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Os estudantes Eduarda Martins e Matheus Ion, da 6ª série da Escola Viver têm de cuidar de uma boneca. O objetivo é que eles simulem como seriam as consequências de uma gravidez precoce. A atividade faz parte das discussões dos temas transversais, importantes para a formação dos alunos e, em alguns casos, difíceis de serem abordados | Fotos: Albari Rosa/Gazeta do Povo
Os estudantes Eduarda Martins e Matheus Ion, da 6ª série da Escola Viver têm de cuidar de uma boneca. O objetivo é que eles simulem como seriam as consequências de uma gravidez precoce. A atividade faz parte das discussões dos temas transversais, importantes para a formação dos alunos e, em alguns casos, difíceis de serem abordados| Foto: Fotos: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Bons exemplos na prática

Os pedagogos alertam que nenhum assunto é apenas responsabilidade da escola ou dos pais, mas que é um trabalho integrado de educação e orientação entre os dois. De acordo com a especialista em psicologia social Tânia Maria Baibich Farias, embora a escola seja importante na discussão dos temas transversais, o responsável tem uma função fundamental no direcionamento da criança e do jovem. "Os pais têm de criar desde cedo um espaço para o diálogo, uma hora que seja livre para o filho expor suas dúvidas e curiosidades. O melhor caminho é sempre a verdade e a franqueza", explica.

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Preconceito ainda existe

Apesar de serem tratados, segundo alguns especialistas, de forma superficial, no Brasil o debate sobre os temas transversais está até bem avançado. Em Portugal o governo acaba de aprovar uma lei que obriga as instituições de ensino a implantarem a educação sexual nas aulas. A lei não agradou aos portugueses, que realizam passeatas na tentativa de derrubar a obrigatoriedade.

Livro ajuda na abordagem dos temas

A leitura é um boa opção para tratar dos temas transversais mais delicados. Além dos livros de literatura infanto-juvenil, existem coleções transdidáticas – que entram em várias áreas do conhecimento – para serem usadas em sala de aula pelos professores. A ideia é que os livros falem para as crianças sobre perdas, por exemplo, de forma sutil e simbólica.

De acordo com a diretora do Centro Pedagógico da editora Aymará e professora de Letras da Universidade Federal do Paraná, Marta Morais da Costa, o propósito dos livros é trabalhar de forma suave e metafórica os assuntos mais espinhosos. "Quando o tema é tratado simbolicamente, fica bem mais fácil porque a criança gosta e fixa melhor. A imagem elabora aquilo que é trágico, difícil", explica.

Alguns livros falam sobre morte contando histórias de crianças que perderam animais ou até outros objetos, como os dentinhos que caem por volta dos seis anos. Para os pais que sentem certa dificuldade em introduzir um assunto em casa e querem que a criança tenha contato com ele antes da escola, escolher um livro pode facilitar, inclusive para temas ligados à sexualidade. "A melhor forma de trabalhar com as questões humanas é o texto literário", afirma Marta.

Para todos os outros temas transversais, existem obras tanto infantis como juvenis que tratam sobre droga, violência, cultura e meio ambiente. Uma dica para os pais que não sabem como escolher a melhor opção de livro para seu filho é conversar com os professores.

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Uma das mais frequentes preocupações dos pais é como abordar determinados assuntos com seus filhos. Sexo, drogas, violência, preconceito e morte costumam causar certo embaraço na hora de conversar. Mas a pergunta constante entre os familiares é a quem cabe esse tipo de orientação, aos pais ou à escola.

Desde 1997, os chamados temas transversais – ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural – são obrigatórios no currículo escolar, mas cada instituição de ensino pode optar pela forma de abordá-los em sala de aula.

De acordo com a socióloga, especialista em sexualidade e professora da Universidade Positivo, Eliane de Oliveira, é papel da escola ajudar os pais a discutir os temas em casa e trabalhar a própria resistência deles em lidar com essas questões. Quando a família não sabe exatamente como tocar no assunto, deve procurar os professores para trocar ideias e ver a melhor forma de agir. "A escola deve desafiar os pais a terem um olhar diferente sobre sexualidade, propondo atividades para os filhos que façam os pais pensarem se estão agindo de forma conservadora", afirma.

Mas, segundo a so­­cióloga, alguns assuntos, especialmente a sexualidade, ainda são tabus, em casa e em sala de aula, e o papel do homem e da mulher ainda é pouco discutido pelos professores. "O trabalho é superficial, falta capacitação dos docentes para lidar com o assunto."

Embora a sexualidade seja considerada o tema mais delicado, outros como preconceito e morte, também nem sempre contam com um bom preparo do professor para lidar com o assunto, pois de acordo com a especialista em psi­­cologia social e professora de pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Tânia Maria Baibich Farias, to­­­dos se sentem assustados diante de algumas questões. "É natural que nem sempre o professor saiba a melhor forma de tratar, pois alguns temas são dificuldades individuais", diz Tânia.

Nas escolas particulares, os temas são tratados nas disciplinas de Por­tuguês, Biologia, Ciências e História, e nas públicas aparecem divididos por módulos. Na prática, programas específicos, atividades extracurriculares, debates e palestras são desenvolvidos para abordar esses temas.

Para as famílias, as orientações da escola ajudam na conversa que é feita em casa. É o caso da costureira Maria de Fá­­ti­­ma No­­­gueira, mãe do Or­­lando, 11 anos, que não sabia como falar sobre sexualidade com o filho em casa. Como Orlando nasceu bem mais tarde que suas outras filhas, que já são adultas, Maria não se sentia à vontade para responder às perguntas do filho. "Minha sorte é que a escola (Colégio Positivo) tem um programa específico sobre sexualidade, feito fora do horário de aula e ele pediu para participar. Lá pode tirar suas dúvidas, o que me deixou bem mais tranquila", conta. Orlando também vê o assunto durante o período normal de aula em outras disciplinas, mas é no programa que se sente mais confortável para fazer perguntas e tirar as dúvidas.

A professora da 4.ª série do ensino fundamental do Co­légio Bom Jesus, Jucemara da Costa Car­valho, conta que costuma trabalhar de maneira natural a sexualidade, sem mostrar cara de espanto quando algum aluno faz pergunta e sem dar margem aos risinhos que aparecem. "Nas primeiras vezes as crianças ficam encabuladas, dão risada uma das outras. Mas depois de umas três vezes elas se acalmam e acabam tratando como algo normal."

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Interatividade

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