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“Entre os prêmios deste ano fui campeã na primeira etapa do Circuito das Estações Adidas, da “Corritalia”, da Corrida do Dia Internacional da Mulher e da Corrida Noturna Unimed Curitiba.” | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
“Entre os prêmios deste ano fui campeã na primeira etapa do Circuito das Estações Adidas, da “Corritalia”, da Corrida do Dia Internacional da Mulher e da Corrida Noturna Unimed Curitiba.”| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Bastante suor para realizar um sonho

Quem participa das principais corridas do estado já deve ter visto Letícia da Silva Saltori passando em primeiro pela linha de chegada. Mas quem se impressiona com a facilidade com que a garota de 23 anos dá seus passos largos, não imagina que não faz muito tempo que ela começou a treinar.

Nascida em Campina Grande do Sul, Letícia saiu de casa aos 17 anos e veio para Curitiba morar na casa de uma senhora, de quem cuidava durante tardes e noites enquanto terminava o Ensino Médio. Naquela época conheceu o professor de educação física Marco Aurélio Piazza, atual noivo, quem a apresentou à corrida.

A primeira prova foi em 2006, na Lapa, e desde então ela vem colecionando troféus e medalhas. Mas o prêmio maior apareceu em seguida. "Sempre tive o sonho de um dia entrar numa universidade e o mais interessante é que foi o esporte que abriu as portas para que isso se tornasse realidade", conta.

Letícia está no quarto período de Educação Física e tem uma bolsa de estudos na UniBrasil, que patrocina a atleta. "Adquirir a bolsa não foi fácil, pois a faculdade só oferecia bolsa a quem praticava esportes coletivos, e com um técnico que lutava por eles. Mas meu noivo conseguiu apoio para mim pela academia onde trabalha e meses depois a faculdade me deu a bolsa de 80%. Chorei de felicidade e hoje consigo guardar o dinheiro que antes ia para as mensalidades", diz. Letícia conta que além de treinar diariamente, tem de ter notas acima de 8.

  • Guilherme de Souza Nogueira vai terminar a faculdade em 2015 e até lá faz parte do time de vôlei da UFPR

O Brasil não é um país que é tido como grande incentivador do esporte dentro das universidades. No entanto, em Curitiba isto parece estar começando a mudar. As instituições de ensino que ainda não oferecem apoio aos times de seus universitários ou bolsas admitem a ideia como possibilidade para um futuro próximo. E nesse sentido, a UniBrasil é uma das que largam na frente. Além de apoiar uma estudante de Educação Física que corre nas principais provas do estado (leia a história ao lado), a faculdade patrocina alunas do time de vôlei e uma equipe de rugby, que este ano conquistou o campeonato estadual.

Depois de um longo inverno sem equipes treinando oficialmente, a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) começa a se movimentar pela mobilização do centro acadêmico. Segundo o coordenador do departamento de esportes da PUCPR, Luiz Carlos Py, três times estão sendo formados e em processo de seleção dos estudantes. Futsal e basquete feminino e vôlei masculino já têm os treinadores e técnicos escolhidos e a intenção é transformar a universidade em um "celeiro" de atletas. "Um programa está sendo estudado, com o objetivo de preparar os alunos para os jogos, e também com um processo de distribuição de bolsa-atleta. A demanda é cada vez mais crescente, mas hoje ainda acontece de uma forma mais organizada pelos próprios alunos, enquanto a PUCPR entra em termos de organização dos espaços e limpeza", diz.

Para o professor de Educação Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR)Fernando Mezzadri, doutor em Educação Física e professor de Políticas Públicas para o Esporte, oferecer bolsas de estudos para universitários atletas é mais do que justo. "É importante, pois esses alunos dedicam parte do seu tempo na representação da instituição. É papel da universidade o desenvolvimento da prática esportiva, tanto corporal para todos os alunos, como uma prática de treinamento esportivo para quem tem mais habilidades e condicionamento", afirma.

O gosto pelo esporte

Apesar de ter uma boa adesão dos alunos e participação em quase todas as modalidades do esporte, a UFPR não oferece hoje nenhum tipo de bolsa aos alunos participantes este é um assunto que estaria sendo tratado com os ministérios do Esporte e da Edu­cação. "Joga­mos porque gostamos", diz Guilherme de Souza Nogueira, 19 anos, aluno de Ciên­cias Bio­lógicas e jogador do time de vôlei da UFPR. Ele conta que além de ma­­lhar todo dia, tem treinos três vezes por semana. Dedicação que já rendeu a ele muitas oportunidades de subir ao pódio. "A universidade nos oferece lugar para treinar, malhar e também os materiais de treino. Uma bolsa-atleta seria bacana, até para que houvesse um maior comprometimento dos atletas da universidade", conta.Fernando Mezzadri afirma que na UFPR ainda faltam melhores espaços e que as condições de uso das quadras e equipamentos não são as me­­lhores. "Va­­mos verificar se com as O­­limpíadas al­­guns equipamentos esportivos, como ginásio e pista de atletismo, podem ser construídos e servir para os treinos. Hoje temos dois campos oficiais de futebol, uma pista de atletismo que não é oficial, mas é boa, e três quadras cobertas. Estamos construindo duas quadras poliesportivas e esperamos construir mais um ginásio e uma pista de atletismo", diz.

Na PUCPR, os mais de 3 mil alunos podem usar a estrutura de esportes mesmo sem a intenção de representar a instituição. Entre as modalidades disponíveis estão a musculação, corrida de rua, duatlon, flex bola, natação, hidroginástica, spinning e, em breve, pilates com aparelho. Mas isso não sai de graça. "As atividades são abertas à comunidade e os alunos têm 10% de desconto. Assim como têm desconto na locação de quadras, que são muito procuradas e têm um valor mais em conta que o cobrado pelo mercado", conta Luiz Carlos Py.

Apesar de tudo, ainda falta muito

Há cerca de três décadas, a educação física era obrigatória na universidade. Desde que ela foi abolida do currículo, o esporte foi perdendo força no Ensino Superior. Essa é a opinião de Paul Julius Stanganelli, professor de Gestão Esportiva da PUCPR e assessor técnico da Paraná Esportes. "A não obrigatoriedade fez com que houvesse um retrocesso no desporto universitário. Antes qualquer aluno que entrasse, fosse em Geografia ou Odontologia, tinha de fazer pelo menos um ano da disciplina. Com isso a faculdade tinha mais condições de montar equipes."

Enquanto os Estados Unidos e países da Europa têm forte tradição de investimento no esporte de universitários, no Brasil isso ainda está engatinhando. Há espaço para treinar, universidades equipadas, professores capacitados e alunos dispostos. Contudo, não se vê avanço. Não há um calendário esportivo forte no meio universitário e quem pratica alguma modalidade o faz mais como promotor da imagem das instituições. "Há a necessidade de se resgatar essa dinâmica desportiva. Não adianta ter projetos isolados que servem apenas poucos ótimos atletas. O esporte vem da quantidade, e da oportunidade para todos", diz.

Maiores parcerias com a iniciativa privada e políticas de desenvolvimento do esporte seriam a solução. "O esporte é um produto e precisa de vinculação com o mercado. Quando se investe no esporte, se ganha com o reconhecimento público. Há uma tendência de se trabalhar dessa forma e, como o Brasil está envolvido em grandes eventos esportivos, isso servirá de estímulo a novas formas de se relacionar com o esporte."

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