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Violência faz parte do cotidiano da escola e pode estar presente em qualquer relação ou interação na comunidade escolar | Pexels.
Violência faz parte do cotidiano da escola e pode estar presente em qualquer relação ou interação na comunidade escolar| Foto: Pexels.

Casos de violência já fazem parte do cotidiano escolar – agressões de estudantes contra professores ou colegas, depredação das escolas ou uso de armas na sala de aula são exemplos recorrentes. Um estudo realizado na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), porém, indica que a violência também está presente na escola de formas mais sutis, como por meio do abuso de autoridade de professores contra alunos. 

pesquisa realizada por Rachel Fernanda Matos dos Santos, do Programa de Pós Graduação em Serviço Social, analisou o que se denomina violência simbólica, ou violência institucional – atos abusivos de autoridade por parte dos professores e da escola. 

“A violência explícita são casos extremos em que o professor se aproveita de sua autoridade. Já a implícita é mais corriqueira: ela acontece quando o professor exerce seu poder de autoridade com punições excessivas, ameaças, formas de constrangimento, humilhações, que podem colocar o aluno na condição de vítima”, diz Andrea Ramal, doutora em Educação pela PUC-Rio. 

A violência simbólica é mais comum justamente por ser baseada em algum tipo de poder que faz parte do cotidiano e, por ser mais sutil, não acaba noticiada. 

“É velado, ‘invisível’ aos nossos olhos, pois o tipo de dominação que nele está envolvido é tido como parte da cultura, é legitimado pela sociedade, normalmente em relações hierárquicas, tais como professor-aluno ou direção-professor”, explica Dhayana I. Veiga, doutora em Psicologia e professora e pesquisadora da Universidade Positivo (UP). 

Segundo Dhayana, esse tipo de violência faz parte do cotidiano da escola e pode estar presente em qualquer relação ou interação na comunidade escolar. “Quaisquer situações em que alguém se vê obrigado a seguir ordens sem receber instruções adicionais, sem poder fazer perguntas ou emitir sua opinião pode estar diante de uma situação de violência”, exemplifica. 

Abuso de poder 

No estudo sobre o abuso de autoridade dos professores, Rachel investigou o cotidiano de estudantes do 2º ano do ensino médio em escolas de diferentes contextos sociais. A análise constatou que a maioria dos incidentes de violência nas escolas é atribuída aos alunos, o que faz com que a violência escolar seja associada à conduta dos alunos. 

Alguns dos mecanismos usados por docentes para agir com violência simbólica contra os alunos são o abuso da sua posição de poder e o uso de avaliações que buscam desqualificar os alunos e fazer com que eles se sintam incapazes ou inadequados. 

“Quantos de nós não tivemos que seguir regras impostas por um professor que nem mesmo ele era capaz de segui-las? Quantos não se sentiram injustiçados ao perceber que alguns de nossos colegas receberam privilégios, enquanto que outros, mesmo atuando de forma semelhante (ou até de maneira mais eficiente), jamais tiveram acesso a tais privilégios?”, diz Dhayana. 

De acordo com o estudo, professores se tornam violentos quando não conseguem se posicionar como uma autoridade positiva. A resposta dos alunos a essa autoridade negativa é uma resistência por meio de indisciplina e comportamento inadequado. 

Assim, o uso da violência simbólica pelos professores e pela escola pode levar a uma reprodução de comportamento violento pelos alunos. “A violência simbólica gera exclusão, descrença nas leis e na democracia, sentimentos de incapacidade, de fracasso e revolta e, consequentemente, mais violência”, explica Dhayane. 

Além disso, o desconforto causado nos alunos pode trazer consequências que afetam o desempenho dos estudantes e levá-los a abandonar a escola. “Em determinado estágio, essa violência simbólica pode até provocar a evasão escolar. Porque o aluno, quando constrangido ou humilhado, acaba deixando de frequentar as aulas”, aponta Andrea Ramal. “Pode prejudicar também a aprendizagem no sentido de motivação. O aluno pode acabar estudando e aprendendo menos”, completa. 

O comportamento violento pode ser evitado pelos professores com uma visão crítica das suas atitudes, segundo Dhayana. “É fundamental que o professor analise criticamente o impacto de suas próprias ações na equipe escolar, em sala de aula e que ele mantenha-se sempre informado sobre os direitos de seus alunos e de sua própria cidadania. Conheça seu aluno.” 

O combate à violência entre os alunos também é uma estratégia para os professores. Segundo Andrea, é papel do educador proporcionar a formação de valores e construir um conceito de tranquilidade e paz na sala de aula. “Quando vê uma agressão de aluno para aluno, o professor não deveria tolerar isso. A melhor maneira é interromper a aula e discutir o que aconteceu, trazer todo o tipo de informação voltada para a tolerância, respeito às diferenças e um clima de qualidade.” 

Comportamento 

O abuso de autoridade pode se transformar rapidamente em violência explícita, como ocorreu na Universidade Stanford em 1971. Um grupo de pesquisadores liderados pelo professor Phillip Zimbardo simulou uma prisão no porão do Instituto de Psicologia da universidade. No experimento, que teria duração de duas semanas, estudantes voluntários serviram como guardas e prisioneiros, reproduzindo as dinâmicas de uma prisão. 

O objetivo seria investigar o comportamento dos indivíduos quando eles são divididos em grupos com categorias diferente. Desde o começo do experimento, que acabou após apenas seis dias, os guardas abusaram de sua autoridade simulada e causaram maus tratos, castigos e humilhações aos presos, que aceitaram a violência e não saíram dos seus papéis. De acordo com o pesquisador em Psicologia, Lélio Braga Calhau, isso ocorreu porque a obediência é parte da realidade da vida em sociedade. 

“A obediência faz parte da nossa realidade social de forma incontestável”, disse em pesquisa sobre os quarenta anos do experimento de Stanford. “No decorrer da nossa aprendizagem (ainda crianças) já internalizamos normais sociais básicas, tais como, obedecer a nossos pais, professores, policiais etc.” 

Segundo Calhau, a obediência e a autoridade estão ligados entre si na nossa sociedade. “A obediência à autoridade está presente em várias situações de práticas de atos reprováveis no curso da humanidade”, conclui. 

Em média, o valor dos vencimentos desses docentes é 135% maior do que no setor privado!#GazetadoPovo via Educação - Gazeta do Povo

Publicado por Gazeta do Povo em Quinta-feira, 25 de janeiro de 2018
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