• Carregando...
Calouro participa do tradicional banho de lama após ser aprovado na UFPR | Alexandre MazzoGazeta do Povo
Calouro participa do tradicional banho de lama após ser aprovado na UFPR| Foto: Alexandre MazzoGazeta do Povo

O sistema de ensino brasileiro, pelo menos nos três anos finais, é voltado para um objetivo: o vestibular. Em muitos casos, as próprias notas escolares e as outras atividades do estudante ficam em segundo plano para dar espaço à maratona por uma boa nota no Enem ou na prova de seleção da universidade desejada.

Mas talvez seja hora de flexibilizar as regras, ou ao menos testar modelos alternativos que levem em conta outros critérios além do desempenho em uma prova.

Um possível efeito positivo dessa mudança seria a redução da paranoia dos estudantes com a prova e uma ampliação de horizontes que os levaria a se dedicar mais aos estudos no dia a dia – e eventualmente a atividades extracurriculares. 

A seleção por meio de uma única prova, como acontece hoje, aumenta a chance de que fatores alheios interfiram: o conteúdo exigido pelo vestibular é extenso, mas apenas parte dele cai na prova. A sorte tem peso significativo sobre o resultado. A lista de aprovados poderia ser diferente se uma questão sobre a Revolução Francesa fosse trocada por outra sobre a Revolução Industrial, por exemplo. 

A ausência de entrevistas ou cartas de candidatura também nivela a seleção por baixo. O aluno que já tem um plano concreto para sua carreira acadêmica e profissional merece perder a vaga para aquele que fez a inscrição apenas por fazer, sem ter uma ideia clara do que pretende? A adoção de entrevistas ou da carta de candidatura pode ser uma boa ideia – se não pela justiça de valorizar os que pretendem estudar com um propósito concreto, ao menos por motivos econômicos: a evasão tende a ser maior entre alunos inseguros quanto ao próprio curso. 

Além disso, a adoção das notas do ensino médio como um dos critérios de avaliação, como acontece nos Estados Unidos, parece mais justa do que avaliar o desempenho do estudante com base em uma prova específica. É possível mascarar o conhecimento de química decorando fórmulas para uma prova em um dia específico, mas é impossível fazê-lo durante todo o ensino médio. Uma consequência da mudança nesse aspecto seria fazer com que os estudantes se dedicassem nos trabalhos em sala e em cada prova ao longo dos três anos finais, em vez de centrar suas energias em um único exame. 

E, cabe dizer, por que não levar também em consideração os trabalhos voluntários extraclasse, a participação em grupos de leitura, a dedicação regular a um esporte? 

A adoção de um modelo mais abrangente poderia até mesmo funcionar como uma alternativa às cotas. Em vez de um sistema cego, que por vezes beneficia negros ricos ou brancos sem um pingo de sangue africano, a adoção de um modelo mais completo de seleção permitiria aos avaliadores agir de forma mais justa também nesse aspecto. 

É verdade que uma mudança como essa abriria margem para alguma subjetividade, mas isso pode ser corrigido pela adoção de bancas coletivas (e diversificadas) de seleção. Além disso, o Enem não precisa ser abolido. Mas pode ser tornar um dos critérios de seleção. 

Liderança, disciplina, empenho, planejamento e apreço pelo aprendizado são características recomendáveis em nossos estudantes. Não seria uma má ideia conduzi-los nessa direção desde cedo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]