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Evento não costuma ser determinante para o PIB dos países-sede

O resultado da economia dos países que recebem a Copa do Mundo é pouco influenciado pelo torneio. Segundo o histórico do PIB das últimas cinco sedes, o crescimento variou de 0,3% a 7,2% no ano em que o campeonato foi realizado.

A própria disparidade entre os resultados sugere que o desempenho da economia nos países-sede depende muito mais de decisões políticas e da conjuntura econômica local do que propriamente da realização do Mundial.

Maior prova disso são as taxas de crescimento do PIB observadas em 2002 nas duas sedes daquela Copa, Coreia do Sul e Japão. Enquanto a economia japonesa andou de lado, crescendo apenas 0,7%, a Coréia do Sul registrou um dos seus maiores crescimentos na década.

"Os dois países vinham em momentos diferentes. A Coreia do Sul estava em uma expansão muito forte por fatores diversos. O Japão vinha de um ano ruim", afirma Silvio Uchoa, economista do Centro de Estudos da Ásia. México, em 1986, e Itália, em 1990, também tiveram pioras na sua economia nos anos em que sediaram o evento.

Alemanha e África do Sul, por sua vez, colheram bons resultados. O país europeu saltou de 0,7% em 2005 para 3,7% no ano da Copa, e a economia sul-africana saiu de uma queda de 1,5% no PIB em 2009 para uma alta de 3,1% em 2010. "Mesmo assim, é muito difícil afirmar categoricamente que foi a Copa que levou a esses resultados", diz Uchoa.

Setores

Turismo comemora, mas indústria e varejo preveem retração

Os 3,6 milhões de turistas, brasileiros e estrangeiros, que se deslocarão para acompanhar a Copa do Mundo são o grande trunfo para o setor de turismo neste ano. Pelo menos é essa a expectativa de redes de hotéis, companhias aéreas e restaurantes.

Segundo o Observatório do Turismo da UFF, a ocupação geral dos hotéis no Brasil deve ter crescimento de 7% ao longo do ano. A rentabilidade deve crescer ainda mas, cerca de 15%.

Bares e restaurantes também devem ganhar mais. Para o responsável pelo Departamento de Turismo da UFF, João Evangelista Monteiro, o gasto médio do turista será maior no período da Copa. "Um estrangeiro que vem ao Brasil gasta na média R$ 170 por dia. Quem virá para a Copa do Mundo pode gastar acima de R$ 300", estima.

Retração

Com feriados nos dias de jogos, alguns setores preveem que será difícil bater os resultados do ano passado. "Vai ser um mês muito mais curto que o normal. Levando em conta o ano inteiro, com eleições também, vai ser muito difícil ter algum crescimento em 2014", afirma Edson Muraro, gerente comercial da rede Auto Shop, que reúne dez revendedoras de veículos.

O relatório da Moody’s segue a mesma linha. Segundo o levantamento, a indústria deve ter os mesmos problemas, em especial na área de mineração, siderurgia e papel e celulose.

US$ 4 bilhões é o valor que a Fifa deve faturar com a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Segundo a entidade, o faturamento – o maior da história da entidade – é fruto dos investimentos que ela fez para o Mundial, de US$ 2 bilhões. A maior parte da receita veio da negociação dos direitos de transmissão: US$ 1,7 bilhão.

A primeira previsão foi de uma movimentação de R$ 182 bilhões. No ano passado, os levantamentos apontavam para R$ 66 bilhões. Em março deste ano, na pesquisa mais atual para medir os impactos da Copa do Mundo na economia brasileira, as cifras ficaram em R$ 25 bilhões.

INFOGRÁFICO: Veja o impacto da Copa do Mundo na economia brasileira

Além de os primeiros estudos terem, claramente, superestimado o potencial econômico do torneio, o cancelamento de vários projetos de mobilidade – que poderiam ter grande "efeito multiplicador" sobre a economia – acabou por reduzir os ganhos do país com o Mundial. O ritmo arrastado das obras que foram mantidas e os protestos contra o uso de dinheiro público também contribuíram para minar o otimismo do empresariado, tornando o cenário ainda menos convidativo para investimentos.

Segundo o levantamento mais recente – e pessimista –, realizado pela agência de classificação de risco Moody's, os ganhos que a economia terá com o fluxo de esperados 3,6 milhões de turistas nos setores de hotelaria, alimentação e serviços serão compensados, de forma negativa, por um menor número de dias trabalhados na indústria e no varejo.

No final das contas, os ganhos serão quase insignificantes: a previsão da Moody's é de que a Copa vai gerar apenas 0,4% de crescimento no PIB em um período de dez anos. Segundo cálculo da agência, os gastos com infraestrutura ligados à Copa representam apenas 0,7% dos investimentos programados para o país no período 2010-2014.

Para o professor de Eco­nomia da Universidade Fede­ral Fluminense (UFF) Silvano Matias, que estuda o impacto econômico de eventos esportivos, as estimativas costumam superestimar o retorno para os países-sede. "Projeta-se sempre o cenário mais otimista, considerando um sucesso total na recepção de estrangeiros e com participação plena da iniciativa privada nos investimentos. No Brasil, já sabemos que pelo menos 80% dos investimentos foram bancados pelo governo, e o sucesso no turismo ainda não está garantido", afirma.

O professor do Instituto de Economia da Unicamp Marcelo Proni também questiona a capilaridade dos projetos. "São apenas 12 cidades que recebem a maioria dos projetos, mas os ganhos poderiam se difundir em muito mais regiões", defende.

Mesmo os projetos programados para as sedes não são tão grandiosos. Segundo Proni, o gasto em infraestrutura para a Copa equivale a só 5% dos investimentos do PAC. "Os empréstimos do BNDES para a reforma dos estádios correspondem a menos de 3% do total emprestado pelo banco todos os anos", completa.

Revisão

Com o andamento dos preparativos para a Copa, o Itaú reviu suas estimativas. Quando estimou que a competição movimentaria R$ 66 bilhões, o banco afirmou que o impacto direto do evento no PIB seria de 1,5%. No fim do ano passado, a expectativa caiu a 1%, com viés de baixa.

Ainda assim, o Itaú vê mais pontos positivos que negativos. "É uma maneira de abrir as portas para negócios que não tinham entrada no país. Independentemente de como foram feitos, investimentos em infraestrutura foram acelerados e portas se abriram com a Copa", avalia o economista Caio Megale, coordenador do estudo.

Faturamento da Fifa será 25% maior

Se para o país o retorno da realização com a Copa do Mundo é bastante questionável, para a Fifa o evento se torna um negócio mais rentável a cada edição.

Segundo dados da própria entidade, a competição brasileira será a mais rentável da história das Copas. Somente com a receita de ingressos, patrocinadores, direitos de transmissão e eventos paralelos, a Fifa vai faturar US$ 4 bilhões – 25% a mais que os US$ 3,2 bilhões contabilizados na África do Sul.

A principal receita vem dos direitos de transmissão: a federação recebeu US$ 1,7 bilhão das emissoras de televisão de todo o mundo. Em segundo lugar vêm os patrocinadores oficiais do torneio – os seis maiores vão pagar US$ 700 milhões para a Fifa somente neste ano.

O anúncio pode custar caro, mas compensa. Patrocinadora do evento há décadas, a Adidas prevê o melhor resultado da sua história, com um aumento de receita de 8% em 2014.

Em seu balanço, a Fifa justifica que o recorde é fruto do maior investimento já feito para um torneio: a entidade diz ter gasto US$ 2 bilhões com o Mundial no Brasil.

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