trabalhando duro, recolhendo pedras e limpando o terreno”, conta. 

Em entrevista à Gazeta do Povo, Balbi fala sobre os reflexos da medida que adotou e os motivos que o levaram a deixar a carreira de advogado para retornar à escola. Confira: 

Você decidiu enviar estudantes indisciplinados para jardinagem. Como surgiu essa ideia? 

Na Itália vigora um sistema que prevê que, se o indivíduo comete um erro, em caso de infração, e isso acontece sempre, ele é submetido ao conselho de classe. O conselho então provavelmente o suspenderá. São um, dois ou três dias em que o estudante é proibido de ir ao colégio. Bem, não acredito que deixá-lo em casa será educativo. Com toda a tecnologia disponível, percebemos que os jovens estão cada vez mais dispersos, então deixá-lo em casa é o mesmo que abandoná-los em um mundo que quase sempre os leva a serem menos educados. Por isso me empenhei em encontrar medidas alternativas, e a que achei mais simples foi a recuperação de uma horta do lado de fora da escola e um jardim que temos no nosso terreno. 

Qual mensagem você acredita estar passando para seus alunos? 

Estamos proporcionando aos mais jovens uma volta ao contato com a natureza. Nossa escola fica em Milão, um centro industrial importante da Europa; por isso, a ideia de natureza ficou um pouco deixada de lado aqui. Na verdade, ultimamente ela quase não existe. Os valores que a natureza sempre transmitiu aos nossos pais são importantes e é o meu objetivo trazê-los de volta. 

Como pais e estudantes receberam a iniciativa? 

Os pais, creio que positivamente. Eles sabem que os meninos vão para aula sempre e, mesmo que quebrem as regras, estarão em uma atividade alternativa. Já os estudantes, no início, achavam que seria um tipo de jogo; acreditavam que ir para nosso jardim equivaleria a horas vagas. Mas essa sensação durou pouco. Quando vou com eles, em grupos de quatro, cinco pessoas, efetivamente os faço trabalhar, e assim, quando começaram a suar, carregar pedra, limpar o terreno, eles entenderam definitivamente que eu não estava brincando. E entenderam também que o resultado final disso tudo é real, como o jardim que eles fizeram: algo concreto, visível para todos e que foi muito bem recebido pelos alunos. E no final todos ficaram contentes por ter trabalhado para dar algo para a escola:  um belo jardim e uma horta com produtos agrícolas. Além disso, no próximo mês chegarão galinhas para eles cuidarem e estamos ativando um projeto com a prefeitura de Milão que pode abrir mais portas para nossa instituição. 

As ocorrências diminuíram neste período de penas alternativas? 

Como é uma escola de cinema, são poucos os casos de infrações mais graves. Porém, sendo uma escola de artes, é bem forte o problema do fumo, uso de drogas recreativas e, enfim, de quase sempre violarem a regra de não fumar dentro do instituto ou mesmo nos espaços abertos. É algo que preciso enfrentar e ainda não consegui resolver completamente. 

Quatro anos atrás, o senhor era um advogado bem sucedido em Nápoles, mas largou tudo para trabalhar na educação. Qual foi a sua motivação pra essa mudança? 

Nunca deixei a escola. Quando ainda era advogado, trabalhava em um instituto noturno, que me fez ver o quanto as escolas da Itália precisam de pessoas que dão a vida por elas. Chego na escola às 7h30 e saio apenas às 20h. É algo que sempre amei, mas que acho que posso ajudar a aperfeiçoar ainda mais. A Itália sempre teve as melhores escolas, principalmente na região de Reggio Emilia, existiam instituições que eram referências para o mundo todo. Hoje perdemos um pouco desta força, mas estou trabalhando como posso para ajudar a melhorar o sistema educacional italiano.

Modelo incentiva educadores a considerarem o que são as crianças no presente, e não o que podem se tornar no futuro#Educação #GazetadoPovo

Publicado por Gazeta do Povo em Sexta, 8 de setembro de 2017
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