
Está em tramitação na Assembleia Legislativa do Paraná um projeto de lei que pode tornar obrigatório o ensino de internet nas escolas do estado. A proposta, de autoria do deputado Rafael Greca, ainda está sendo analisada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa e, caso aprovada, pode entrar em vigor em 2012. O objetivo da medida é conscientizar crianças e adolescentes dos ensinos fundamental e médio das escolas estaduais sobre os riscos decorrentes do uso inadequado de redes sociais como Orkut, Facebook e Twitter, além de e-mails e salas de bate-papo.
"As crianças devem ser preparadas para se defender das armadilhas da web, desde a pedofilia e conteúdos inadequados, até os politicamente incorretos e hostis aos direitos humanos, como cyberbulling. A escola não pode ignorar que a internet faz parte da realidade dos jovens", afirma Greca.
O programa, que teria duração mínima de 12 horas semestrais, seria elaborado pela Secretaria de Estado da Educação (Seed). Professores elogiaram a iniciativa, que pode dar mais subsídios para que se trabalhe com os alunos um tema delicado. Uma busca rápida no Google pelos termos "adolescente" e "webcam" traz mais de 500 mil resultados, a maioria com notícias e páginas sobre jovens, meninas em sua maioria, que aceitaram mostrar partes do corpo e até mesmo manter relações sexuais em frente da câmera.
Para a pedagoga e especialista em segurança em internet Danielle Lourenço, a proposta acerta ao conferir à escola tal responsabilidade. Ela lembra que muitos episódios polêmicos, como brigas marcadas pela internet ou de jovens que mantiveram relações sexuais em frente da webcam, começam na escola. "O projeto é fundamental, e como dizem os próprios jovens: demorou. Já deveria haver algo nesses moldes", brinca Danielle. "Só tenho uma preocupação: o professor ainda não está preparado para lidar com essas tecnologias. Será preciso ter dentro da secretaria alguém muito bem familiarizado com essas ferramentas."
A professora Elizabete dos Santos, diretora da Diretoria de Tecnologias Educacionais (Ditec), da Seed, diz que a proposta é apropriada. "A escola certamente tem a responsabilidade de fazer essa discussão, já que trabalhamos a inclusão digital. Na escola, utilizamos a internet como fonte de pesquisa, mas sabemos que há outras atividades que oferecem riscos." Elizabete, no entanto, faz um alerta: o projeto precisa ser discutido com a comunidade escolar, o que ainda não foi feito. "Um projeto que envolva a escola e tenha consequências sobre ela tem de ser discutido com todos os segmentos que nela atuam, como professores, funcionários, pais e alunos. Não podemos pensar em um projeto como esse desvinculado de uma discussão prévia."
Integração
Outra questão levantada pelos professores diz respeito à responsabilidade dos pais em intermediar a relação dos filhos com a internet, dever que não pode ficar apenas a cargo da escola. "A importância da família é fundamental. Há alunos que chegam a dormir em sala de aula porque ficaram até tarde na internet, e os pais não impuseram limites. Se os pais não nos derem apoio, o projeto não terá sentido", afirma a professora Eliane Pereira da Cruz, coordenadora pedagógica do Colégio Estadual Alcyone Velozzo, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), que atua na rede estadual de ensino há 33 anos. O professor de Geografia Ilson Rudniak, que também dá aulas de informática no colégio, concorda: "A escola pode ensinar, mas cabe aos pais fiscalizar e impor regras".
O coordenador da ONG Parceria para a Proteção da Criança e do Adolescente (CPP-Brasil), Luiz Rossi, que realizou uma pesquisa sobre o uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) por meninas adolescentes, acredita que a lei é bem-vinda, mas alerta que a escola não pode ser o único meio onde os jovens devem receber orientações sobre como proceder na "vida on-line". Rossi lembra que, ao chegar ao ensino médio, muitos jovens abandonam a escola. Logo, é preciso que outros setores da sociedade se integrem para garantir que eles terão acesso a essas informações. "Infelizmente, a taxa de evasão ainda é muito grande. Se dependermos apenas da escola, vamos perder esses jovens. A iniciativa tem de estar integrada com ONGs, telecentros, lan houses e a família, que também devem passar orientações."
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