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Aos 47 anos, o engenheiro biomédico e professor universitário José Carlos da Cunha acabou de concluir o doutorado | Walter Alves / Gazeta do Povo
Aos 47 anos, o engenheiro biomédico e professor universitário José Carlos da Cunha acabou de concluir o doutorado| Foto: Walter Alves / Gazeta do Povo
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Em busca de um sonho

Walter Alves / Gazeta do Povo

Márcia Regina da Silva Schot (foto), 34 anos, abandonou os cursos de Comércio Exterior e Administração para mudar radicalmente sua trajetória profissional. Ela sempre trabalhou no setor administrativo de empresas por achá-lo mais compensador financeiramente até que, no ano passado, desistiu do emprego e do 4º ano de Administração.

"Resolvi assumir meu sonho de ser professora [de Língua Portuguesa e Literatura] e estou à procura de um estágio. Todo mundo, com exceção de uma amiga e do meu marido, diz que estou ficando louca. Descobri que não podemos trabalhar apenas pelo dinheiro. Preciso fazer algo que me faça sentir bem", diz Márcia, que está no 1º ano de Licenciatura em Letras no Centro universitário FAE. O marido, Analberto Schot (foto), 34 anos, é professor de Matemática em turmas de ensino médio e pretende começar um mestrado no ano que vem.

Pós-doc só daqui a dois anos

O engenheiro biomédico e professor universitário José Carlos da Cunha, 47 anos, saiu da graduação e ingressou direto no mestrado. Doze anos depois, ele acaba de concluir o doutorado. A volta aos estudos não ocorreu somente pelo desejo de ascensão profissional. "Senti necessidade de evoluir na minha área de pesquisa, de ter mais conhecimento do mercado e me atualizar profissional, acadêmica e cientificamente", conta Cunha, que leciona na universidade Positivo desde 2001. O novo plano é de partir para um pós-doc no exterior, mas só daqui a pelo menos dois anos. "a carreira acadêmica exige muito, é bastante exaustiva. e precisa ter muita colaboração da família, que costuma reclamar do tempo que precisamos dedicar aos estudos e à pesquisa", conta.

Salários

Confira quanto é pago a profissionais que seguem carreira de magistério superior em universidades federais, com dedicação exclusiva:

Vencimento básico: R$ 2.872,85

Aperfeiçoamento: R$ 3.067,55

Especialização: R$ 3.244,69

Mestrado: R$ 4.837,66

Doutorado: R$ 7.627,02

Fonte: Ministério do Planejamento, valores de março de 2012.

Enquanto grande parte dos estudantes conta os dias para que a formatura chegue logo para sair da faculdade, há um grupo de alunos que não abandonará os laboratórios e as cadeiras universitárias tão cedo. São aqueles que decidiram seguir a vida acadêmica.

Mais do que dar aulas, a carreira docente envolve atividades relacionadas à pesquisa, criação de novas tecnologias, inovação e projetos que contribuem para o desenvolvimento do país. Entre as graduações que mais formam futuros professores e pesquisadores, além das licenciaturas, estão Direito, Educação, Administração, Saúde e Engenharia, especialmente a de Produção, de acordo com Daniella Forster, coordenadora do PUC Talentos e coach executivo.

Cursar uma pós-graduação stricto sensu é a escolha padrão para quem quer investir na carreira acadêmica. Quanto mais avançada a titulação, melhores as chances de ascensão na estrutura de cargos e salários das universidades. Após a graduação, há quem ingresse diretamente em um mestrado, que conduz à produção de uma dissertação em cerca de dois anos. O passo seguinte é o doutorado, que exige aproximadamente quatro anos de pesquisa e resulta em uma tese, cujo grau de ineditismo é maior do que o esperado no mestrado.

