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Quem nasceu no século XX, não importa o ano, faz parte da geração que viveu o primeiro século do esporte de alto nível. O parâmetro, no caso, são os Jogos Olímpicos e os Mundiais de Futebol.

Nós todos, portanto, maiores de 16 anos, tivemos de uma forma ou de outra, proximidade, acesso, contato, enfim, com os primeiros monstros sagrados da Era do esporte.

Lá na frente isso será lembrado e invejado por outras gerações quando o calendário marcar os anos de 2.117... 3.005, por aí. Assim como para nós hoje existe um quê de imaginação sobre os artistas da Belle Époque.

Com a morte de Muhammad Ali e o leilão dos objetos da vida e da carreira de Pelé, vem a pergunta: quem foi o Vincent van Gogh do esporte no século passado, Pelé ou Ali?

O jornal francês “L’Equipe”, e a imprensa europeia de um modo geral, elegeu Pelé o Atleta do Século. Para os norte-americanos, o melhor de todos os tempos foi Muhammad Ali, segundo a revista “Sports Illustrated”.

A verdade é que foram, disparados, a meu juízo, os dois melhores atletas de todos os tempos. É até difícil adjetivá-los. Não sei. Pelé e Mohammad Ali foram, digamos assim, energias cósmicas. Avatares do esporte. Krishna e Rama.

Pelé fez declarações polêmicas. Algumas alienadas, como “os brasileiros devem esquecer os protestos nas ruas e pensar na seleção”. Outras boas , tal como “antes de falar de Pelé, Maradona precisa pedir autorização para o Zico, o Sócrates, o Romário, o Tostão, o Rivelino”. E uma especialmente corajosa: “fui covarde quando jogava. Só me preocupava com a evolução da minha carreira, e não lutava por boas condições para os jogadores”.

Muhammad Ali foi mais profundo: “voe como uma borboleta, ferroe como uma abelha”; “impossível é apenas uma grande palavra usada por gente fraca que prefere viver no mundo como está em vez de usar o poder que tem para mudá-lo”.

Posso dizer que acompanhei a carreira dos dois com frequência. Pelé no campo, ao vivo, jogando, entrevistando, ou mesmo conversando diretamente.

Muhammad Ali, assistindo as lutas memoráveis – como aquela no Zaire, nocauteando George Foreman –, e apenas um contato pessoal, em Curitiba, numa entrevista.

Na minha modesta avaliação, Pelé foi o maior atleta/talento do último século. Muhammad Ali o estadista e atleta maior do século XX.

Ali na Boca-Maldita

Numa manhã de temperatura agradável no mês de abril de 1987, caminhava pela Boca Maldita quando cruzei com um cidadão que era a cara de Muhammad Ali. Parei para ter certeza. “Ué, esse sujeito não é o Cassius Clay?, pensei. E era.

Sem tietagem, sem aglomeração, estava diante de mim a maior lenda do boxe mundial. Já aposentado, Ali esteve em Curitiba para efetuar negócios de sua empresa. Comprou 1.440 carros Puma por US$ 36 milhões. Depois do encontro fortuito, participei da entrevista.

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