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 | Henry MilleoGazeta do Povo
| Foto: Henry MilleoGazeta do Povo

Os irmãos Thor (9), Thrud (5) e Tarik (3) não frequentam uma escola regular como a maioria dos estudantes brasileiros. Embora a afirmação possa parecer estranha, eles fazem parte de um grupo crescente de estudantes que praticam o unschooling, ou “desescolarização”, no Brasil. O método, que surgiu com o intuito de questionar as formas tradicionais de ensino, estimula a aprendizagem das crianças a partir dos seus próprios interesses. 

A mãe das crianças, Lis Oliveira, explica que seus filhos aprendem o tempo todo. Além de pesquisarem, lerem e praticarem atividades lúdicas — como pintar e desenhar —, eles visitam museus, bibliotecas, parques e outros locais com exercícios direcionados aos pequenos. 

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“No unschooling aproveitamos todas as oportunidades de curiosidade das crianças para despejar o conhecimento”, diz em entrevista à Gazeta do Povo

Alternativas 

Dentro da desescolarização não há livros didáticos ou rotinas e obrigações predefinidas. Para Lis, a prática faz com que as crianças fiquem mais estimuladas a buscar o conhecimento. 

“A aprendizagem ocorre de fato quando existe aquela curiosidade pelos assuntos, quando o indivíduo vê sentido em aprender. Quando somos expostos a uma obrigação, como ocorre na escola tradicional, ficamos menos estimulados a realmente deter conhecimento”, afirma. 

Adeptos 

O presidente da Associação Nacional de Ensino Domiciliar (Aned), Rick Dias, estima que cerca de 7 mil famílias sejam adeptas à educação em casa no Brasil. Desse número, existem os praticantes do unschooling e do homeschooling — este último se baseia na metodologia escolar (livros, provas etc.), porém fora da instituição. 

Para Dias, a grande diferença do unschooling está na autonomia das crianças no processo de ensino-aprendizagem. “Em vez de apenas memorizar conteúdos, vi meus filhos buscando o conhecimento, pesquisando e aprendendo a aprender”, conta. 

Ele explica que não há um método de ensino que funcione para todas as famílias. Isso quer dizer que cada criança aprenderá de uma forma. Cabe aos pais, portanto, descobrir o que mais os estimula. 

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“O melhor jeito de aprender é aquele que funciona bem em sua casa, com seu filho. Uma criança pode começar a ler pelo método fônico, por exemplo, enquanto outra pode preferir o método silábico”, explica.  

Ressalvas 

A legislação brasileira prevê que as crianças a partir dos 4 anos devem ser matriculadas na escola. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), a decisão de liberar a educação domiciliar envolve diversos órgãos, como o Conselho Nacional de Educação (CNE), o Ministério de Desenvolvimento Social e o Ministério Público. 

Em nota, o MEC informa que “as áreas técnicas e jurídicas do MEC iniciaram estudos aprofundados sobre a educação domiciliar. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) será fundamental na análise e no estudo sobre o tema, uma vez ser o documento que define as competências e habilidades que devem ser desenvolvidas por todos os estudantes brasileiros nos anos e etapas da educação básica.” 

Controvérsia 

O impacto real da educação alternativa é difícil de ser mensurado: nos EUA, a maioria das famílias que optam por educação fora da escola não estão registradas pelo conselho escolar local e, por isso, não são avaliadas pelos mesmos padrões que os estudantes tradicionais. 

A ideia de que a educação doméstica é superior à educação tradicional, na verdade, é sustentada por alguns estudos financiados pela “Home School Legal Defense Association”, entidade defensora dos direitos das famílias que adotam homeschooling. 

Os resultados em testes, porém, contam outra história: testes padronizados aplicados em crianças que frequentam a escola e crianças da mesma faixa etária que recebem educação alternativa nos EUA indicam que, quanto menos estrutura nas lições, menor o desempenho dos estudantes. 

No caso das formas mais radicais de unschooling, em que as mães disseram "raramente" ou "nunca" usar planos de aulas, as crianças tiveram o pior desempenho

Os melhores resultados estão presentes em crianças que, além de terem acesso a metodologias de ensino, têm maior envolvimento dos pais – seja em modalidades de homeschooling ou frequentando escolas tradicionais.

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