O pós-doutorado, ou pós-doc, não conta como um nível formal de titulação, segundo o assessor de pós-graduação da Diretoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Alexandre Moeckel. "O pós-doc acaba surgindo naturalmente ao longo dos anos em função da necessidade de se especializar em determinado tema de pesquisa ou para estimular trabalhos conjuntos com instituições e grupos de pesquisa já consolidados", conta.

Trajetória

A escolha entre engatar mestrado e doutorado à graduação e seguir para o pós-doc logo depois – o que poderia levar pelo menos 12 anos de estudo – ou fazer intervalos entre os cursos é pessoal e, segundo os especialistas, não há uma fórmula a ser seguida. Segundo Cláudia Quadros, professora do programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná, há quem prefira fazer tudo direto por achar que "já está no pique".

Mas vale considerar que é preciso tempo para mergulhar em pesquisas, o que significa ter menos tempo para lazer, família e amigos. "A vida acadêmica não é fácil. A pessoa tem de abrir mão de muita coisa. Ao fazer o mestrado, a gente se bate muito, pois está aprendendo a metodologia científica. No doutorado, já se tem mais tempo e experiência, mas a exigência é maior", afirma.

Para Moeckel, essas dificuldades e o perfil do aluno devem ser levados em conta antes de decidir se vale a pena investir na carreira acadêmica. Segundo ele, não é difícil ingressar no mestrado, difícil é elaborar um trabalho que possa ser facilmente defendido perante uma banca de críticos com vasto conhecimento na área. "Iniciar um mestrado ou doutorado e não conseguir concluir é frustrante para o aluno e para o orientador. Então, é válido buscar algo com que se tenha afinidade realmente para que se possa enfrentar esse caminho cheio de pedras e etapas para cumprir", diz.

Cuidados necessários

Cursar um mestrado, um doutorado ou ter vaga em uma sala de aula na universidade não é o suficiente para quem está na carreira acadêmica. Confira alguns cuidados que precisam ser tomados para garantir um currículo exemplar:

>> Se o inglês já está bem encaminhado, não deixe de aprimorá-lo ou de buscar outra língua. Idiomas estrangeiros contam pontos para a vida acadêmica e podem ajudar mais à frente, se houver o desejo de uma experiência internacional.

>> Quando a intenção é assumir o papel de professor, vale investir na prática da docência em sala de aula ainda como estagiário, para poder adquirir experiência e buscar aprimoramentos específicos.

>> Informe-se sobre as possibilidades de conseguir bolsas em órgãos de fomento como Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação Araucária. Verifique também se sua universidade tem convênios com instituições estrangeiras.

>> Há quem diga que a diferença entre os doutores está no número de publicações de cada um. De fato, é fundamental buscar a publicação de artigos em revistas de alto reconhecimento no meio acadêmico para ser credenciado como bom pesquisador perante a comunidade científica.

>> Se a intenção é ingressar em um mestrado, o primeiro passo é definir bem a área e o objetivo de estudo. É preciso produzir novos conhecimentos. Encontrar o professor orientador certo também é importante para crescer profissionalmente. No meio, dizem que bons orientadores formam bons pesquisadores.

>> Ter o currículo atualizado na plataforma Lattes (www.lattes.cnpq.br) é uma exigência para programas de mestrado e doutorado. É lá que se registram informações sobre a produção intelectual, como artigos apresentados e publicados; estágios e cursos concluídos. A dica é atualizá-la ao menos uma vez por ano ou toda vez que terminar um curso ou conseguir alguma publicação.

>> Pode-se começar a investir na carreira docente ainda no ensino médio. Há uma tendência de ver com bons olhos os estudantes que participam de projetos como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica Júnior (Pibic Jr) ou que fez iniciação científica durante a graduação.

>> Participar de grupos de pesquisa, da universidade ou de outras instituições, é importante para manter-se atualizado, conhecer opiniões sobre o próprio trabalho e avançar na pesquisa. Os grupos são registrados pelo CNPq e, geralmente, têm encontros mensais.

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